Como diz o Livro do Eclesiastes, capítulo 3, há um tempo para cada coisa, tempo de nascer, plantar, de esperar, de colher etc. Isso é a lei natural que rege o homem. Não podemos viver sem os limites do tempo e do espaço; isso nos foi imposto pelo pecado original, pela decisão do próprio homem, mesmo que imperfeita e induzida.
Desde então, quem tomou as rédeas do tempo foi a morte, a “obra” única que não é de Deus, mas do homem seduzido pelo demônio.
Vivemos em uma época em que somos regidos pelo imediatismo, tudo queremos resolver rapidamente; e com isso nós vamos tendo o tempo como adversário e não aliado. O tempo é implacável; não o ter como aliado é uma temeridade e isso tem amedrontado as pessoas: medo da morte, do envelhecimento, de não “aproveitar” bem a vida… e por aí vai. Como é crescente o desespero das pessoas por conta disso! As pessoas têm medo de se deparar com sua idade verdadeira, fingem ser jovens, jogam seus medos e frustrações para “debaixo do tapete”.
Uma Rainha como exemplo humano
Recentemente tivemos o falecimento da Rainha Elizabeth II, a monarca mais longeva do Reino Unido. Ela é um exemplo de quem soube se aliar ao tempo e não ser adversária dele. Soube agir na paciência, sem imediatismo e teve o tempo por seu aliado. E ele foi generoso com ela, deu as respostas certas no momento certo; ela não precisou atropelar as etapas. Isso porque viveu e reinou muito? Não, mas porque usou de sabedoria diante das adversidades. Eu a vejo como um exemplo humano para nós.
O exemplo da Mãe Igreja
A Igreja, sábia como é, e iluminada pelo Espírito Santo, é outro exemplo de quem sabe se aliar a ele, mas com sabedoria Divina, por isso ela adotou o tempo litúrgico que se atualiza a cada três anos. Ela não é adversária, mas aliada; ela está no mover do tempo, como quem entra no seu movimento e é levada por esse movimento generoso, dinâmico e sábio. E esse movimento vai regendo a sua história, fazendo com que vá se perpetuando a cada dia como Igreja peregrina para um dia chegar a Igreja triunfante.
Esse movimento é belíssimo, é como ir dançando sob uma bela sinfonia; com passos harmoniosos, vai seguindo seu caminho sem nenhum imediatismo, sofre com as demoras do próprio Deus porque confia plenamente n’Aquele que a governa com amor sem igual.
Estamos à beira de iniciar um novo ano litúrgico, o ano A, em que retomamos esse movimento vivendo cada etapa, cada momento, começando pelo Advento e o Natal e seguindo até a Solene Festa de Cristo Rei do universo, o Senhor do tempo. Vivendo bem cada ano litúrgico, estamos envolvidos nessa sabedoria divina que governa a Igreja; e podemos, assim, saborear cada mistério que pode e deve ser trazido para nosso cotidiano.
O sacrifício da Santa Missa
Em cada santa Missa atualizamos o sacrifício de Cristo na Cruz. O mais importante é entender que não é outro sacrifício, nem Jesus Se sacrificando de novo, mas o mesmo sacrifício, de forma incruenta, que se perpetua sobre os altares. Ou seja, nele são rompidos os limites do tempo, pois o mesmo que aconteceu há quase dois mil anos se faz presente. Insisto, não é uma repetição, mas a presença do mesmo e único sacrifício; isso só é possível porque Jesus é o Senhor do tempo que reina sobre os mortais, para que, um dia, entremos definitivamente no tempo sem tempo, na eternidade, no dia sem ocaso, em que viveremos para sempre contemplando a Glória de Deus.
Cristo foi o marco divisor que rompeu o tempo em “antes” e “depois” d’Ele; foi quem desceu à morte que detinha a chave do tempo e a retomou para a humanidade redimida, possibilitando-a reinar com Ele.
Quando submetemos nossa vida ao Senhorio de Cristo, nós nos tornamos aliados do tempo. Quando queremos regê-la por conta própria, nós nos tornamos adversários do tempo.
A sabedoria
Saibamos viver com sabedoria, saborear cada momento da vida, não ser imediatistas, justicialistas nem juízes das situações, pois, como diz a Palavra de Deus: “A sabedoria dá ao sábio mais força do que dez chefes de guerra reunidos numa cidade” (Ecle 7,19).
Viver cada momento de maneira rica, mergulhando no sentido do eterno, do transcendente e saboreando tudo como um bom degustador de alimentos: é a sabedoria de que precisamos. Saibamos sofrer nossas dores para utilizá-las como força, cada derrota como aprendizado, cada perda como um tesouro a ser reencontrado.
Comemoremos nosso aniversário como se fosse único, cada Natal com se fosse o primeiro, cada Páscoa como se estivéssemos junto do Senhor, cada Pentecostes em unidade com a Virgem Maria e toda Igreja de irmãos. E, acima de tudo, saibamos usar do tempo de que dispomos para amar, pois nos diz são João da Cruz: “No ocaso da vida, seremos julgados pelo amor”.
Elias Antonio Breda Gobbi
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator