Neste mesmo mês do ano passado, escrevi um texto que tinha como título “Deus não tira férias”, e quando me mandaram este tema, o que se intitula como você lê agora, achei curioso, não só pela coincidência – que acredito, que nesse caso, não seja nada mais que a vontade d’Ele –, mas pelo fato de ser algo que deve ser recorrente e sempre novo, para você que lê e para mim.
Porque nessas minhas férias, de 2020, muitos aspectos mudaram em comparação àquele janeiro de 2019. Eu não sou mais a mesma, minhas frustrações, preocupações e descansos não são iguais às de um ano atrás, mas principalmente, a minha relação com Jesus não é a mesma, minha intimidade com Ele pode ter crescido e se aprofundado, ou pode ter esfriado e retrocedido. Mas como Deus é indubitavelmente bom e sempre novo, Ele nos pede para que, nesse momento em que a nossa realidade está mais tranquila, trabalhemos o nosso autoconhecimento e que mergulhemos na reflexão que Ele nos propõe.
Sujeitos da ação
E o que muito me chamou a atenção foi a sintaxe desse título, que é diferente daquela de 2019. Ano passado, havia “Deus não tira férias”, Ele era O sujeito da ação, O agente, era Ele que não nos deixava, não permitia que caíssemos no comodismo, e pelo conforto das férias, não nos esquecêssemos d’Ele. Neste ano, “Não tire férias de Deus”, eu, você, somos os sujeitos da ação. Deus continua a não nos abandonar, mas o apelo é que nós sejamos os agentes dessa relação de intimidade, porque, convencidos de que com Ele nós somos verdadeiramente, somos nós que precisamos levantar do sofá e da série maravilhosa a que estamos assistindo e ir encontrá-Lo.
Eu sei que com as férias vem uma indisposição muito grande para rezar, sentimos que somos merecedores de cada precioso segundo fazendo nada, há uma fusão entre nossos corpos e nossas camas e vem a vaidosa sensação de que pensar em Deus é um imenso favor a Ele, e essa é a mais pura cilada do inimigo. E pela nossa lógica humana, alicerçada no efêmero e no material, há uma superficial sensação de que nos bastamos sem Deus, e com a persuasão do pecado, pela nossa limitação, ficamos convencidos disso. Mas como estamos errados!
Devemos sim descansar, mas tal raciocínio impacta no decorrer de todo o ano. Se sem fazer nada estamos assim, com a desculpa do trabalho, dos estudos, dos conflitos, do namoro, do cuidado com os filhos e amizades, Deus não vai passar de um mero coadjuvante, ou de um resolvedor de conflitos, porque vamos nos lembrar d’Ele apenas nos momentos de dor. E não é errado recorrer a Ele nas angústias, seu amor é misericordioso e imensurável, mas a questão é que Ele não pode estar só nesses momentos. Porque Ele deve ser o nosso descanso basilar, sem Ele podemos até descansar nossa carne, mas jamais o espírito. Sem Deus não somos completos, ainda menos nas férias.
Mas qual seria então a solução? A pequenez! Devemos nos fazer pequenos e ir ao Seu encontro, nos descansar n’Ele, e isso só vai ser possível se não abandonarmos nossa vida de oração, dela nós nunca tiramos férias. Estipule um horário para ler o evangelho, para rezar, fazer adoração. A comunhão também é um forte aliado na manutenção de nossa intimidade, tire pelo menos um dia da semana – além do domingo, claro – para ir à missa, para ter um encontro mais concreto e profundo com Jesus. Além disso, nos refugiarmos na vida dos santos enraíza ainda mais a nossa busca pelo céu, e eles nos garantem ótimos livros e filmes, que além de um entretenimento, alimentam e descansam nossa alma nessas férias.
Ana Clara Gonçalves
Engajada da Comunidade Católica Pantokrator