Ao nos aproximarmos do Natal, algo que ouvimos com muita frequência é que precisamos preparar nossos corações para recebermos o Menino Jesus que em breve nascerá. É fato que todos queremos que Ele nasça. Contudo, será que Ele realmente encontrará um lugar em nós? Será que a Virgem Santíssima terá onde reclinar Seu Menino no mais íntimo de nós?
São Lucas, ao relatar o nascimento de Jesus, nos diz: “Estando eles ali (Maria e José), completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lucas 2,6-7).”
Na época em que Jesus nasceu muitos esperavam Sua vinda, pois eram conhecedores da Palavra de Deus e esperavam o cumprimento das inúmeras promessas que anunciavam o nascimento do Salvador. Simeão e Ana, figuras presentes no mesmo capítulo 2 do evangelho segundo São Lucas, são expressões do povo que esperava ansiosamente pela vinda do Messias.
Entretanto, se havia tal espera, por qual motivo a Virgem Maria e São José não encontraram lugar para receberem com dignidade o Menino Deus?
Muitos que esperavam a vinda de Jesus não imaginavam que o Grande Rei de Israel pudesse nascer na simplicidade, desprovido das glórias e poderes que desfrutavam os reis por eles conhecidos. Eles não esperavam na Verdade, mas ilusão do deus que haviam criado em seus corações.
Também nós, que desejamos que Jesus nasça em nossos corações, corremos o risco de não O acolher quando realmente Ele Se apresentar, como nos afirma São João 1,11: “Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram”.
Se Maria e José batessem hoje à porta do seu coração, como você reagiria? Haveria lugar para eles se hospedarem? Haveria lugar para eles se hospedarem em nossos corações?
Na homilia do Natal do Senhor em 2012, papa Bento XVI, fez alguns questionamentos e reflexões que nos ajudam a olharmos com sinceridade para nós diante da Sagrada Família que bate à nossa porta:
“Temos verdadeiramente lugar para Deus, quando Ele tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura, não é ao próprio Deus que rejeitamos [quando rejeitamos nossos irmãos]? Isso começa pelo fato de não termos tempo para Deus. Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo, tanto menos tempo temos disponível. E Deus? O que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está completamente preenchido. Vejamos o caso ainda mais em profundidade. Deus tem verdadeiramente um lugar no nosso pensamento? A metodologia do nosso pensamento está configurada de modo que, no fundo, Ele não deva existir. Mesmo quando parece bater à porta do nosso pensamento, temos de arranjar qualquer raciocínio para O afastar; o pensamento, para ser considerado “sério”, deve ser configurado de modo que a “hipótese Deus” se torne supérflua. E também em nossos sentimentos e vontade não há espaço para Ele. Queremos a nós mesmos, queremos as coisas as quais podemos tocar, a felicidade que se pode experimentar, o sucesso dos nossos projetos pessoais e das nossas intenções… estamos completamente “cheios” de nós mesmos, de tal modo que não resta qualquer espaço para Deus.”
Se quisermos que Jesus nasça em nós, precisamos dispor todo nosso ser para que isso se concretize de fato; precisamos dispor de tempo para Deus, dispor nossos pensamentos, sentimentos e desejarmos que Ele nasça na verdade de quem Ele realmente é: o Senhor de todas as coisas e que Se manifesta, muitas vezes no simples, da forma como menos esperamos.
“Peçamos ao Senhor para que nos tornemos vigilantes quanto à Sua presença, para que ouçamos como Ele bate de modo suave, porém insistente, à porta do nosso ser e da nossa vontade. Peçamos para que se crie, em nosso íntimo, um espaço para Ele e possamos, dessa maneira, reconhecê-Lo também naqueles, sob cujas vestes, vem ter conosco: nas crianças, nos doentes e abandonados, nos marginalizados e pobres deste mundo.” Papa Bento XVI
Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator
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