Não é sinal de reprovação, ausência ou distanciamento por parte de Deus
O silêncio é o modo pelo qual Deus Se revela habitualmente. Tanto que as Escrituras nos convidam a entrar no silêncio se quisermos encontrá-Lo.
É fundamental para o cristão que, a fim manter aquecida a fé, além da vida sacramental, alimente a alma com o silêncio e a oração. É por meio da oração silenciosa que Deus nos fala, santifica-nos, ensina-nos os Seus caminhos e nos mostra a Sua vontade.
“O silêncio de Deus é frequentemente para o homem o ‘lugar’, a possibilidade e a premissa para escutar a Deus, em vez de escutar só a si mesmo.” (Bento XVI, Homilia, 6/2/2008). Logo, sem a voz silenciosa de Deus na oração, a vida humana estaria na superficialidade, reduzida ao diálogo de justificativas e até limitada em sua liberdade.
Se Deus falasse e interviesse continuamente em nossa vida para resolver problemas, nós nos acostumaríamos à Sua presença e a nossa fé ficaria enfraquecida. Desse modo, “o silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a Sua Palavra permaneça em nós, a fim de que o amor por Ele anime a nossa vida.” (Bento XVI, Audiência, 7/3/2012).
Com a oração silenciosa, o homem se liberta da sua autossuficiência para confiar e esperar em Deus diante das dificuldades. Assim, “o silêncio de Deus, o fato de não intervir sempre de um modo imediato para resolver as coisas da forma que gostaríamos, desperta a nossa fé e o dinamismo da liberdade humana. Bem por isso a fé é a força que silenciosamente muda o mundo e o transforma no Reino de Deus e a expressão da fé é a oração. Deus não pode mudar as situações sem a nossa conversão e a verdadeira conversão tem início com o clamor da alma que implora perdão e salvação” (Bento XVI, Homilia, 21/10/2007).
A fé não torna Deus evidente
A pessoa de fé também pode experimentar a aparente ausência de Deus para que Ele possa crescer em sua alma. Então, só assim se entende o sofrimento e as tribulações na vida dos santos e até mesmo as dores de Jesus, na Sua Paixão e Morte na Cruz. Portanto, Deus está continuamente nos preparando para algo grande, para a santidade, para o céu! E não se pode conhecer verdadeiramente o Senhor, viver o céu na terra, sem conversão!
Algumas vezes, pedimos a Deus coisas que não são boas, ou que ainda não estamos preparados para receber, e que podem ser um perigo para a nossa alma. Então, o que faz nosso bom Deus-Pai? Silencia e não nos atende, numa atitude de amor e pura misericórdia para conosco, mesmo que fiquemos magoados com Ele por não nos dar o que nos é prejudicial.
Muita gente pensa que só temos a bênção de Deus na prosperidade, quando tudo vai bem e gozamos a vida. Não é verdade! Somos amados por Deus durante as dores e as provações também e o Seu silêncio não significa reprovação, ausência ou distanciamento da nossa vida.
Na verdade, Deus tem a hora certa de agir e espera o momento em que estamos preparados. Quanto a nós, precisamos crescer na fé e na consciência de que o Senhor é um Deus que nos ama incondicionalmente, é fiel, próximo e presente. Ele merece a nossa obediência aos Seus mandamentos e a nossa oração vigilante, perseverante, humilde e confiante. Deus não demora em atender aos nossos pedidos. Pelo contrário, Ele capricha e nos prepara coisas melhores para nos converter e purificar!
O silêncio de Deus é um presente que deve ser aceito com fé filial e o auxílio do Espírito Santo. Contudo, exige de nós o esforço e a decisão de enfrentar as dificuldades, pois com Ele as noites escuras que temos que passar não se iluminam automaticamente. Logo, nós temos que continuar caminhando, às vezes com medo, mas com fé confiante, pois Deus está conosco a nos conduzir.
Este modo de atuar de Deus – que desperta a decisão e a confiança do homem – pode ser reconhecido pelo modo que realizou a Sua Revelação na história. Podemos pensar na história de Abraão, que deixou sua terra, sua família e partiu como o Senhor lhe tinha dito, confiando apenas na promessa divina, sem saber aonde Deus o levava (cf. Gn. 12,1-4). Ainda assim, mesmo depois de caminhar muitos anos, Ele fez uma aliança eterna com Abraão e multiplicou ao infinito sua descendência (cf. Gn 17,1-27). Com Moisés, falou no silêncio e na aridez do deserto, onde Ele selou a Aliança e cumpriu as Suas promessas (cf. Ex.19 e 20). Naquela jornada de 40 anos, Ele purificou o Seu povo, arrancando-o de toda idolatria para que pudesse desfrutar da Terra Prometida.
A aliança é um pacto de amor, não de simples palavras, que Deus sela com o Seu povo. Também hoje, Ele promete ser o Deus Todo Poderoso, que nunca vai abandoná-lo, antes amá-lo e cuidá-lo como a pupila dos olhos, com fidelidade incondicional. Nessa aliança, nós entramos no nascimento do Espírito pelo Batismo; nela amadurecemos no Espírito pelo Crisma e dela nos alimentamos pela Eucaristia.
Diante da aliança de Deus, resta-nos uma entrega efetiva e concreta da nossa vida. Apesar dos silêncios de Deus continuarem a nos desafiar, a Sua presença amorosa nos oferece sinais autênticos de credibilidade. Diante disto, nós caminhamos na fé e acreditamos que nos ama verdadeiramente e que não nos abandona. Acreditar na Sua Santa Palavra, receber os Seus sacramentos, orar e procurar cumprir a Sua vontade e mandamentos etc. Este é o caminho em que Ele caminha vitorioso pela história, que o Reino de Deus se faz presente no mundo.
Cabe a cada um silenciar para corresponder ao silêncio, à brisa suave do Espírito Santo para que o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, o Deus que chamou Moisés; esse Deus presente, Deus atuante, Deus potente, Deus silencioso, Deus fiel, nos sustente com a Sua graça. Assim, reconheceremos que Ele é o Senhor, único Deus verdadeiro! E, por fim, entendermos que com os Seus silêncios, Deus faz crescer a fé e a esperança dos seus. Torna-os novos e faz com eles novas todas as coisas para recapitular o mundo.
Gabriela da Silva
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
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