Magnanimidade: a virtude dos santos

Corações inquietos, ansiosos por mais, repletos de sonhos imensos… essas características sempre acompanharam aqueles que, um dia, se encontraram com o apelo de santidade que o Senhor faz a todos os seus filhos através do batismo. Magnanimidade é o nome desse ardor capaz de consumir muitos corações na busca das coisas do alto. Palavra difícil, que às vezes pode soar até como um trava-línguas, mas essencial para compreendermos o que é que nos falta e que havia naqueles que, assim como nós, fizeram uma escolha pela santidade. 

Magnanimidade, segundo o dicionário, é a virtude de alguém que é generoso. Acredito essa ser uma definição muito limitada de um coração verdadeiramente magnânimo, pois ele vai além da generosidade com o próximo, como comumente a conhecemos. Um coração magnânimo é o coração de alguém que é generoso em todas as ocupações que se apresentam em sua vida. Generoso no perdão, generoso no serviço, generoso na alegria, generoso na dedicação, generoso no trabalho, generoso na disposição. Um coração incapaz de se contentar com pouco. Segundo Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, o magnânimo é aquele que se lança em direção às coisas grandes e se afasta de tudo aquilo que é medíocre e mesquinho.

Caminhando junto com a virtude da fortaleza, a magnanimidade é a força de um coração que está inquieto para ser sempre melhor, que só se atrai pelas coisas grandes e honrosas. Todo mundo conhece aquela pessoa sonhadora, que toma iniciativas e se doa até o fim pela sua vida profissional, acadêmica, familiar ou até mesmo apostólica. Muitas vezes, tendemos a confundi-los com pessoas soberbas, com a alma cheia de riquezas. Todavia, desejar crescer no trabalho, conquistar coisas valiosas, alcançar metas, realizar sonhos… nada disso é algo ruim. Muito pelo contrário! Essa disposição é um reflexo de um desejo pela maior coisa que se é possível para um coração humano almejar: o Céu.

Que virtude seria essa, senão a virtude que move o coração de todos os santos? A magnanimidade está presente na história de cada um daqueles que abandonaram tudo, sem reservas, para conquistar o Reino. E ela se expressa não somente numa radicalidade de doar-se para a Igreja, mas em todas as suas ocupações humanas almejar ser grande, pois assim nos ensinou São Paulo em sua carta aos Colossenses: “Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Col 3, 17).

Se tudo que somos chamados a viver na Terra somos impelidos a fazer para honrar o Senhor, então que façamos da melhor forma, porque Ele não merece menos que nosso tudo. Muitas pessoas na Igreja acabam tendo o receio de assumir que desejam coisas grandes, como crescer profissionalmente ou assumir posições de destaque, com receio de que de algum modo isso transpareça como falta de humildade. Isso é um grande equívoco. Na verdade, a humildade e a magnanimidade caminham lado a lado, como verdadeiras chaves da santidade.

Santa Teresinha do Menino Jesus, a própria mestra da pequenez, do amor nas pequenas coisas e da humildade, tinha um dos corações mais magnânimos dos nossos tempos.

“Ser tua esposa, ó Jesus; ser carmelita; ser, pela minha união a Ti, a mãe das almas, deveria ser-me suficiente… mas não é… Sem dúvida, esses três privilégios formam minha vocação: carmelita. esposa e mãe. Todavia, sinto em mim outras vocações, a de Guerreiro, a de Sacerdote, a de Apóstolo. a de Doutor, a de Mártir, enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar, para Ti, Jesus, as mais heroicas obras… Sinto na minha alma a coragem de um cruzado, de um zuavo pontifício. Queria morrer num campo de batalha pela defesa da Igreja… 

Sinto em mim a vocação de Sacerdote. Com que amor, ó Jesus, levarte-ia em minhas mãos quando, pela minha voz, descesses do Céu… Com que amor eu Te daria às almas!… Mas ai! embora desejando ser sacerdote, admiro e tenho inveja da humildade de são Francisco de Assis e sinto em mim a vocação de imitá-lo, recusando a sublime dignidade do Sacerdócio. Ó Jesus! meu amor, minha vida… como conciliar esses contrastes? Como realizar os desejos da minha pobre alminha?… Ah! apesar da minha pequenez, queria iluminar as almas como os profetas, os doutores. Tenho a vocação de apóstolo… Gostaria de correr a terra, propagar teu nome e fincar tua Cruz gloriosa no solo infiel. Ó meu amor, uma missão só não seria suficiente. Gostaria também de pregar o Evangelho nas cinco partes do mundo, até nas mais longínquas ilhas… Queria ser missionária, não só durante alguns anos, mas gostaria que fosse desde a criação do mundo e até o final dos séculos… Mas, sobretudo, meu Bem-Amado Salvador, quero derramar meu sangue para Ti até a última gota… O martírio, eis o sonho da minha juventude. Esse sonho cresceu comigo no claustro do Carmelo… Mas, ainda aí, sinto que meu sonho é uma loucura, pois não conseguiria satisfazer-me com uma forma de martírio… Para satisfazer-me, preciso de todas… Como Tu, esposo adorado, queria ser flagelada e crucificada… Queria morrer despojada como são Bartolomeu… Como são João, queria ser mergulhada no óleo fervente, queria sofrer todos os suplícios infligidos aos mártires… A exemplo de santa Inês e santa Cecília, gostaria de oferecer meu pescoço ao gládio e, como Joana d’Arc, minha irmã querida, queria murmurar teu nome na fogueira, ó Jesus… Ao pensar nos tormentos reservados aos cristãos no tempo do Anticristo, sinto meu coração estremecer e queria que esses sofrimentos me fossem reservados… Jesus, Jesus, se eu pudesse escrever todos os meus desejos, teria de pedir que me emprestasses teu livro de vida, aí estão relatadas as ações de todos os santos e essas ações, gostaria de tê-las realizado por Ti… Ó meu Jesus! o que vais responder a todas essas loucuras?… Há alma menor, mais impotente que a minha?… Porém, por causa da minha fraqueza, achaste prazer, Senhor, em atender aos meus pequenos desejos infantis e queres, hoje, realizar outros desejos, maiores que o universo…” (História de uma Alma, Manuscrito B).

Humildade e magnanimidade

A magnanimidade é uma virtude que motiva o homem a buscar a perfeição de todas as outras virtudes, principalmente a humildade. Embora muitos santos tenham adotado na história a humilhação voluntária como exercício de rebaixar-se, ser humilde não consiste em ser estagnado, infértil, com ausência de desejos e baixa autoestima. A humildade, em sua mais perfeita definição, consiste em olhar para si mesmo com o olhar da Verdade.

Santa Teresinha nos mostra que através do reconhecimento de sua pequenez, ela era capaz de viver a magnanimidade de sua vocação de maneira autêntica. Sabia que pouco tinha para dar, mas ansiava por dar muito. É nesse momento que entra a Graça Divina, e a descoberta do verdadeiro significado do poder de Deus que eleva, sustenta e conduz todas as coisas. A pobreza espiritual de Teresinha não a impediu de ser uma autêntica missionária, pelo contrário, foi através de sua pobreza que se concretizou a sua vocação.

Seu coração humilde a permitiu viver o ordinário de maneira extraordinária, e assim também deve ser em nossas vidas. Como filhos de Deus, o Senhor nos chama para a sua Grandeza. O Senhor deseja que seus filhos tenham uma vida próspera e santa. Atraídos por sua Realeza, a magnanimidade alimenta a grandeza de alma, que impede o homem de parar diante obstáculos e dificuldades e o coloca em movimento por algo que tenha valor. Mas tudo isso somente se concretiza na pobreza, no reconhecimento da verdade sobre cada um e no alicerce de nossa confiança em Cristo. Assim, todas as nossas ações adquirem uma eficácia sobrenatural.

A magnanimidade e a humildade combatem aquilo que é chamado de pusilanimidade. A pusilanimidade é a indisposição de ir atrás de coisas grandes, deixando o espírito acomodado, sem ambições, escondido e inerte. Como um espírito que se contenta com pouco pode correr atrás do Céu? “Não deixeis que a vossa alma e o vosso ânimo se encolham, porque poderão perder-se muitos bens… Não deixeis que a vossa alma se esconda num canto, porque, ao invés de caminhar para a santidade, terá muitas outras imperfeições mais” nos ensina Santa Teresa D’Ávila (Caminho de Perfeição, 72, 1).

Para buscar o Céu, é necessário que nossos corações sejam tomados por essa chama ardente que se estende para todos os ofícios de nossas vidas. Assim como Santa Teresinha, nossa pequenez precisa ser canal de atração para a Grandeza de Deus, e assim vivermos vocações santas e autênticas dando tudo de si seja no trabalho, nos estudos, em casa ou em qualquer lugar. Cultivar a virtude de possuir um coração magnânimo também é cultivar um coração que não se deixa abalar pelos desafios do dia a dia e pelas provações que aparecem. Assim como proclamou Nosso Senhor Jesus Cristo: “Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais.” (Mc 4, 25). Que nossa medida seja do tamanho da Dele, para assim podermos entrar em seu Reino e partilhar do seu Banquete Eterno. Amém!

Giovana Cardoso
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator

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