Quando falamos em família forte me vem um questionamento: será que existe ou é possível uma família forte? São muitas as provações, dificuldades, combates e situações que afligem a família que, se pensarmos superficialmente, logo diremos que não tem. Mas precisamos aprofundar a luz da Palavra de Deus no contexto da família para discernirmos melhor.
Como todos sabemos, a família hoje sofre ataque de todos os lados, na fidelidade dos esposos, na educação dos filhos, nas intromissões do governo sobre a autoridade dos pais em relação aos filhos, nos problemas de ordens psicológica e de pecado, e por aí vai. Mas vejo que esse não é o principal problema. É um grande problema, mas não o principal.
Duas realidades vividas na família
A primeira é a relativização da fé. Temos um movimento dentro da própria Igreja que relativiza a fé, ou até mesmo banaliza com os famosos jargões: “não é bem assim” ou “não podemos levar tudo ao pé da letra” ou ainda “os tempos são outros” e por aí vai. A família que entra nesse relativismo está fadada a ser uma família fraca. Ou melhor, muito fraca, alvo fácil das tentações, seduções e doutrinação do mundo.
O contrário dessa relativização, e até com a boa intenção de combatê-la, entrou num “rigorismo” muito forte na fé, onde se criou algo que podemos chamar de fé defensiva, ou seja, tenho que combater tudo e todos. Crio uma trincheira, me armo até os dentes com coisas lícitas da fé, mas vivo uma fé defensiva. Uma fé de combate, que consequentemente se passa para os filhos, que por sua vez começam a lutar sem saber bem o porquê e contra quem. Isso vai tornando a família um lugar pesado, assim como toda vida espiritual e, por mais que tenha seu valor, não é a solução para uma família forte.
O caminho é a Palavra de Deus
Em At 16, 31, a Palavra de Deus nos diz: “Crê no Senhor Jesus e será salvo, tu e tua família”. Importante ressaltar que nossa fé recebida da Igreja é uma fé de transmissão, nunca de ligação direta. Desde Abraão é assim, passando por Moisés e até chegar em Jesus, pois Jesus é Filho de Davi. E continua assim. A Igreja não aboliu essa tradição. Veja que nossos pais pediram o batismo para nós, e eles junto com a Igreja nos ensinaram as verdades básicas da fé, ou pelo menos é o que se espera de uma família que vive a fé. Logo existe um mistério intrínseco na família, que é essa capacidade de transmitir a fé, transmitir a Aliança de Salvação de Jesus na cruz para sua linhagem.
E a frase citada acima é bem clara. Paulo promete a salvação não somente para o carcereiro que queria se matar após as portas da prisão se abrirem cf at 16,27ss, mas toda a família dele, aquele homem que acaba de se converter já é revestido de uma potência da graça de Deus capaz de transmitir para sua família, para sua filhos. A salvação não é só prometida para ele, mas se estende, e isso é muito belo.
Isso é tão real que o próprio Satanás percebeu que, para ele ter algum êxito sobre a humanidade, ele tinha que combater a família. E onde ele entrou? Exatamente nos filhos, na linhagem, tirando a autoridade dos pais, deixando os filhos à mercê de suas decisões e, é claro, contando com a omissão dos pais. Vimos isso em toda a Revolução Francesa, mas em especial na década de 1960, quando os jovens começaram a “proclamar” sua auto independência. Aí foi a derrocada das famílias que não vigiaram. Começou a criar uma geração de rebeldes, sem a autoridade dos pais e, consequentemente, sem Deus. E tudo isso teve e está tendo consequências sérias: dependência de drogas, libertinagem, desvio na sexualidade, solidão, depressão, suicídio e por aí vai. Foi rompido o “cordão umbilical”.
Autoridade dos pais
A autoridade dos pais é algo tão importante que Deus os fez cocriadores com Ele. Não é um simples gerar os filhos, mas ter sobre eles uma autoridade de benção e de graça. É leva-los a viver a fé da Igreja, e vejo aqui a necessidade de viver uma fé positiva (não é pensamento positivo) e objetiva, que combate toda fé relativizada e corrige todo rigorismo exagerado.
A fé positiva é crer no amor poderoso de Deus como algo primordial, Jesus passa o Evangelho todos falando de fé e não de pecado mortal, é claro que não estou dizendo que não temos que combater uma vida de pecado, mas isso não pode ser nosso foco. O foco é a ação poderosa de Deus, tocar seus mistérios, exercer com todo amor a autoridade confiada como pais.
Diante de tudo isso, não devemos entrar em desespero diante das provações e dificuldades em nossas famílias, pois se Deus nos constituiu família, nela está o meio mais eficaz de vivermos o bem, a alegria, a felicidade. Não são os problemas que devam reinar, mas a fé viva e eficaz na ação poderosa do Criador.
Existe na família um mistério da presença de Deus tão forte, que por mais estraçalhada que possa estar, Deus é capaz de restaurar, de recapitular, de reordenar.
Não adianta criar fórmulas, é tudo muito simples, família forte é família que vive uma fé positiva forte, uma fé na ação do amor poderoso de Deus e que se deixa tocar e ser revestida por esse amor. Família forte é uma família onde os pais não abdicam de sua autoridade e nem se omitem no anúncio da Palavra de Deus. A Missa dominical em família é fundamental e o terço mariano também. A fórmula será sempre a Palavra de Deus.
Elias Gobbi
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator