Por esses dias, me peguei refletindo sobre a vida dos santos, pensando sobre o quanto elas eram destoantes da minha realidade! Ao contemplar suas vidas, pude ver grandes feitos: santos que levitavam, que tinham bilocação, que viam Jesus Cristo face a face, que chegaram a apanhar do demônio, etc. Ao olhar todos estes feitos, minha humanidade gritava: “Ah, mas essas pessoas eram diferentes; elas tiveram uma ‘ajuda extra’ de Deus”. Porém, não é esta a realidade. A grande e real diferença que existe entre os santos e eu (e também entre os santos e você!) é o fato de que eles clamavam, dia após dia, aquela frase espetacular dita por um dos discípulos de Emaús: “Fica Senhor Comigo”. Sim, independentemente da época ou das circunstâncias, os verdadeiros santos sempre foram aqueles que buscaram uma união e uma intimidade verdadeira com o Altíssimo.
Deixar Deus participar da nossa vida
Tenho a certeza de que você, caro leitor, assim como eu, é devoto de algum santo. Você certamente saberia me contar sobre a vida e os feitos maravilhosos deste herói da fé que você tanto admira. De fato, contemplar as grandes proezas e o amor destes grandes “amigos de Deus” é algo que nos enche os olhos e nos faz aquecer o coração. Entretanto, muitas são as vezes que, infelizmente, essa admiração não se transforma em mudança. Em outras palavras, gostamos de ler (ou assistir) os atos de santidade, mas tantas vezes nos falta querer vivê-los.
Temos a tendência de querer escolher os momentos que deixaremos Deus participar da nossa vida: por exemplo no domingo (durante a missa), ou quando rezamos o Santo Terço (de vez em quando). Pode ser que também nos lembremos do Senhor nos momentos de grande angústia, quando nos aproximamos da sua Presença para pedir algo. Contudo, na grande maioria das vezes, privamos o Senhor de participar conosco das nossas escolhas, dos nossos medos, das nossas alegrias, das nossas conquistas…
O Senhor como melhor Amigo
Sabe aquela amizade que nos enche de alegria? Aquela amizade que podemos passar horas a fio que nem reparamos que já se foi um dia todo? Aquela amizade que, sempre que chega a hora da despedida, temos aquele sentimento de “quero bis”? Enfim, sabe aquela amizade que nos faz ser melhores? Essa é a relação dos santos com o Senhor. Todos os nossos “amigos do céu” tinham o Senhor como melhor Amigo em todas as situações.
Diferente do que ocorre com os nossos amigos habituais, não precisamos nos despedir do Senhor ao fim do dia, para marcar um reencontro depois de algumas semanas… Devemos, ao invés disso, convidá-Lo (como faziam os grandes santos): “Fica comigo, Jesus, pois se faz tarde e o dia chega ao fim (…). Preciso de ti para renovar minhas energias e não parar no caminho.”
Fica Senhor comigo, para que eu ouça tua voz e te siga
As Sagradas Escrituras nos dizem que Moisés precisava subir o monte e adentrar a tenda para conversar com o Senhor e receber as instruções para o povo. O mais impressionante era que, ao voltar do monte, Moisés sempre tinha o seu rosto brilhando (literalmente!), pelo simples fato de ter estado na presença do Altíssimo. Caro leitor, se você já fez a experiência de se ausentar em um final de semana para participar de um retiro, sabe o quão “modificados” e encantados saímos depois de ficarmos tão próximos de Deus. Saímos tão “brilhantes” que temos o desejo de nunca mais pecar, temos nosso coração inflamado de amor, queremos falar e falar de Deus.
No entanto, os dias vão passando e vamos deixando que as coisas e preocupações rotineiras tomem o lugar desse sentimento, desse desejo de sermos mais de Deus. Pouco a pouco, nos distanciamos do Bem maior. Isso se dá, justamente, porque saímos desse encontro com o Senhor e não continuamos a pedir: “Fica Senhor Comigo”.
Engana-se quem pensa que os santos eram super-heróis; engana-se quem pensa que eles não tinham suas fragilidades, suas limitações, suas misérias… Eles eram gente como a gente. Porém, eles entenderam que a força deles – de viver um “pós-retiro” diariamente – vinha do próprio Cristo. Eles não se despediam do Senhor; ao contrário, viviam intensamente todos os momentos com Deus. Eles compreendiam que, se deixassem a companhia do Senhor, facilmente seriam engolidos pelas tentações do mundo. Eles tinham a consciência de que, estando sozinhos, seriam fatalmente infiéis, fracos, e rapidamente se esqueceriam do quão maravilhoso é estar na presença do Cristo.
Unidos intimamente ao Senhor
Não nos enganemos, meus queridos leitores: se dependermos das nossas próprias forças, não conseguiremos mais do que olhar e admirar (de longe) a vida dos santos. Mas, unidos intimamente ao Senhor, podemos nós também trilhar um caminho de santidade e, juntos, chegar ao céu.
Encerro este texto com um trecho da oração de São Padre Pio de Pietrelcina:
“Fica Senhor comigo, pois preciso da tua presença para não te esquecer. Sabes quão facilmente posso te abandonar.”
Somos inconstantes e o Senhor sabe disso. Por isso Ele quer estar próximo, nos envolver com seu amor e zelo, para nos ajudar a permanecer juntos Dele e trilhar nosso caminho rumo à tão maravilhosa santidade.
Fica Senhor comigo, pois desejo amar-te e permanecer sempre em tua companhia!
Que Deus nos abençoe!
Angélica Baruchi Libório
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator
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