“Meu corpo, minhas regras”, como muitos de nós sabemos, é uma campanha com bases feministas, lançada com o objetivo de estimular as mulheres a buscar a autonomia de seus atos, a “libertação das imposições feitas pela sociedade patriarcal e capitalista”, que as oprime, ditando como cada mulher deve se comportar, ser fisicamente ou sentir, como ensinam os idealizadores.
Faz sentido, realmente, cada qual ter suas próprias regras? Nossos corpos nos pertencem efetivamente, para impormos sobre eles o que bem entendermos?
Apesar de este slogan – “meu corpo, minhas regras” – ser relativamente novo e direcionado para o público feminino, é possível ler na história que já há muito tempo tal ideia faz parte da humanidade. Acredite, podemos perceber essa ideologia no jardim do Éden, no diálogo de Eva com a serpente. Vejamos:
“A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher: É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?” A mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.” “Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3,1-5).
Ao colocar o homem no jardim para cultivá-lo e guardá-lo, Deus havia dado uma ordem (regra) a Adão: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente” (Gn 2,16-17).
A regra dada por Deus tinha a finalidade de preservar o homem do mal, da morte.
Sabemos que, ao escolher seguir suas próprias regras, o homem e a mulher experimentaram em seus corpos o pecado e,, com ele, romperam a comunhão com Deus, a comunhão que tinham entre si, além de todos os outros desdobramentos do pecado conhecidos por nós.
As regras são necessárias para manter a ordem e a harmonia entre os homens, uma vez que, marcados pelo pecado, não somos capazes de escolher o bem, pois trazemos em nós marcas egoístas e tendemos a pensar somente em nós mesmos. Feridos em nossos corpos pelo pecado original, somos inclinados a escolher o mal pensando ser ele um bem, na busca de satisfazer nossos instintos egoístas (cf. Gl 5,16-17).
É necessário que haja regras que direcionem nossas vidas, a fim de que busquemos não o bem próprio, mas o bem comum. Não podemos criar regras que favoreçam nossos corpos enquanto ferem os corpos e a liberdade de outros. Para nós, cristãos, isso fere gravemente a caridade que somos chamados a viver.
Diante disso, onde está a coerência de uma mulher que opta por um aborto para preservar seu corpo e mata o corpo de um ser indefeso que é gerado em seu ventre?
Membros do Corpo de Cristo
Além de termos a necessidade de regras, se somos batizados, lembremo-nos de que nossos corpos não nos pertencem desde o dia em que fomos enxertados no Corpo de Cristo pelo Sacramento do Batismo. “Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo?” (1Cor 6,15).
Se nossos corpos são membros de Cristo, o que vale é a regra de Cristo.
A grande verdade é que não temos corpos que nos pertencem. Sendo assim, ainda que queiramos, não cabe a nós criar regras para algo que não é nosso.
“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (1Cor 6,19-20).
Fomos comprados pelo Preciosíssimo Sangue de Cristo derramado na Cruz (cf. 1Pd 1,18-20) e devemos glorificar a Deus em nossos corpos. De que forma? Vivendo o maior mandamento da lei de Deus, como nos ensinou nosso Senhor: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18)” (Mt 22,37-39).
Deus coloca diante de nós a vida e a morte, dando-nos a possibilidade de escolha daquilo que queremos para nossos corpos:
“Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal. Mando-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes em seus caminhos, observes seus mandamentos, suas leis e seus preceitos, para que vivas e te multipliques, e que o Senhor, teu Deus, te abençoe na terra em que vais entrar para possuí-la. Se, porém, o teu coração se afastar, se não obedeceres e se te deixares seduzir para te prostrares diante de outros deuses e adorá-los, eu te declaro neste dia: perecereis seguramente e não prolongareis os vossos dias na terra em que ides entrar para possuí-la, ao passar o Jordão. Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a tua vida e a longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais” (Dt 30,15-20).
Confiemos em Deus, que é o Sumo Bem. Escolhamos seguir Seus mandamentos; escolhamos a vida, e com toda a Santa Igreja, Corpo de Cristo, exclamemos: Que em meu corpo, enxertado em Cristo, reine a lei do amor!
Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator