O Senhor mais uma vez movimenta a família Pantokrator a edificar “a casa do Senhor”. Estamos em reforma de nossa Sede e, através dela, de nossos corações. Isso não é mera analogia, acontece de fato. Para isso, será necessário, mais um vez, como por ocasião da compra da Sede, uma Campanha de Arrecadação de Fundos. E isso, ao contrário de ser um problema, é uma benção, porque, através dela, temos a oportunidade de fazer um gesto concreto para entrar nesse movimento de reforma. Esse gesto é entregar a Deus o órgão mais sensível do nosso corpo: o bolso.
A Igreja sempre viu na generosidade financeira dos fiéis uma oportunidade de conversão, um gesto concreto de entrega a Deus. Tanto assim que, em algumas ocasiões, concedeu indulgência aos fiéis que ajudaram nas obras da Igreja, especialmente na construção de templos. Mas, quando se trata de dinheiro, toca-se no “deus” de muitas pessoas; e mexer nesse deus é sacrilégio. Daí surgem discursos invertidos, fazendo parecer que esse tipo de atitude é avareza da Igreja¹. No entanto, se alguém quer saber se um povo é temente a Deus, se O ama de verdade, olhe seus templos. O templo, o espaço onde a pessoa cultua a Deus, é o pedaço do céu para aquela pessoa. Investir no templo sua dedicação, seu tempo e seu dinheiro é investir no próprio céu.
Desde a antiga Aliança, o verdadeiro amor a Deus leva o justo a edificar a “casa do Senhor”. Davi sonhou edificar o templo (cf. 2Sm 7,1-29); Salomão é quem teve essa alegria (cf. 1Rs 5-7). Depois que ele foi destruído por invasões estrangeiras, o povo que volta do exílio da Babilônia, distraído na sua impiedade, tarda a reconstruir o templo. O Senhor exorta pela boca do profeta Ageu:
“Eis o que diz o Senhor dos exércitos: este povo diz: não é ainda chegado o momento de reconstruir a casa do Senhor”. E a Palavra do Senhor foi transmitida pelo profeta Ageu: “É então o momento de habitardes em casas confortáveis, estando esta casa em ruínas? Eis o que declara o Senhor dos exércitos: considerai o que fazeis! Semeais muito e recolheis pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco roto! Assim fala o Senhor dos exércitos: refleti no que fazeis! Subi à montanha, trazei madeira e reconstruí a minha casa; ela me será agradável e nela serei glorificado, – oráculo do Senhor. Esperastes uma abundante colheita e esta foi magra; dissipei com um sopro o que queríeis armazenar. Por quê? – oráculo do Senhor. Porque minha casa está em ruínas, enquanto cada um de vós só tem cuidado da sua. Por isso, o céu negou o seu orvalho e a terra, os seus frutos” (Ag 1,2-10).
A casa do Senhor, o templo feito de pedra, é sustentada pelas mãos de quem é habitado por Deus. Se Deus não habita em mim, por que despojarei meus bens, meu tempo em favor da Sua casa? Ao contrário, darei todos os bens somente em favor da minha casa, residência, paredes onde se circunscreve minha moradia. É por isso que Deus exorta o povo: “É então o momento de habitardes em casas confortáveis, estando esta casa em ruínas?” Deixar a própria casa (residência) arrumada, bela, deixando a de Deus em ruínas é deixar o coração, a casa da alma, vazia de Deus. Portanto, reformar a casa do Senhor é reformar o coração para que nele Deus habite. Uma coisa necessariamente conduz à outra. Sem, Deus, resta a desgraça: “Semeais muito e recolheis pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco roto!”
Nós, porém, família Pantokrator, nos lançamos à obra! E o Senhor nos diz: “Mãos à obra! Eu estou convosco!” (Ag 2,4).
Amém, assim seja! Então, façamos o que o Senhor pede: “subi à montanha, trazei madeira e reconstruí a minha casa; ela me será agradável e nela serei glorificado”. Que nesse tempo de Reforma saibamos subir às montanhas de Deus nas nossas vidas, lugar de conhecimento de Deus e conversão, para que saibamos entregar a Ele nossas madeiras, os lenhos de cruz onde ofertamos tudo que temos para glorificar o Senhor.
(1). Ao falar de indulgências concedidas para os que doam valores em favor da construção do templo, logo se lembra do episódio das 95 teses de Lutero, de 1517, que foi a centelha da reforma protestante. Lutero acusa a Igreja de fazer comércio com as coisas santas, em favor da construção da Basílica de São Pedro. A história tem feito uma leitura crítica e avarenta desse episódio. Por um lado, o linguajar indevido dos pregadores acerca da indulgência e a vida faustosa de muitos prelados favoreceu uma leitura bem negativa dessa prática. No entanto, a Igreja naquele tempo apenas seguia a Palavra de Deus e a tradição, dando ao povo uma oportunidade de ser generoso com a casa de Deus e, assim, receber d’Ele graças de salvação.
André Luis Botelho de Andrade
Fundador e Moderador Comunidade Pantokrator