Eleições municipais: a política é um tema muito importante para toda a sociedade, pois trata-se, em sua essência, da organização, direção e administração de um determinado território. Ela deve, antes de tudo, ser instrumento de promoção do bem comum, para que todos os cidadãos tenham condições de viver com dignidade. O Brasil, em todas as suas instâncias (federal, estadual e municipal), sofre com frequentes casos de subversão do verdadeiro sentido da política quando os servidores públicos eleitos, ao invés de trabalharem para o povo, acabam por colocar seus próprios interesses como prioridade. A corrupção desvia bilhões de reais todo ano, dinheiro esse que deveria ser investido em benefício da população, mas que acaba parando no bolso de alguns corruptos.
Essa realidade de corrupção afasta cada vez mais as pessoas da política, já que esta parece ter se reduzido a algo sujo. Todo esse ‘pré-conceito’ é, sim, justificável, mas não há formas de mudar o cenário, senão pelo voto, pelo envolvimento de cristãos leigos na política de forma direta (como candidatos) ou indireta (com uma participação ativa e consciente).
Estamos nos aproximando de mais um período de eleições e esse tema vem à tona, pois é necessário participar desse processo em que escolhemos nossos representantes no âmbito municipal. É tempo de fazer escolhas e estas terão grande impacto nos próximos quatro anos. Escolher bem o prefeito e os vereadores da sua cidade e acompanhar o mandato deles é fundamental para coibir o mal uso do dinheiro público e a aprovação de leis que ferem a sociedade.
Em quem votar?
A maioria da população não tem convicções claras do que fazer com seu voto. É muito comum encontrar eleitores indecisos quando adentram a cabine de votação ou, pior que isso, pessoas que pegam o primeiro “santinho” jogado na rua e desperdiçam seu precioso voto com um candidato que nunca viu nem conhece suas propostas e posicionamentos em relação à política e aos temas que a permeiam.
Nós, cristãos, devemos ser exemplos de bons cidadãos, que defendem os valores que a Igreja ensina e que ajudam a construir uma sociedade que olhe com caridade para todos e, de forma geral, os menos favorecidos, que são aqueles que mais precisam dos serviços públicos. Baseado nessas convicções, já é possível filtrar nossas escolhas.
Ao pesquisar sobre as ideias e os projetos de um candidato, não podemos apenas nos ater a assuntos polêmicos como aborto, drogas, ideologia de gênero… Infelizmente, esses temas, muitas vezes, são usados como “cortina de fumaça” para mascarar a falta de conhecimento e de posicionamento do candidato em relação a outros temas também importantes. É preciso ir além. Posicionar-se contra os temas citados acima é obrigação, mas, quais são os projetos para outras áreas? Como pensam sobre a gestão dos recursos públicos? Quais são as leis que irá propor para melhorar a vida da população local? Como irá atuar na fiscalização da atuação do Poder Executivo? No caso de vereadores, sabem o seu real papel, suas atribuições e limitações do cargo?
Não podemos nos contentar apenas com o candidato que se diz honesto e a favor da família. Além dessas virtudes, o homem público precisa de mais atributos para ser digno da confiança dos eleitores, entre eles, elenco: preparo técnico, conhecimento do ambiente político, conhecimento da realidade local e seus desafios, capacidade de gerir pessoas e projetos e, antes de tudo, temor a Deus. Infelizmente, a fé é utilizada como forma de angariar votos. É preciso tomar cuidado com pessoas que acabam criando um personagem, mas que não vivem aquilo que falam. A hipocrisia é um pecado grave que se torna ainda pior quando essas mentiras são usadas dentro da política.
Qual o papel da Igreja nas eleições?
O Papa Francisco nos orienta que “devemos participar na vida política porque a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política”.
A Igreja, como sabemos, não pode apoiar ou induzir os fiéis a votar em um determinado candidato ou partido político, mas tem uma missão acima disso, que é a conscientização para um voto sábio e maduro, para que os fiéis escolham candidatos que têm condições de defender pautas importantes da nossa fé.
Por isso, incentiva os leigos a estar na política, a militar a favor do bem comum e a resgatar a essência da política. Aqueles que são chamados a essa árdua missão devem, antes de tudo, consagrar a Deus seu mandato e ser sinal d’Ele no ambiente político, devem viver a santidade e ser luz em meio às trevas.
“Alguém me dirá: mas não é fácil. Tampouco é fácil chegar a ser sacerdote. Não são coisas fáceis porque a vida não é fácil. A política é muito suja, mas eu me pergunto: Por que é suja? Porque os cristãos não estão revestidos do espírito evangélico”.
Que todos nós possamos usar corretamente o voto, crendo que a política é um instrumento poderosíssimo de construção de uma cidade melhor.
Deus nos abençoe!
Raul Cézar Aparecido dos Santos Cid
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator