Como hoje deixamos a correria do dia a dia nos roubar da leitura! Tanto em nosso desejo de ler, quanto em nosso gosto e tempo. Vivemos subjugados por um frenesi de prazeres efêmeros que se empurram a nossa frente disputando nossa atenção, quando não, urgências a serem solucionadas imediatamente se impõem sobre nós, obrigando-nos a atendê-las! Tantas e tantas coisas se enfileiram e amontoam em nosso dia que quando se abre um “tempo de graça” em meio a uma semana agitada, ou ficamos perdidos sem saber como empregá-lo, ou pensamos em descansar, dormir, fazer nada! Ao contrário, dias enfadonhos podem nos levar ao tédio, ao sofá da sala ou à TV ligada, ao shopping ou outras programadas “rotas de fuga”, mas, dificilmente à leitura. Sem contar aqui o uso fútil do celular!
Assim os dias se passam… grandes redes de livrarias se fecham, editoras lutam para sobreviver num país culturalmente empobrecido por escolha e preguiça. Há um vastíssimo arsenal literário que podemos dispor, mas tantas vezes preferimos o imediatismo de um filme ou vídeos de Youtube. Não que essas coisas sejam ruins, pelo contrário, há muita riqueza nesses meios se bem empregados, mas são meios complementares em minha opinião. A leitura nos dá um tempo de reflexão que esses não dão.
Para onde foi o amor e dedicação ao estudo? Tanto secular quanto religioso? Como é difícil estabelecer hoje um tempo para a leitura das Sagradas Escrituras (básico para qualquer pessoa que se diz cristão) ou para um aprimoramento do conhecimento profissional e cultural? Deixamos tão facilmente os compromissos nos engolir e não sobramos nem para nós mesmos. Estamos permitindo que a vida flua pelos vãos dos nossos dedos sem cerrarmos as mãos para não deixar perder o essencial, que não percebemos se esvair misturado com o superficial.
Diante do exposto, há de se primeiro decidir ler. Infelizmente nossas escolas não estimulam a leitura, muitas promovem o contrário, obrigando uma leitura sem contextualização que acaba por se tornar traumática ou enfadonha, marcando o “espírito leitor” das pessoas, às vezes, por toda vida. Mas, vamos lá, suponhamos que já tenhamos superado esses primeiros obstáculos para a leitura e nos vem o discernimento obrigatório de: “o quê ler?”.
Entrando no tema proposto para essa pequena reflexão, falando ao coração do cristão católico que se propõe a tal empreitada tão necessária e salutar, primeiramente vêm as Sagradas Escrituras: o centro de todas as obras, onde elas se encontram, donde elas fluem, e onde ganham significado e beleza, onde habita a Verdade que realiza os mais profundos anseios do coração humano de todos as épocas, passadas, atuais e futuras.
Repito aqui a frase de São Jerônimo: “Quando rezamos falamos com Deus, quando lemos é Deus quem nos fala.”, sem complementos.
Sendo assim, a leitura se torna essencial para estabelecer um frutuoso diálogo com Deus. Assim também acontece através das belas artes e da música, mas privilegiadamente, a leitura nos abre o entendimento até para apreciá-las melhor.
Mas, se Deus quer nos falar pela leitura e nós não lemos, entramos num “monólogo” em nossa oração, numa visão parcial demais da vida que nos acaba cegando. Por isso as leituras espirituais são tão necessárias e bons livros são essenciais. Não é em qualquer literatura que se encontra a “voz de Deus”! Na boa literatura podemos encontrar as respostas que buscamos em nossas orações, ao contrário, nas ruins, podemos nos afastar delas. Concordo com as palavras de Persival Puggina quando diz que o que diferencia e exalta a literatura cristã, católica, no meio literário é sua capacidade de elevar o homem acima de si mesmo. Por esse motivo, o critério é importante na hora de buscar uma obra e a curiosidade não é uma boa conselheira, como nos diz S. Bernardo de Claraval; “A curiosidade é o princípio da soberba”, então, “devemos evitar a curiosidade de saber aquilo que não é necessário para fazer aquilo que devemos”, nos aconselha Rodrigo Naimayer.
A leitura nos ajuda a aumentar, aprofundar, expandir e fortalecer nossa fé, pois estabelecemos um diálogo com Deus de uma forma eficaz. Tanto na poesia, como na prosa, nos ensaios, fantasias e ficção, em quaisquer gêneros que se escolha ler, as leituras inspiradas sempre terão algo de Deus a nos comunicar, diariamente. Vejo a literatura cristã como um baú de tesouros, mais rico será quem mais dele se servir. Rico das palavras de Deus guardadas em nossos corações e empregadas em nossas vidas. Experiências e aprendizados ninguém nos rouba. Se aprendermos a amar como devemos, somos riquíssimos, pois nada levaremos dessa vida a não ser o amor com que amamos.
Conhecer e amar a Deus é a realização e plena felicidade da alma e a leitura cristã nos ajuda e acompanha nessa caminhada rumo ao céu!
“Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” Mt 6, 19-21
Agradeço sua leitura desse artigo até o final. Parabéns! Façamos um propósito de reservarmos, então, um pouco de nosso tão precioso tempo diário às coisas essenciais e ouçamos a Deus nas boas leituras!
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
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