Somos seres carentes? Você fica incomodado quando alguém te caracteriza como tal, ou te coloca em tal conjuntura? A carência é uma condição, um estado físico, afetivo e/ou espiritual. O adjetivo carente tem gênero indefinido, assim como feliz ou triste, e tem sua origem do latim “carens” – que significada desaparecido. Tal análise e concepção indica que nenhum sexo tem exclusividade para usar tal característica, tendo uma amplitude em toda a estrutura da formação humana.
A falta de algo, alguém ou alguma coisa define a condição de carência, sim, é como se desaparecesse, como definido pela etimologia[1]. Nesse sentido, é lógico que somente aquilo que existe pode um dia desaparecer, no aspecto físico, por exemplo, a saúde desaparece quando chega uma doença, assim somos carentes de saúde. Já na parte afetiva quando ocorre a morte de alguém amado, há uma descontinuidade da história, o que fica são lembranças e sentimentos. E por fim na espiritual, é como se nossa conexão com Deus caísse. Permita-me neste espaço detalhar que abordarei uma perspectiva da carência afetiva e espiritual.
A carência afetiva
Todo ser, homem e mulher, é formado pelas experiências de vida, desde a concepção até o seu fim terreno. Os sentimentos e emoções são bombardeios em nossa afetividade, assim como o que ouvimos e vemos de pessoas ao longo da nossa infância, por exemplo, se tornam referências para nós. Essas pequenas experiências, quando ausentes, podem nos fazer carentes, pois somos criados para amar e ser amados.
Você pode até pensar ou conhecer alguém que pela história de vida se refere ao amor como algo que nunca existiu. Posso confirmar que Deus amou, ama e amará cada filho, pois a promessa é explicita:
Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. Isaías 49:15
Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta. Jeremias 1:5
Diante da promessa é preciso crer e acolher essa verdade que destrói todo sentimento de desamor e solidão, Verdade que nos transforma de seres carentes para seres abastados da graça do Pai “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”. João 10:10. Deus nos amou primeiro.
A carência espiritual
Quanto a nossa formação espiritual é preciso reconhecer que somos e sempre seremos, pela nossa humanidade – esta que é o campo da santidade – carentes de Deus. Perceba que por isso Deus nos deu um presente, Jesus Cristo. Ele é a referência da dependência total, como homem e Deus sempre e em tudo remete a vontade do Pai. Cristo nos ensina que por Ele podemos “saborear” a existência de Deus, mesmo que pareça, pelas quedas que tomamos na caminhada da fé – seja pelo orgulho, vaidade, egoísmo ou prazeres da carne – que o Pai desapareceu da nossa vida.
Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. João 14:9,10
Mas a misericórdia de Deus nos dá uma via para suprir esse vazio que o pecado original nos tirou, nos deixando carentes. Acaso se no paraíso, nossos pais, tivessem rechaçado a carência que o demônio colocou em seus corações, hoje não teríamos essa guerra diária para levantar o baluarte de que Deus está vivo e olha para nós com olhar devorador de Pai. Vamos viver hoje como filhos crentes de Deus buscando a recapitulação em Cristo.
[1] Estudo da origem e da evolução das palavras.
Thiago Casarini
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator