Não há vitória sem sacrifício

sacrifício

Não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício” (O Senhor dos Anéis, o Retorno do Rei)

Não há vitória sem sacrifício.

Vivemos num tempo da história da humanidade onde algumas palavras e realidades causam grande desconforto e agitação em nossos corações, tais como: sofrimento, dor, envelhecimento, sacrifício e morte.

É comum de imediato fazemos associações negativas e pessimistas com tais palavras: “Deus me livre desse sofrimento!”, “Não, eu não quero sacrificar meu descanso, meus sonhos e meus planos para fazer o outro feliz”, “Não estou envelhecendo, estou amadurecendo”. No entanto, somos convidados e, em certos momentos da vida, convocados, a viver essas realidades humanas mergulhados no sentido e mistério de cada uma delas (sofrimento, sacrifício, dor e morte). Sim, o sofrimento tem seu mistério. A dor tem sua didática. O sacrifício tem sua magnanimidade e redenção.
É necessário olharmos para essas realidades de nossa vida com os olhos de Deus: com os olhos da fé, da oferta, da alegria, da esperança, da misericórdia e da bondade.

Convido você, que está nesse exato momento lendo esse texto, a clamar a graça de Deus para conseguirmos olhar para os desafios e mistérios de nossa vida com os olhos de Deus: “Senhor, dai-nos a graça de viver todas as realidades de nossa vida que se apresentam no nosso cotidiano através do Seu olhar. Que nossos olhos sejam semelhantes aos Vossos: cheios de amor, bondade, fé, misericórdia e esperança!”

Sentido do sacrifício

Sabemos que o Antigo Testamento é a prefiguração e anúncio do Novo Testamento. No Antigo Testamento temos passagens que relatam que o povo de Deus praticava a lei do sacrifício: eram oferecidos animais primogênitos de seus rebanhos que deveriam ser perfeitos e sem manchas para lembrar a todos que, no tempo oportuno de Deus, seria enviado o Primogênito do Pai que Se ofereceria como sacrifício Perfeito por nossos pecados, nos oferecendo a salvação. “Por uma única oblação obteve para sempre a perfeição para os que são santificados.” (Hb 10,14)

O sentido da prática desse tipo de sacrifício era agradar a Deus fazendo uma oferta profética e concreta de fidelidade como resposta à fé que professavam. Com a vinda de Cristo, a prática do sacrifício foi recapitulada e o seu sentido ampliado.

Somos a única criatura de Deus capaz de sacrificar-se por amor, por um objetivo ou bem maior com Cristo, por Cristo e em Cristo; ou seja, para nós é possível continuar fazendo de nossos sacrifícios uma oferta agradável a Deus colhendo os frutos e graças dessa oferta: frutos de conversão e santidade.

Ao longo da nossa vida somos convidados a sacrificar-nos por um bem maior. Existe na essência e coração humanos uma disposição para realizar sacrifícios por amor. Somos capacitados, pela graça de Deus, a sacrificar algo por um objetivo maior ou por um amor maior, desde que encontremos um sentido que nos ajudará a perseverar até o fim.

Quando sacrificamos algo que nos é caro, como, por exemplo, nosso tempo, nossas vontades, nossos sonhos, nosso descanso… o que nos impulsiona a perseverar nessa doação é o sentido do sacrifício que pode ser vivido como oferta.

Qual mãe não sacrifica horas de sono para cuidar do filho pequeno, motivada pelo amor que sente pelo filho? Qual pai não sacrifica horas de sua vida trabalhando para prover o sustento de sua família, por amor à sua esposa e filhos? Qual pessoa não sacrifica, quando necessário, o gosto por doces e carboidratos, objetivando cuidar da saúde? Qual pessoa não passou pela experiência do sacrifício de esperar a cura de uma enfermidade? Ou a realização de um sonho? Quem nunca passou pelo sacrifício de uma humilhação ou injustiça?  Todo sacrifício, independentemente da sua natureza, grandeza e duração precisa nos aproximar de Deus. O sacrifício, quando vivido de forma saudável, consciente, na paz e na oferta, nos aproxima de Deus. Cremos num Deus amoroso, justo e providente. Cristo, nosso Senhor, recapitulou o sentido de todo sacrifício. Cristo, o Cordeiro Santo, dignificou o sacrifício quando se doou na Cruz elevando-o ao patamar de salvação; ao morrer na Cruz, criou o sacrifício meritório. Creio piamente que todo sacrifício vivido dentro da vontade de Deus, salva, cura e liberta!

Para, de fato, vivermos a dimensão do sacrifício, é necessário que ele seja fruto de uma disposição interior sincera. Cada um é livre para acolher ou não a vivência de um sacrifício. Trata-se de um gesto gratuito do coração humano que tem o seu valor na doação de algo sem nada esperar em troca. Sacrifício não é pena e nem uma barganha. É algo a ser escolhido e acolhido na sinceridade, na gratuidade e na dependência da graça de Deus. Sim, precisamos das graças de Deus para conseguir acolher e ter constância na vivência dos sacrifícios da vida cotidiana.

Sacrifício: oferta amorosa

Todo sacrifício pode ser encarado como uma oferta amorosa. Sacrifico-me porque amo. O amor nos impulsiona a abrir mão de nossos apegos. Se toda renúncia não for sustentada pelo amor, torna-se fardo e oportunidade de murmuração.

Temos a liberdade de acolhê-los ou não. Somos a única criatura de Deus que consegue sacrificar-se por amor!

Todo sacrifício tem seus frutos. Esconde uma vitória. Não há vitória sem esforço, sem luta, sem sacrifício. O sacrificar-se pode gerar variados frutos: amadurecimento, santidade, humildade, mansidão, desapego, resiliência, constância, fé, esperança e até mesmo amor.

É nato da essência humana dar mais valor às conquistas que demandaram luta e esforço. O esforço e o lutar enobrecem a ação porque dentro das nossas limitações humanas aprendemos melhor experimentando na pele as situações.

Particularmente, diante de todo sacrificar-se que se apresenta na minha vida, entro em discernimento da vontade de Deus buscando compreender o mistério no qual Deus deseja inserir-me tentando identificar os passos necessários para tal vivência, assim como os frutos que Deus tem reservado para minha vida através da situação. São as famosas perguntas necessárias que podemos fazer a Deus: “Senhor, o que queres de mim nessa situação?”, “O que quer me ensinar, Senhor?”, “Como devo agir diante dessa situação?”.

Tudo o que Deus nos apresenta tem um fundo pedagógico, um ensinamento, uma missão. É vital entendermos que tudo nessa vida terrena exige dedicação, esforço, empenho, perseverança, luta e suor. Em qualquer nível de amadurecimento: humano, psicológico ou espiritual. Tudo é ascese! Se aprendermos a viver tudo dentro da graça e desígnios de Deus, tanto a vitória quanto os frutos serão garantidos. A grande beleza disso tudo é que os frutos nunca são somente de cunho pessoal. Os frutos e graças que alcançamos com nossos sacrifícios diários são coletivos, comunitários. Abarca nossa vida, a de nossos familiares e das nossas pessoas queridas e amadas. E, algumas vezes, alcançam pessoas e situações que nem ousamos imaginar. Tudo vivido na oferta a Deus, para completar o que falta à Cruz de nosso Senhor, Jesus Cristo, é recapitulador e ganha um sentido e desígnio divinos. Sendo Deus tão misericordioso, Ele distribuirá as ofertas e graças da maneira que desejar.

Que o sacrifício nos leve à transfiguração, santidade e salvação. Que nunca faltem amor e docilidade em nossos sacrifícios cotidianos ao longo de nossas vidas! Sempre para honra e glória de Deus!

Para encerrarmos essa reflexão, te convido a fazer essa oração junto comigo: “Meu Senhor e meu Deus, tira-nos tudo o que nos afasta de Vós. Dai-nos tudo o que nos aproxima da Sua vontade e desígnios. Desprendei-nos de nós mesmos para que possamos ter a coragem de viver cada sacrifício, seja ele pequeno ou grande, com sabedoria, fé e espírito de oferta. Que o Espírito Santo mova nossos corações a acolhermos os sacrifícios da vida cotidiana motivados com o verdadeiro sentido cristão, vivendo tudo na oferta e paz!”

Santa Teresinha do Menino Jesus, rogai por nós
São Maximiliano Kolbe, rogai por nós.

Marcia Maria Tognetti Correa
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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