Desconhecer a sagrada escritura é desconhecer a Cristo

sagrada escritura

Tem se tornado uma desagradável rotina o fato de pessoas, não cristãs, nos apontarem o dedo na face e nos acusarem de não seguirmos os pensamentos de Jesus. Já ouvi muitos ateus alegarem que, se Cristo vivesse hoje não seria “cristão”; outros sustentam que “a religião deturpou os ideais de Jesus”. Resumidamente, o mundo moderno tem declarado que todos conhecem o Cristo, menos os seus mais fiéis discípulos. Mas será mesmo? Será que este Jesus “paz e amor” pintado pelos modernistas é o mesmo Jesus apresentado na Sagrada Escritura?

O grande escritor C. S. Lewis, autor de obras como “As Crônicas de Nárnia”, popularizou no século passado um argumento valioso em relação à pessoa de Jesus. Lewis dizia que Nosso Senhor precisaria, necessariamente, ser uma dessas três coisas: ou Ele era um mentiroso, ou Ele um louco, ou Ele realmente era o Filho do Deus Altíssimo. Não há outra escapatória!

Lewis tem toda a razão. Durante o evangelho, Jesus disse coisas que poderiam ser consideradas absurdas se proferidas por um ser humano comum. Por exemplo: disse que as pessoas deveriam amá-Lo mais do que se ama os pais, os irmãos e os filhos (Lc 14, 26). Ele disse também que possui um Reino que não é deste mundo, onde anjos combatem por Ele (Jo 18, 36), falou que quem quisesse ser salvo deveria comer sua carne e beber o seu sangue (Jo 6, 53). Perceba, uma pessoa “normal” não diria essas coisas – ou outras mil, espalhadas pelas Escrituras. Porém, por tudo o que sabemos de Jesus, pela sua genialidade inigualável e pelos milagres indiscutíveis, a verdade é que não se trata de um mentiroso e nem de um louco. Só nos sobra uma opção, aquela mesma declarada pelo soldado romano aos pés da cruz: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mt 27, 54).

Ocorre que o nosso mundo atual – um mundo que não lê a Bíblia – tem relativizado a figura de Jesus. Tem mostrado o Nosso Senhor simplesmente como um “homem sábio”, colocando-o no mesmo patamar de alguns filósofos ou mestres espirituais. Para estas pessoas, Cristo não é uma pessoa histórica que viveu, pregou e morreu na cruz pelos

nossos pecados; trata-se apenas de um símbolo, de uma figura quase ficcional que é utilizada para sustentar algumas bandeiras modernas.

À medida em que as pessoas foram perdendo de vista a natureza divina do Nosso Senhor, perderam também todo o respeito e a reverência. Há pessoas que, em nome da “arte”, retratam Jesus como um mundano qualquer. Desfiles de carnaval, como aquele ocorrido neste ano, zombam do Rei do Universo; filósofos propagadores da cultura da morte tentam usar o próprio Cristo para divulgar suas ideias destruidoras. Em suma, o mundo parece não saber mais quem é o Filho de Deus.

As escrituras: Porta de encontro com o Senhor 

Na realidade, as palavras de Jesus são sempre retiradas do seu contexto e do seu sentido original. Muitas pessoas que disseminam a imoralidade, ao serem corrigidas, se defendem parafraseando o Senhor, lembrando que Ele mandou que atirasse a primeira pedra quem não tivesse pecado. Porém, essas mesmas pessoas não se recordam que, na sequência desta mesma passagem, Jesus manda que a mulher “vá e não peques mais”.

Os erros conceituais sobre as palavras de Jesus são inúmeros: as pessoas se lembram de que o Cristo veio falar sobre o “amor” e a “misericórdia”, mas se esquecem que Ele foi a pessoa que mais alertou sobre a existência do inferno em toda a Bíblia. Dizem também que Jesus foi uma espécie de revolucionário e anarquista, mas se esquecem de que Ele cumpria as leis e mandou “dar a César o que é de César”, até afirmam que Jesus é incompatível com a religião, mas ignoram o fato de que Ele próprio fundou uma Igreja sobre a pessoa de Pedro (Mt 16, 18).

As pessoas costumam se comportar diante de Jesus como se comportam diante de um restaurante “self-service”: elas pegam apenas aquilo que é do seu interesse e ignoram o restante. Enaltecem o Jesus que falou sobre “amor”, mas crucificam aquele que pregou a conversão. É normal as pessoas dizerem que a Igreja Católica é muito radical e que deveria seguir mais o exemplo do Cristo, mas se esquecem que foi a radicalidade fiel do Nosso Senhor que o levou a oferecer até sua última gota de sangue na cruz.

Mas então qual é a saída? Como saber realmente qual o pensamento de Cristo? Como diferenciar o “Jesus histórico” do “Jesus do marketing moderno”? A resposta é bastante simples: conheça intimamente o Nosso Senhor! Faça o propósito de não colher apenas os trechos que lhe interessem, mas queira o Cristo inteiro!

Há três maneiras bastante seguras de conhecermos quem realmente foi a pessoa de Jesus e nos enriquecermos com Ele: sendo fiel ao Magistério da Igreja – quem guardou fielmente a tradição apostólica –, tendo uma profunda vida de oração pessoal e conhecendo a fundo as Sagradas Escrituras.

A respeito deste terceiro ponto, conhecer a Bíblia, eu não me refiro apenas a um conhecimento superficial e aleatório. As Escrituras devem ser o nosso “livro de cabeceira” e deveríamos recorrer a ela em todas as situações. A Palavra de Deus é viva e pode transformar toda a nossa vida se estivermos com o coração aberto. Se lermos uma mesma passagem todos os dias em espírito de oração, é possível que a cada dia aprendamos algo diferente sobre nós mesmos e sobre Deus, porque a Bíblia é um telefone que liga os nossos ouvidos diretamente aos lábios e ao coração do Senhor.

Portanto, busque se aprofundar no conhecimento das Escrituras, especialmente dos evangelhos. Os santos da nossa Igreja ensinam que Jesus fica ansioso por ter um relacionamento íntimo conosco. Porém, não é possível nos relacionarmos com alguém que não conhecemos. Os apóstolos se sentavam aos pés do Mestre e ouviam todos os dias aquelas palavras de vida e de santidade. Nós podemos fazer o mesmo através das páginas finas das nossas Bíblias.

“Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi, onde moras? Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram onde ele morava e ficaram com ele” (Jo 1, 36-39).

Um forte abraço!

Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator

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