Você está se sentindo sozinho? Se a resposta for sim, isso significa que está: “inteiramente só, isolado, sem nenhuma companhia”, e isso não é bom! A Palavra de Deus diz: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18).
Todos nós vamos passar por dias assim nas nossas vidas, passaremos por desertos, por momentos difíceis em que nos sentiremos sozinhos, mesmo estando cercados por pessoas que amamos e que nos amam. Momentos em que parece que não vamos suportar o peso da dor, do abandono, da incompreensão das pessoas e também quando não compreendemos quais são os planos e ação de Deus para nós. Tudo parece ficar escuro, levando até a crer em uma possível crise de fé. Saiba que os nossos irmãos antigos na fé também viveram isso. Os Salmos 13 e 22, por exemplo, mostram o rei Davi passando por isso, angustiado diante de Deus.
Da solidão à comunhão
A solidão por si só é um mal, você certamente irá passar por ela, mas não poderá permanecer nela; pode, porém, tornar-se uma fonte de comunhão, se unida à condição de solidão redentora de Jesus Cristo, que em muitos momentos se retirou para orar. Cristo assim também esteve sozinho, quando agonizou no Jardim do Getsêmani. Mesmo acompanhado dos discípulos, sofreu tanto, orou solitário, esbarrou no sono dos discípulos que se negam a participar da oração com Ele, e enfrenta sozinho a angústia da morte. A Palavra diz “Ele entrou em agonia e orava ainda com mais instância, e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra” (Lc 22,44), tamanha foi a condição de solidão em que Ele se encontrava. Talvez esse tenha sido o momento mais solitário da vida de Jesus. O próprio Deus parece abandoná-l’O, mas a verdade é que o Pai não O abandonou.
Criado à imagem e semelhança de Deus, a exemplo de Jesus Cristo, o homem é chamado a tornar essa solidão um lugar de encontro com Deus. Esse é o grande segredo dos santos! Santa Teresinha do Menino Jesus passou por isso e São João da Cruz também, inclusive escreveu um poema chamado: “Noite Escura”, em que conta a experiência da alma que sai e se encontra com o Senhor, que usa dessa secreta escada disfarçada da fé e sai no meio da noite, das provações, recordando um pouco o que ele viveu na prisão em Toledo. Em seu livro “Subida do Monte Carmelo”, ele explica o que esse título e o conteúdo diz, de como essa alma pode se dispor para ter um encontro, uma breve união com Deus. Ele encerra o poema da seguinte forma:
“Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado,
Por entre as açucenas olvidado.”
A noite escura é considerada uma bênção disfarçada, pela qual o indivíduo é despojado (na noite escura dos sentidos) do êxtase espiritual associado a atos de virtude. Embora os indivíduos possam, por um momento, parecer declinar em suas práticas de virtude, na realidade, eles se tornam mais virtuosos, uma vez que passam a ser virtuosos menos devido às recompensas espirituais e mais devido a um verdadeiro amor a Deus. Isso traz pureza e união com Deus.
Nós precisamos nos esconder para encontrar o Senhor. Por isso o Senhor permite que passemos por esse momento sozinho, momento de deserto e escuridão, para que possamos buscá-l’O no mais profundo do nosso ser e transformar essa condição em grandes bênçãos em nossa vida se aprendermos a tirar vantagem dessa situação.
Você não está sozinho, Deus está contigo
Deus não abandonou Seu Filho. Em Lc 22,43, vemos: “Apareceu-lhe então um anjo do céu para confortá-lo”. E da mesma forma Ele não te abandona! A prova disso é a Sua promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20); e “todos” é TODOS!
Deus te abençoe!
Ariele Castilho Russo
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator