Se pararmos para pensar em todas as nossas necessidades, é muito provável fazermos uma razoável lista com tudo o que acreditamos ser fundamental à nossa vida. De tudo na lista, qual será a maior necessidade? Fome, sede, prazer, convívio, dinheiro, descanso?
Existem algumas necessidades conhecidas como necessidades básicas do ser humano, por exemplo, a fome e a sede. Essas podem ser compreendidas não somente no aspecto físico, mas também no espiritual, pois muito do que precisamos vai além de algo material.
Neste sentido, sejamos mais específicos no questionamento: qual é a maior sede que há em nós?
Quando olhamos com sinceridade para dentro de nós, percebemos existir algo, a princípio, impossível de ser saciado. Trata-se de uma inquietação a nos perseguir ao longo de toda a vida, um vazio que clama por ser preenchido.
Santo Agostinho, após ter buscado fora de si e de diversas formas saciar-se, se deu conta que tal inquietação só encontra descanso em Deus – “fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”, disse ele.
Papa Francisco nos ensina: “nascemos com uma semente de inquietação; inquietação de encontrar a plenitude. Nosso coração, mesmo sem saber, tem sede do encontro com Deus e O busca, muitas vezes, por caminhos errados. Quando nossa inquietação encontra Jesus, começa a vida da graça”.
Nesse ensinamento do Papa, encontramos a resposta para o questionamento feito há pouco: a maior sede do ser humano é a do encontro com Deus. Sim, o encontro com o Senhor é o que pode, de fato, saciar-nos nas sedes mais profundas.
Em João 4,1-42, encontramos um exemplo clássico de uma mulher intensamente sedenta e que buscava se saciar em realidades onde nunca poderiam corresponder aos desejos mais profundos de seu coração.
No diálogo entre Jesus e a Samaritana no poço de Jacó, o Senhor lhe diz: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna”. Ao que a mulher suplicou: “Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la!”.
Jesus poderia ter encerrado o assunto, todavia, foi adiante, saindo da superfície e adentrando no coração da Samaritana. Vejamos:
“Disse-lhe Jesus: ‘Vai, chama teu marido e volta cá’. A mulher respondeu: ‘Não tenho marido’. Disse Jesus: ‘Tens razão em dizer que não tens marido. Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu. Nisto disseste a verdade’. ‘Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que és profeta!…’”
Essa mulher, claramente percebemos, buscava saciar a sede de seu coração, aquela inquietação que só encontra repouso em Deus, nos maridos; estava no sexto marido e ainda não era dela. Até onde ela seria capaz de ir nessa busca? Por quantos caminhos errados continuaria a andar, numa esperança frustrada de encontrar plenitude?
Com certeza, é possível afirmar: o encontro com Cristo a inseriu na vida da graça, na vida do Espírito Santo de Deus, tornando-se dentro dela uma fonte a jorrar para a vida eterna. Sua inquietação se encontrou com Jesus e ela, já não mais inquieta, mas cheia de paz, deixou o poço, o seu cântaro e partiu à cidade, saciada, para anunciar todo o ocorrido.
Só Deus sacia nossa sede
Diante disso, faz-se necessário olharmos com coragem para dentro de nós à procura dos cântaros e maridos com os quais queremos nos saciar e aceitarmos, não importa o quanto nos custe e seja doloroso, que nada disso corresponde ao anseio em nosso peito. Lembremo-nos: Deus nos fez para Ele e inquieto está o coração enquanto não repousar n’Ele.
Mesmo muitas coisas sendo necessárias na vida, nada é tão essencial quanto Deus. O coração sabe disso e é justamente por esse motivo que não nos contentamos com nada menor que Deus. O grande grito existente em nós foi muito bem descrito pelo salmista: “Ó Deus, vós sois o meu Deus, com ardor vos procuro. Minha alma está sedenta de vós, e minha carne também vos deseja como a terra árida e sequiosa, sem água” (Salmo 62,2).
Se apresentarmos essas inquietações a Jesus, se as permitirmos se encontrarem com Ele, com certeza, Jesus derramará Sua água sobre o solo sequioso de nossos corações, fará jorrar Seu rio por toda a nossa vida, transformando os desertos em lugares bem irrigados e nossa secura em fontes (cf. Isaías 41,19; 44,3).
Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator