Temos o costume de associar a correção a algo negativo, e não é para menos; não nos sentimos confortáveis quando alguém nos corrige. Somos confrontados com a nossa miséria, ficamos frente a frente com aquela situação em nossa vida que precisa de conversão. Mas o que esquecemos é que a correção está estritamente ligada ao amor. “Meu filho, não despreze a correção do Senhor nem te espantes de que ele te repreenda, porque o Senhor castiga aquele que ama e pune o filho a que muito estima” (Pr 3,11 -12).
Somos filhos de um Deus que é Pai e que nos ama com amor ciumento. Um ciúme que se traduz em zelo, cuidado e proteção. Imagine só se você visse alguém correndo perigo. Agora imagine que esse alguém é o seu filho. Você ficaria parado sem fazer nada? Acredito que não. Nos dois casos, correria para ajudar.
Deus age conosco da mesma forma. Quando Ele percebe que estamos nos desviando do caminho da salvação, Ele nos socorre por meio da correção. Pode parecer um remédio amargo, porém é necessário para nosso crescimento. “Aliás, temos na terra nossos pais que nos corrigem, e, no entanto, os olhamos com respeito. Com quanto mais razão nos havemos de submeter ao Pai de nossas almas, o qual nos dará a vida? Os primeiros nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria conveniência, ao passo que este o faz para o nosso bem, para nos comunicar sua santidade” (Hb 12, 9-10).
Formas de encarar a correção
Podemos encarar a correção de diversas formas: alguns se sentem humilhados, acham que a correção só serve para rebaixar. Já outros se sentem perseguidos, como se o mundo estivesse voltado só para eles. Outros dão mil justificativas, nunca assumindo a sua parcela de responsabilidade. E, por fim, aqueles que reconhecem o erro e desejam mudar.
Dependendo da nossa história de vida, do momento em que recebemos a correção e da pessoa que corrige podemos experimentar essas sensações. E essas sensações também mudam a partir da abertura do nosso coração.
Uma coisa é certa: precisamos trilhar o caminho da humildade, que conduz à verdade. Como nos ensina São Bernardo: “Se o imitas, não andarás nas trevas, mas terás a luz da vida. E que é essa luz da vida senão a verdade que, iluminando todo o homem que vem a este mundo, mostra-lhe onde se encontra a verdadeira vida?”(1)
Deus corrige, pois se importa
Se Deus nos corrige é porque Ele se importa com cada um de nós. E se eu acato essa correção é uma prova de que também quero retribuir à sua misericórdia. A correção deve nos levar a um exame de consciência e a um movimento de mudança. Eu preciso querer mudar, render minha vontade, o meu orgulho para que Deus possa reinar. A minha felicidade depende da minha fidelidade à vontade do Pai. “Feliz é o homem que teme o Senhor e põe seu prazer em observar os seus mandamentos”(Sl 11,1).
Alimentar-se da vontade do Pai
Jesus era extremamente feliz, o Seu alimento era fazer a vontade do Pai. “O Filho, de si mesmo, não pode fazer coisa alguma; Ele só faz o que vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, fá-lo semelhante também o Filho” (Jo 5, 19b). Quantas vezes queremos ser filhos de nós mesmos, fazendo somente aquilo que nos convêm. Longe do alimento verdadeiro, acabamos nos alimentando de porcarias que definham a nossa fé. Passamos a desconfiar de Deus e de Sua bondade.
A falta de aceitação diante de uma correção não acarreta um mal só para a pessoa que desobedece, mas também para aqueles que estão à sua volta. A nossa desobediência pode prejudicar o funcionamento de toda uma engrenagem, seja ela familiar, profissional, comunitária, eclesial…
Temos que pedir a graça ao Espírito Santo, sozinhos não podemos caminhar. É Ele que purifica a nossa vontade e nos dá a força necessária para seguir adiante, para perseverar em nossos propósitos. São Bernardo vai dizer que o amor consiste no acordo de vontades, na busca contínua de conformação à vontade divina.
Andressa Aparecida da Silva
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
Referências:
(1) Tratado sobre os Graus da Humildade, 1,1.