Neste mês celebramos Santa Teresa de Jesus, doutora da Igreja e, por este bom motivo, trago uma breve reflexão a respeito de uma de suas poesias que ganhou muito destaque, porém, que a cada dia se torna mais desafiante.
I
Nada te perturbe, Nada te espante,
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem, Nada lhe falta:
Só Deus basta.
O objetivo aqui é paramos um instante para refletirmos em que essas palavras tocam nossa vida, nosso dia a dia, e não aprofundarmos teologicamente em cada verso, pois isso renderia dias de retiro pessoal e um conhecimento mais apurado, também não pretendo dar soluções, em cada um Deus tocará de uma forma, mas partilhar aquilo que me vem ao coração.
Vivemos numa sociedade ansiosa, imediatista, exigente, dramática, doente, desequilibrada, instintiva e deformada, mimada. Mimada por não saber mais sofrer. Quem não sabe sofrer não tem paciência.
Já no primeiro verso, vivemos de forma invertida: tudo nos perturba, tudo nos espanta. Se fomos avançar, parece que nada passa, ficamos anos lidando com problemas muitas vezes esperando uma solução mágica que nunca acontece, e Deus parece ter ficado no passado, não agindo mais como antes. O pensamento de ter paciência acaba por gerar ainda mais ansiedade e vivemos angustiados tentando resolver tudo com nossas próprias mãos.
Parece que interpretamos mal os dois últimos versos. Como se “ter” a Deus fosse simplesmente acreditar em Deus, por isso tudo falta, pois o deus que se acredita não é o Deus que basta.
Resultado: Já na primeira estrofe os “conselhos de Teresa” parecem absurdos e ultrapassados, porém, talvez nunca foram tão atuais e necessários!
Qual o deus que acredito? Qual deus eu tenho seguido? Com letra maiúscula ou minúscula? Eu creio no Deus que basta, que não muda porque é perfeito, que fez uma aliança comigo e por isso nada pode me faltar? Creio no Deus que pode fazer milagres em minha vida? Ou ando acreditando naquilo que minha mente criou ou permitiu que se criasse dentro dela?
Acredito no deus que eu criei ou no Deus que me criou? Acredito que as ações divinas devem obedecer ou se encaixar em meus pensamentos limitados e manipulo as palavras das Escrituras Sagradas conforme minha interpretação pessoal, para servirem ou colaborarem ao que me convém? Penso que a Igreja deve se ajustar à minha realidade? Penso que meu deus deve me atender em todas as minhas necessidades conforme eu quero e defino?
Talvez eu não pense conscientemente em nada disso e acredite no Deus verdadeiro, mas… como tenho vivido? Conforme eu creio? Quais têm sido minhas reações mediante as contrariedades da vida? Diante dos desafios? Sou paciente nas adversidades? Tenho firme convicção de que Deus é vivo, presente, atuante e vitorioso em minha vida? Ou só na vida dos outros, ou ainda pior, nem na vida dos outros?…
Eu creio na verdade dessa primeira estrofe? Em sua totalidade ou parcial? Consultemos nossos corações e respondamos com toda sinceridade a Deus, que inspirou a Teresa essas palavras.
II
Eleva o pensamento, Ao céu sobe,
Por nada te angusties, Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, Com grande entrega,
E, venha o que vier, Nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
Nada tem de estável, Tudo passa.
Se a primeira estrofe já rende um bom exame de consciência, ainda mais nos desafia a explicação nessa segunda! Porém quem as escreveu, viveu cada verso na prática, no dia a dia, por isso hoje possui a felicidade eterna.
“Eleva o pensamento”. Onde está nosso pensamento? “Por nada te angusties”. Sério?! “Nada te perturbe”, “Nada te espante”. Insiste Santa Teresa pela segunda vez! Mas, como conseguir essa paz interior? Ela responde: “A Jesus Cristo segue com grande entrega”! “E venha o que vier”.
“A Jesus Cristo segue, com GRANDE entrega”, seguir a Cristo de verdade! Apostando a vida Nele. Não é Ele quem deve me seguir, não é Ele que precisa concordar comigo. Eu rezo para viver a vontade de Deus e não o contrário. A glória do mundo é vã e vai passar, nos diz Sta. Teresa. E o que ficará?
Nos deixamos adoecer por ideias envenenadas que nos estão matando aos poucos, por isso nos perturbamos, espantamos, enganamos. Corremos o dia todo sem saber ao certo para onde vamos. Vivemos de ilusões e nos espantamos com a Verdade. Ah! Que o Espírito Santo venha ordenar nosso caos! Venha nos revelar nossa verdade, para que aproveitemos o tempo de Sua misericórdia e nos convertamos!
III
Deseje às coisas celestes, Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, Bondade Imensa;
Quem a Deus tem, Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta.
SÓ DEUS BASTA!
(Sta. Teresa de Jesus)
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator