Viver em sociedade pressupõe relacionar-se. E nos relacionamentos eventualmente temos conflitos que podem ser ruins, gerando em nós feridas afetivas que nos impedem de viver relações saudáveis e livres, conforme o sonho de Deus para nossa vida. Dito isso, gostaria de falar sobre uma ferida especifica que atrapalha por demais nossos relacionamentos e nosso crescimento pessoal e espiritual, que é a dependência afetiva.
Em dado momento precisamos ser dependentes. Quando criança por exemplo, somos dependentes dos nossos pais, pois estamos em desenvolvimento. No entanto a dependência afetiva já não cabe mais na vida adulta, é preciso crescer e ter autonomia e responsabilidade nas situações cotidianas da nossa vida.
O que é dependência afetiva?
Mas afinal, o que vem a ser dependência afetiva? De maneira simples, ser uma pessoa dependente afetivamente, é ser uma pessoa que coloca sua felicidade na mão dos outros. É ser uma pessoa insegura que busca afirmação e elogios de uma determinada pessoa para se sentir amada. A dependência se caracteriza sempre quando há um excesso, como se não conseguíssemos sair do lugar sem nossa “muleta”, sem alguém que nos apoie e suporte em tudo e em todas as decisões.
Aqui vale ressaltar que dependência afetiva é diferente de carência afetiva. Como a própria etimologia das palavras dizem, dependência significa estar preso a algo ou alguém. Já carência significa a falta de algo. É importante diferenciarmos as duas coisas, para aplicarmos o remédio adequado para cada ferida.
Criados para o amor!
Como criaturas criadas para amar e ser amadas, é comum que em alguma medida sejamos carentes, que sintamos falta e necessidade de afeto. No entanto, a marca do pecado em nós, nos leva a partir dessa carência ter atitudes egoístas de controle. Resultando numa busca incansável de saciarmos nas pessoas e nas coisas essa carência de afeto. E como num ciclo vicioso de pecado, nos tornamos dependentes de alguém ou de algo para que nos sintamos amados e felizes. Percebam que embora diferentes, carência e dependência são amigas intimas.
Sejamos realistas: 99% das pessoas não tiveram uma vida de desenvolvimento afetivo saudável, não receberam amor na proporção ideal para um amadurecimento afetivo pleno. Nossa história é marcada por abandono afetivo, abuso e violência. Enfim, depois que o pecado entrou no mundo fica difícil não termos um coração excessivamente carente e por vezes dependentes.
Pois bem, fomos criados para o amor, para amar e ser amados, veio o pecado e desvirtuou tudo. Hoje nossos relacionamentos correm o risco de se resumir em controle e dependência, carência e egoísmo, não mais em liberdade e amor. Diante de tantas feridas causadas por relacionamentos ruins, somos tentados a pensar que a vida não tem mais jeito, o mundo é assim mesmo e pronto; melhor me contentar com essa caricatura de amor que vivemos, pois não há mais esperança de algo melhor.
Pronto, já que é assim, a melhor saída para cura das nossas feridas afetivas é pedir pra Deus resetar o mundo, começar de novo e tentar de maneira diferente viver os relacionamentos, de maneira mais saudável como antes do pecado. Meus amigos a verdade é que, Cristo já resetou o mundo quando morreu na Cruz por nós, “Verdadeiramente, Ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos…; fomos curados graças às suas chagas” (Is 53, 4 -5).
São Paulo em romanos 5, 20 nos diz que “onde o pecado abundou, superabundou a graça”, portanto, onde abunda a carência e dependência afetiva, Deus tem uma superabundância de cura, de graça e salvação para nós. O Senhor tem uma promessa de felicidade plena para cada um de nós; e em todas essas feridas que nos impedem de viver essa plenitude, precisamos pedir que o Sangue de Cristo lave e cure, para que possamos não mais deixar nossa felicidade na mão dos outros, mas nas mãos de Deus. O Único capaz de saciar nossas carências sem nos roubar de nós mesmo. Ele restaura nossa identidade e nos faz livres para verdadeiramente amar e sermos amados, quando somente d’Ele somos dependentes.
Curados para amar!
Comecei esse texto dizendo que nossos conflitos nos relacionamentos podem gerar feridas que nos impedem de viver relacionamentos saudáveis e felizes. Termino dizendo que ainda que isso aconteça, ainda que tenhamos feridas profundas no nosso coração, as Chagas de Jesus nos cura e nos dá uma nova chance de felicidade a partir dos nossos sofrimentos lavados com o Sangue dele; cabe a nós submetermos nossas carências à Ele, e dependermos apenas do seu amor que é eterno, fiel, livre e total. Ou você quer ficar a vida toda dependente das coisas passageiras dessa terra?
Não tenhamos medo de pedir ao Espírito Santo que nos conduza e também a Virgem Santíssima que nos ajude a fazermos a melhor escolha, de embarcamos nessa aventura de sermos filhos dependentes do Nosso Pai que está no céu e tem por nós um amor devorador, sedento pela nossa felicidade.
Que o Bom Deus nos abençoe.
Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator