Vivemos em uma realidade concreta, com situações e circunstâncias objetivas e materiais que exigem do homem respostas concretas e objetivas. Estamos inseridos em mundo sensível e marcado por inúmeras contradições, tragédias, injustiças e, ao mesmo tempo, encontramos exemplos de caridade, bondade, generosidade, boa vontade. São inúmeras histórias daqueles que vivem esse tempo, assim como eu e você. Há no homem um desejo de melhora, de que as coisas deem certo. Há um sentimento de esperança na humanidade, em mundo melhor para se viver.
Esse sentimento é universal, pois é a semente do bem da criação de Deus, mas que perdemos em muitos momentos ou não utilizamos da maneira certa e nem identificamos o campo para plantar essa semente.
No entanto, gostaria de diferenciar esse sentimento, destacando para nós o que é mais valioso e proveitoso. Quero abordar aqui a diferença entre esperança e expectativa, sendo que uma tem sustento no homem (expectativa) e outra em Deus (esperança). Ambas estão em relação com algo que não se vê, um elemento que aparentemente não está presente. Mas qual seria então a diferença?
Sentimento humano e Virtude Teologal
A expectativa é um sentimento humano, necessário para todos nós, mas que está numa área humana e relacionada com as coisas humanas, com o homem. Por exemplo: tenho a expectativa de que logo estarei empregado, de sair logo dessa casa e residir na casa nova. São situações que provavelmente podem acontecer, mas a certeza está pautada nas convicções humanas e nos sinais humanos. Se tenho o interesse em um emprego, preciso ir buscá-lo e assim vou captando sinais, por assim dizer, que isso possa ocorrer. Apesar de não ter a certeza concreta, há uma expectativa de que dê certo. Temos esse sentimento vivo dentro de nós: expectativa de que dê certo, seja lá o que for.
No entanto, quero me ater à esperança que não está pautada nos sentimentos humanos, nem mesmo nas certezas humanas, mas em Deus. Podemos ter esperança humana, que se assemelha à expectativa. Porém, quero falar da Virtude Teologal da Esperança. A primeira característica dessa Virtude, que se diferencia da expectativa, é que essa esperança é um Dom de Deus, ou seja, dada por Deus e não natural ao homem, podemos dizer, mas um presente de Deus para que, assim, possamos nos relacionar com Ele.
Essa virtude faz com que eu viva todas as realidades da minha vida: trabalho, família, relacionamentos afetivos e sociais, perdas, fracassos, êxitos e aquisições, entre outras, com um olhar voltado para o céu e a partir da relação com Deus.
Tudo está direcionado nesta relação, ou seja, há um sentimento que ultrapassa minha convicções e motivações meramente humanas, mas se baseia na vontade e nas promessas de Deus na minha vida. É a virtude da esperança que me protege do desânimo e desesperanças humanas e mantém meu coração animado pela fé que vivo e processo em Deus nas ações práticas e concretas do cotidiano.
Como sabemos, a esperança é a certeza de uma realidade que não se vê (Hb 11,1). É crer que a minha vida está além do sofrimento dos tempos presentes, como diz Paulo em suas cartas. A esperança me faz transcender essa realidade meramente concreta e material e de fato contemplar a Glória de Deus, onde habitarei, graças à sua misericórdia, pela eternidade. Ou seja, tudo o que me acontece, seja bom ou ruim, está sob a vontade de um Deus que cuida de mim.
Fé e esperança
A fé é o fundamento da esperança, ou seja, é necessário crer que há um Deus que me ama, que não me abandona e que habita em mim e me chama a viver essa realidade eterna, já hoje aqui na terra. No entanto, é a esperança que torna essa realidade de fé concreta. Ela me faz assumir para a mim e desejar o céu como felicidade. É pela esperança que abandono as promessas vãs desse mundo e passo a ter apenas as promessas de Cristo.
A esperança torna visível aquilo que é invisível, ela me protege do desânimo na luta contra o pecado, contra o mundo e me mantém firme contra o inimigo de Deus. A esperança é essa âncora fixada no céu, enquanto vivo cada momento da minha vida no tempo presente.
Tudo o que foi dito sobre a esperança não deve ser encarada como algo desencarnado da minha vida, como se fôssemos anjos a viver uma realidade paralela. Pelo contrário, a esperança coloca meus pés firmes na realidade cotidiana, porém, com os olhos fixos ao céu, ou seja, tudo o que vivo, vivo pensando em Deus porém, firme naquilo que sou chamado a viver aqui na terra.
É neste mundo, objetivo, concreto e material que encontro as oportunidades de viver a esperança nas promessas e no céu, por isso transcendo as circunstâncias pela graça de Deus, toco o céu no meu trabalho, na minha casa com minha família, nas dores e nos sofrimentos, nas alegrias e passatempos deste mundo, mas fixo desejando a eternidade.
Em muitos momentos achamos que estamos perdendo a fé, vivemos uma relação distante de Deus, mas, falta-nos esperança. Vamos perdendo o cheiro do céu, meus olhos não conseguem enxergar Deus, não percebo a ação de Deus. Por isso, neste tempo em que vivemos uma crise de fé, podemos dizer que é uma crise de esperança, mas não a esperança humana, e sim a Virtude Teologal da Esperança, precisamos clamar a Deus: renova a Esperança na minha vida.
Se faz necessário retomar na memória as promessas que Deus te fez. Volta ao primeiro amor! Volta à primeira esperança, que não nos engana, como diz São Paulo, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações. Renove agora essa verdade: “Deus te ama e Se derrama em amor na sua vida!”
Faça um ato de fé e renove sua esperança nas promessas desse Deus tão presente, perceba Sua presença e amor.
Júlio Della Torre
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
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