Pegar a vida nas mãos

O que você sente quando lê esta expressão: “pegar a vida nas mãos”?

Ela pode nos trazer muitas percepções: assumir responsabilidades, decidir-se sem interferências indesejáveis, planejar a vida… O importante é que saibamos que a vida nos foi dada por Deus e é a Ele que deveremos prestar contas dela. Isso é autorresponsabilidade.

Jesus tinha Sua vida nas mãos e manifestou essa realidade, como nos relata o evangelho segundo São João 10, 17-18:

“O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai.”

Podemos pensar que isso era só para Jesus e logo nos fixamos em Sua ressurreição, porém a ressurreição foi o ápice dessa doação, Ele viveu isso também em sua vida cotidiana. Ele é o nosso Mestre e com Ele devemos aprender a viver.

Jesus vivia para o Pai, em favor dos irmãos, consciente de Sua missão e de Sua identidade. Não é esse o nosso chamado, seguí-Lo? Ele não fugiu de Suas responsabilidades e nem delegou a outros o que Ele mesmo precisava fazer pessoalmente. Embora tenha formado a família dos apóstolos, soube delegar a cada um segundo suas capacidades e assumiu a cruz sem cobrar que eles a suportassem em Seu lugar:

“Perguntou-lhes Ele, pela segunda vez: ‘A quem buscais?’ Disseram: ‘A Jesus de Nazaré’ Replicou Jesus: ‘Já vos disse que sou Eu. 

Se é, pois, a Mim que buscais, deixai ir estes.’” Jo,18,7-8

Cristo nos ensina a amar, assumindo cada um sua própria vida, para verdadeiramente sairmos de nós mesmos em favor do real bem do outro. Quando saímos de nossos egoísmos, misérias, dramas, medos, mentiras e ilusões, deixamos que a nossa vida vá ao encontro da vida que há no outro e haja a partilha, doação, amor de verdade. Onde há amor, não há cobrança, ao contrário, há respeito, zelo, mesmo que esse zelo signifique “fazer cordas para expulsar os vendilhões do Templo” (conf Jo2,13-25).

Assumir Cristo como Vida

Muito bem, se somos cristãos, assumimos Cristo como Vida e como modelo de nossas vidas. Ele é a nossa referência. Ao menos era para ser…

O que geralmente acontece é que no dia a dia não prestamos muita atenção a isso. Nos falta muita conscientização e conversão. Podemos viver no automático, acabando por nos conformar com uma vida medíocre e abaixo da dignidade que Deus nos confere. Vivemos nos vitimizando diante das pessoas, das situações e/ou gastando energias para tentar controlar o mundo externo, a vida de outras pessoas, os acontecimentos, e não usamos essa energia para tentar controlar o nosso mundo interno, que é de nossa exclusiva responsabilidade, pois é a partir do autodomínio que conseguimos nos portar como cristãos no mundo.

Autoconhecimento é essencial, mas há de se ter muita cautela em discernir o real motivo pelo qual o estamos buscando. Se o autoconhecimento é uma desculpa para justificar meus dramas, ele não é verdadeiro, pois me levará ao orgulho e poderá solidificar minhas manias, impondo-as ao outro como “minhas verdades” que devem ser engolidas, e será usado também como barreira para me proteger das mudanças necessárias que preciso viver em minha contínua conversão.

O autoconhecimento verdadeiro é gerado na humildade e deve levar a ela. É desejar conhecer nossas sombras para deixar que a Luz de Deus as ilumine, desmascarar mentiras, ilusões, distorções da realidade, ter melhor noção da nossa dignidade como filhos de Deus e de nossos níveis de adesão aos desejos de “sermos deuses sem Deus”, que foi a proposta da antiga serpente à Eva.

A vida é justa?

Qual a sua resposta? Sim, não, depende? Se depende, depende de quê?

É importante adquirirmos o hábito de nos questionar. De irmos mais fundo em nossas respostas. 

Se o não ou o depende é o que vem à cabeça, provavelmente está se considerando uma postura de vítima da vida, o que não é verdade, pois se você acredita nas palavras de Cristo que se apresenta como Caminho e Verdade e Vida, há algo incoerente nessas respostas.  Se Deus é justo, Ele não faz distinção de pessoas, ama a todos, certo? Logo a vida também é assim. Ela nos dá o que buscamos receber.

Nós, querendo ou não, somos protagonistas de nossas vidas e somos livres para decidir, Cristo nos libertou. Se eu decido jogar a responsabilidade de minha vida nas mãos de outras pessoas ou situações, é escolha minha e terei que arcar com as devidas consequências.

Quando reclamamos demais, nos justificamos por tudo, usamos o que estamos passando para tentar controlar o comportamento do outro, alimentamos, mesmo que inconscientemente, doenças e posturas doentias, quando usamos o passado contra o outro ou queremos nos sobressair sempre, nem que seja pelo lado negativo, estamos dizendo com nossas atitudes e pensamentos que Deus é mentiroso, pois a vida não é justa, é parcial, favorece uns e prejudica outros, a verdade é relativa e o caminho sou eu que invento e ainda quero que ele me leve à mesma recompensa dos santos.

A verdade é que Deus é Justo, Bom, Belo e Verdadeiro, Deus é amor! Tudo o que for ao encontro disso vai me levar à sanidade, à santidade, à vida abundante, à alegria. Vai mostrar minhas misérias? Sim, mas também minhas capacidades e dignidade! Tudo o que for em direção contrária, vai me afastar de tudo isso.

Em qual vida estou vivendo? Se estou infeliz, certamente ainda não tomei minha vida nas mãos. Vamos lá! Sejamos pessoas conscientes de que somos os únicos responsáveis por nossas vidas, por multiplicar os talentos que já nos foram dados por Deus, de acordo com nossas capacidades. Tenhamos coragem de nos deixar conduzir pelo Espirito Santo, de verdade e em tudo!

 

Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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