Como tibieza não é uma palavra tão presente em nosso vocabulário cotidiano, recorri à ajuda de um dicionário. Como definições, constam:
- Condição ou qualidade de fragilidade, abatimento: tibieza de espírito.
- Ausência de entusiasmo: tibieza de sensibilidade.1
Todos nós, cristãos, que um certo dia tivemos um encontro com Deus e experimentamos o Seu Amor, sabemos o quanto essa experiência é profunda e marcante na vida de uma pessoa. Nada se compara a esse Amor tão intenso e profundo que nos preenche de paz, nos completa e nos conquista. Uma vez conquistados por esse Amor, nos apaixonamos completamente por Deus a ponto de prometer Amá-lO e Segui-lO por toda a vida! Alguns começam a caminhada com Cristo com muita fé e entusiasmo, porém, perdem a força da fé e alguns até abandonam seu caminho depois de algum tempo. Refletiremos um pouco sobre a tibieza na caminhada com Deus e alguns de seus sintomas.
Acostumar-se com o Sagrado
Assim como acontece no começo de um namoro ou de qualquer relacionamento, mesmo com um novo amigo ou uma turma nova, no início da caminhada com Cristo, tudo é muito empolgante, emocionante e “saboroso”. Como é bom mergulhar nesse novo Amor que acabamos de descobrir! Vivemos momentos intensos e provamos de uma felicidade sem igual! Passamos madrugadas em vigílias, participamos de retiros e acampamentos nos lugares mais remotos, e, se possível, vamos a grupos de oração todos os dias da semana… Quantas aventuras com Cristo! Quem não tem uma boa história para contar?!
Por que razão, então, tantos perdem o entusiasmo, o gosto e até a fé? Será que Deus perdeu o sabor, não me ama mais ou fui eu que me perdi? Todo início é muito gostoso e intenso, mas ninguém vive de “apaixonite”, todo amor precisa amadurecer!
Muitas vezes, é aí que entra a tibieza! A fé se enfraquece, ficamos apáticos e insensíveis. Tudo fica sem graça. Corremos o sério risco de nos acostumarmos com o Sagrado. Rezamos, mas como em um monólogo, não nos abrimos para o diálogo com Deus. Vamos à missa todos os domingos, mas só para cumprir o preceito, já não reconhecemos o valor do Santo Sacrifício e nem a beleza da Liturgia. Achamos que conhecemos o andamento de todas as coisas, e, muitas vezes, somos tentados a fazer tudo do nosso jeito e a deixar o Espírito Santo meio de lado, mesmo quando estamos servindo o Senhor. Há até quem acredite que domine e conheça tudo de Deus, sendo que Ele é Infinito e ultrapassa a inteligência humana.
Relativização do pecado
Outro ponto que deve ser colocado em reflexão é a relativização do pecado. Também nesse aspecto, a tibieza pode abater e fragilizar a nossa fé. Muitos de nós, sendo cristãos já “de caminhada”, não cometemos mais pecados escandalosos e nem muito aparentes. Já vivemos há anos dentro da Igreja e sabemos muito bem o que choca. No entanto, com o passar do tempo, podemos cultivar outros tipos de pecados menos “visíveis”, mas não menos graves, tais como o orgulho e o julgamento.
Assim como São Paulo, todos temos o nosso espinho na carne (conf. Cor 2,12-7), que pode ser a tendência a um pecado ou um temperamento específico; o nosso ponto fraco. Porém, não devemos desistir nunca. Não podemos relativizar e nem esconder o nosso pecado de nós mesmos por ser difícil de ser combatido, mas confiantes na graça e na misericórdia de Deus, devemos lutar contra ele com todas as nossas forças até o fim!
“Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.”2
Se você se identifica com essas palavras ou se vive alguma situação de tibieza em sua vida espiritual não permita que ela enfraqueça ou até extinga a sua fé. Levante-se e coloque-se novamente a caminho! Procure um sacerdote, faça uma boa e sincera confissão. Depois busque a Eucaristia – adore e comungue o Santo Corpo de Cristo com amor e fervor. Seja fiel e persistente na sua vida de oração, escute a Deus! Não se prenda tanto às emoções, mas permita que Deus te amadureça na fé! Receba uma nova Efusão no Espírito Santo, abra-se a essa graça e deixe que Ele Se mova dentro de você! Procure um bom diretor espiritual e gaste tempo com leituras espirituais e sobre a vida dos santos.
Deus nos capacita e aposta em nós. Ele nos chama à perfeição e sabe que somos capazes dela, pois, “a perfeição consiste em amar a Deus de todo o coração”.3 E os santos, tão humanos e marcados pelo pecado como nós, provam que ela é possível desde que nos empenhemos em amar a Deus com todo o nosso ser e dar a Ele sempre o nosso melhor.
Que Deus nos abençoe!
Todos os santos, rogai por nós!
Adriane Luz
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
- Dicio – Dicionário Online de Português
- Mt 5,48.
- São Francisco de Sales