Esta breve reflexão sobre os filhos está baseada em minhas próprias experiências, sem pretensão de rotular ou receitar comportamentos. Apresento-a como um testemunho. O que você fará com ela será de sua escolha, de minha parte espero contribuir positivamente.
Sou uma pessoa otimista, vejo a vida com esperança. Sendo assim, ver meus filhos crescendo não é para mim um problema, mas uma mudança de desafios.
Sou mãe de quatro filhos, três na terra e um no céu. Duas meninas, vinte e vinte e três anos, e um menino de quatorze.
A sensação que tenho é de que os desafios de cuidar dos primeiros anos da vida são mais fáceis do que lidar com a adolescência e a juventude. Acredito que é bem mais tranquilo trocar uma fralda do que lidar com bullying na escola, por exemplo.
Salvo essa comparação desproporcional, acredito ser importante ressaltar que a fase mais marcante na vida de uma pessoa se encontra entre o ventre materno e a primeira infância. É uma fase desafiadora, pois não temos controle algum de como nossos filhos irão entender a vida sem filtros, sem analisar contextos, muito mais pela sensibilidade, sensações e emoções, do que pela razão.
Portanto não é só “trocar fraldas”! Estamos diante da formação de uma pessoa que, por mais que amemos, não podemos controlar como elas sentem nosso amor, como se sentem ou não amadas.
O crescimento dos filhos pode nos trazer a sensação de uma “prova de nossa educação”. Se educamos direitinho, serão filhos bons e obedientes, amáveis, encontrarão amigos verdadeiros, terão ótimas notas na escola, empregos consequentemente excelentes, uma vida feliz, emocionalmente equilibrada, psicologicamente saudável, maduros em seus relacionamentos, em especial com Deus, que amará sobre todas as coisas e pessoas. Observe, por exemplo, a equação abaixo:
2+2+x=?
Poderíamos tentar resolvê-la matematicamente, certo? Porém, experimentei que, na educação de nossos filhos, a matemática não funciona como pensamos. Dois mais dois pode não dar quatro, pois há nessa equação um “x” que pode mudar o resultado final e esse “x” é a liberdade do filho em questão.
Na matemática, essa equação não pode ser resolvida, pois precisaríamos de mais um elemento, bem como na vida, mas insistimos que o resultado deve ser o que esperamos, como se só dependesse de nós ou dos números que temos.
O que então irá “garantir um bom resultado” na vida dos nossos filhos? Qual nossa real parcela de contribuição? A resposta é: DEUS!
Só Deus vai dar ao nosso coração a segurança de que nossos filhos serão felizes. Só Deus enxerga todos os elementos dessa equação e pode solucioná-la.
De nossa parte, temos que fazer “o que deve ser feito” e confiar em Deus. A meu ver, não há outra maneira de pacificar nosso coração, ainda mais diante de um mundo tão deformado como o atual.
Fazer o que deve ser feito – a nossa parte.
Ouvi esse conselho num documentário sobre São José, de um pai de onze filhos, se não me engano. Ele dizia que o inimigo odeia quem faz o que deve ser feito, pois não dá brecha para que ele aja. Contando sobre sua experiência, ele coloca que, por muitas vezes, teve de renunciar às propostas de hora extra, muito lícitas, justificáveis e até inquestionáveis para sua realidade, para ser pai, para chegar em casa e ter tempo com seus filhos, o que era para ele mais desafiador do que aceitar trabalhar até mais tarde e chegar em casa depois que seus filhos estivessem dormindo.
Quantas vezes acabamos nos deixando envolver pelas facilidades e deixamos de lado a atenção ao essencial? Quantas vezes nos deixamos distrair por tantas coisas, nos dedicamos a tantos afazeres importantes em detrimento ao essencial? O problema aqui não são os afazeres, mas nossa postura diante deles e diante nossa missão essencial como pais.
Se fazemos bem o que devemos fazer (nossos deveres de estado), entregamos as sementes nas mãos de Deus que, a Seu tempo, a fará frutificar.
“O melhor possível”
Lema no escotismo, conselho para a vida! Deus sabe o que podemos dar em cada fase de nossas vidas, Ele é justo e misericordioso. Porém, Ele também sabe que, muitas vezes, esperamos colher frutos que não plantamos ou contemplá-los antes do tempo.
Fiz essa reflexão algumas vezes durante a adolescência e juventude de minhas filhas, entre muitos desafios difíceis e dolorosos, onde parecia estar colhendo o que não havia plantado e Deus veio em meu socorro dizendo que “ainda não era tempo da colheita”.
A Seu tempo, no tempo de Deus, eu vi a sementinha despontar na terra e crescer toda verdinha e cheia de vida.
O crescimento dos nossos filhos é um bem. Ao mesmo tempo que nos confronta, nos coloca em nosso lugar. Devemos respeitar a ordem que Deus criou e louvar cada fase. Cada uma delas tem o que precisamos viver, o que escolhemos viver, um aprendizado sobre o amor.
À medida em que nossos filhos vão crescendo, vão carregando as sementes que plantamos e decidindo sobre elas. À medida em que se tornam adultos, vão tomando posse de suas próprias vidas e nós vamos nos tornando “desnecessários”, para que o vínculo de unidade entre nós seja o amor, livre e sincero, e não mais necessidades, sejam elas financeiras ou afetivas.
Que eles dependam só de Deus, porque na verdade, conforme nos ensina Sta. Tereza: “tudo passa e só Deus basta!”¹
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
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¹ Nada te perturbe, Nada te espante,
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem, Nada lhe falta:
Só Deus basta.
Eleva o pensamento, Ao céu sobe,
Por nada te angusties, Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, Com grande entrega,
E, venha o que vier, Nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
Nada tem de estável, Tudo passa.
Deseje às coisas celestes, Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, Bondade Imensa;
Quem a Deus tem, Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta.
SÓ DEUS BASTA!