“Você é corajosa!” Essa é a expressão que mais ouço quando alguém constata que sou mãe de 4 filhos. Sim, quatro crianças! Não deveria ser algo tão chocante assim, afinal durante a celebração do matrimônio, nós nos dispomos perante Deus a acolher todos os filhos que Ele nos confiar. E “todos” pode ser um ou mais, conforme a vontade de Deus. Mas será que acolher essa vontade tem só a ver com coragem?
Infelizmente as ideias mundanas têm deturpado toda a verdade que envolve a maternidade e a criação dos filhos. É como se a criança fosse uma rival na vida da mãe e da relação conjugal. O bebê viria como aquele que rouba a liberdade, a paz e destrói os sonhos. Uma mulher para se sentir valorizada e “empoderada” precisaria renunciar àquilo que é da natureza dela. Desde cedo, as meninas têm sido levadas a acreditar que o ser mãe não é algo intrínseco à sua identidade. Perdidas da sua própria vocação, passam a vagar buscando a realização em outros lugares.
“Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33)
No entanto, para a glória de Deus, existem famílias que desejam sim se abrir a graça de gerar um filho. Mas que infelizmente paralisam no medo do futuro. Seja pelo medo de enfrentar o mundo e seus perigos, diante de realidades e notícias terríveis; seja pelo medo de não ter dinheiro para pagar a melhor escola, comprar as roupas e calçados da moda, os brinquedos e as festas de aniversário. Enfim, tudo aquilo que se pode colocar na ponta do lápis na hora de pesar os prós e os contras.
Mas a matemática de Deus não é essa. O Senhor nos alertou que no mundo teríamos aflições. O fato de termos ou não filhos, não nos privará das dores e tormentos desse mundo. Se proclamamos nossa fé em Cristo, devemos estar dispostos a TUDO por Ele. Se somos cristãos, confiamos Naquele que tudo pode realizar. E para isso precisamos vencer o medo e clamar pela virtude da coragem.
A coragem de nadar contra a maré e acolher os filhos que o Senhor nos confiar. Se esta for a vontade Dele para nossa vida. Mas só descobriremos se estivermos abertos a essa graça.
“Filhos, pérolas de glória”
“A família é uma projeção da Trindade no meio da Terra e, projetando a Trindade, projeta a glória, a alegria de Deus. (…) Cada filho que os pais apresentam a Deus é uma pérola de glória na coroa dos pais na eternidade.”¹ . Ou seja, não se trata apenas de satisfazer os desejos dos pais. Gerar uma vida é um mistério muito mais profundo e maravilhoso do que os nossos olhos humanos podem ver. A coragem é apenas uma das virtudes que abraçam a maternidade e a paternidade. A responsabilidade de acolher a graça de receber um filho vai muito além. Um filho traz para o seio de uma família virtudes como a humildade, o dom de si, a providência. Renova em nós o amor, a esperança e a alegria.
É normal que os pais se preocupem com questões como alimentação, cuidados médicos e a educação dos filhos. Mais normal ainda é sentirem o cansaço e o peso da rotina, das dificuldades e os desafios da criação dos filhos. Tudo isso vai continuar existindo!
A diferença, e o que quero trazer neste texto, é a maneira como vamos enfrentar todas essas coisas. Não basta estarmos abertos a vida e fechados ao que vem “junto no pacote”. Não devemos nos enganar pensando que fazer a vontade de Deus, implica em viver em um mar de rosas. Não vai ser fácil, e não se trata só de ter coragem. É preciso mergulhar na glória de Deus e deixar florescer a alegria daqueles que encontram o verdadeiro sentido do ser família. Assim como a Trindade Santa, uma família virtuosa irradia a glória e a alegria de Deus.
Vanessa Cícera Ramos
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
- André Botelho de Andrade (Ano vocacional 2023 – Comunidade Católica Pantokrator)