FAMÍLIA: PRIMEIRA ESCOLA
Um dos atos mais caridosos que se pode ter com o próximo é instruí-lo ou ensiná-lo a respeito de um tema ou realidade. A Igreja reconhece e elenca esse ato como uma das obras de misericórdia espirituais: ENSINAR OS IGNORANTES. Há quem pense que esse gesto está restrito aos professores, educadores e outros profissionais que atuam na educação. “O primeiro ambiente natural e necessário da educação é a família, precisamente a isto destinada pelo Criador” (1). Essa citação, retirada da Encíclica de Pio XI sobre educação cristã resume bem o papel da família na instrução dos filhos: os pais devem ser protagonistas e elementos fundamentais para a formação completa daqueles a quem Deus confiou os cuidados. A educação cristã não se encerra somente nas habilidades intelectuais, mas trata de todas as dimensões do ser humano, como a vida espiritual, a constante busca por viver as virtudes, a busca pela santidade e a intimidade com Deus. “Com efeito nunca deve perder-se de vista que o sujeito da educação cristã é o homem, o homem todo, espírito unido ao corpo em unidade de natureza, com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais” (1).
QUAL O PAPEL DOS PAIS?
Quem tem filhos em idade de escolarização talvez esteja mais atualizado sobre a realidade educacional do Brasil. Segundo a mais recente avaliação internacional PISA (2), estamos nas últimas colocações no ranking em leitura, aprendizagem em matemática e aprendizagem em ciências. Será que nossos alunos também estariam nas últimas colocações, se fosse possível avaliar o desenvolvimento pessoal, de caráter, de virtudes, de vida espiritual? As crianças levam para a escola aquilo que aprendem dentro de casa; as consequências de muitos pecados são sentidas na escola: violência de todos os tipos acabam por atingir a alunos e professores. O tema sobre a decadência do nosso ensino é bastante complexo e a solução também é. Quero destacar apenas um aspecto que contribui para esse péssimo cenário: a ausência total dos pais e responsáveis da vida educacional dos filhos. Minha experiência como professor de escola pública mostra o descaso total e abandono por parte da maioria dos pais em relação ao acompanhamento dos filhos: não se tem presença, não se tem cobrança, não se tem prática de boas obras e, acima de tudo, não se tem exemplo no dia a dia.
“Portanto, rogamos instantemente, pelas entranhas de Jesus Cristo, aos Pastores de almas, que nas instruções e catequeses, pela palavra e por escritos largamente divulgados, empreguem todos os meios para recordar aos pais cristãos as suas gravíssimas obrigações não só teórica ou genericamente, mas também praticamente e em particular cada uma das suas obrigações relativas à educação religiosa, moral e civil dos filhos e os métodos mais apropriados para atuá-la eficazmente, além do exemplo da sua vida” (1). Nesse trecho, Pio XI mais uma vez recorda que cabe à família, auxiliada pela Igreja e pelo Estado, assumir com protagonismo a educação dos filhos, pois é a missão natural que Deus confia ao casal, quando recebe a graça da paternidade. Ainda destaco a última frase da citação: é necessário ser exemplo de vida dentro de casa, pois é principalmente com os gestos que a criança é educada; é necessário que os pais sejam um exemplo de santidade e de pessoas que realmente valorizam a educação, não somente com palavras, mas com suas atitudes. Na verdade, testemunhar Cristo com a vida deve ser missão e vocação de todo batizado.
IGREJA E CIÊNCIA
A educação é uma belíssima forma de elevar a pessoa humana até os conhecimentos da realidade em que está imersa. As ciências em geral são ferramentas que nos aproximam d’Aquele que é o Arquiteto de todo o mundo; todas essas realidades só possuem um propósito: o louvor a Deus. “Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!” (3)
Há uma falsa ideia que permeia o senso comum de que a fé e a ciência são aspectos da vida humana que estão em lados opostos e em constante atrito. Todavia, a Igreja foi e continua a ser grande incentivadora do progresso científico. Há um vasto número de religiosos e religiosas que contribuíram muito para nas diversas áreas do conhecimento, que impactaram diretamente na vida da sociedade atual; esses intelectuais, com certeza, são desconhecidos pela grande maioria das pessoas. Cito aqui nomes como: Roger Bacon (franciscano responsável pelo método científico); Georges Lemaitre (padre belga, astrônomo, cosmólogo e físico que criou a popular teoria do átomo primordial ou big bang); Gregor Mendel (agostiniano austríaco e pai da genética); Guido D’Arezzo (monge inventor do tetragrama utilizado na notação musical).
Fé e a ciência de forma nenhuma são antagônicas. Quanto mais nos aproximamos da verdade científica, mais nos aproximamos de Deus, que criou todas as coisas dando ao homem a liberdade e inteligência para explorar a Criação e discernir com sabedoria qual é a fonte de suas descobertas. Se você parar por um instante e refletir sobre a perfeição do Universo, das criaturas e das leis que regem o funcionamento de todas as coisas, será muito difícil deduzir que toda essa perfeição foi obra de um acaso: “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (4).
QUAL A FINALIDADE DA EDUCAÇÃO CRISTÃ?
“O fim próprio e imediato da educação cristã é cooperar com a graça divina na formação do verdadeiro e perfeito cristão” (1). Ser um perfeito cristão faz de nós bons cidadãos, bons profissionais e, sobretudo, nos une intimamente a Deus. Mesmo que a escola do seu filho não adote este modelo de ensino, você, pai e mãe, pode viver os princípios da educação cristã dentro do seu lar.
Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!
Raul Cézar Aparecido dos Santos Cid
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
NOTAS
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PP. PIO XI, Carta Encíclica Divini illius magistri
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https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/12/05/ranking-da-educacao-brasil-esta-nas-ultimas-posicoes-no-pisa-2022-veja-notas-de-81-paises-em-matematica-ciencias-e-leitura.ghtml. Acesso em 08/01/2024.
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Dn 3,57.
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Gn 1,31.