A busca pelo autoconhecimento é uma busca de amor. Quando sincero e constante, leva ao amor e a Deus, a si mesmo e ao outro.
Refletiremos brevemente sobre esta frase de Sto. Agostinho, sem pretensões de muita profundidade, mas como alguém que, com carinho, busca a verdade dentro de si.
“Conhece-te”
Conhecer é uma palavra com treze sentidos e oitenta e sete sinônimos, logicamente não abordarei todos, embora façam sentido nesta reflexão. Conhecer pode ser entendido como saber, aprender, relacionar-se, visitar, reconhecer, distinguir, experimentar, compreender, prever, aceitar, obedecer, avaliar e relacionar-se intimamente.
Entretanto, por qual motivo devemos caminhar na estrada do autoconhecimento? Santo Agostinho nos ajuda: “Só amamos aquilo que conhecemos”. Sendo assim, o conhecimento é o princípio do amor e nós fomos criados pelo Amor, por amor, para o amor e para amar!
Entender assim nos coloca na estrada do autoconhecimento com responsabilidade, pois não se trata de um conhecer egoísta, curioso, mas um conhecer missionário, com sentido e liberdade.
Passar pela vida sem buscar conhecer-se é perder tempo de felicidade. Sim, muitas vezes pode não ser muito bom descobrir dentro de nós pensamentos, sentimentos e percepções que não gostaríamos de ter, porém a verdade liberta e essa liberdade é boa, pois nos faz atentar às oportunidades de mudanças que precisamos viver.
Deus colocou em nós muitos dons, somos únicos e maravilhosos e ir descobrindo esses nossos mistérios é um movimento de amor a Ele, de razões para louvá-Lo! Quando o autoconhecimento é buscado na oração, o Espírito Santo nos conduz aos caminhos que irão nos levar à nossa verdade interior, à nossa vocação, ao nosso propósito de vida, como disse Sta. Teresinha: “Sou aquilo que Deus pensa de mim.”
Vejo o conhecer-se como um ato de amor a Deus, um debruçar-se com dedicação àquele ser humano que Ele mais ama: eu mesmo.
“Aceita-te”
O segundo passo aqui proposto é perseverar. É a ponte que nos ligará ao outro lado da estrada.
Quando vamos nos conhecendo, nossas reações, nossos pensamentos, sentimentos, podem nos levar a um abismo, um lugar onde não há como prosseguir sem a ponte da aceitação. Sim, somos maravilhosos, mas somos também miseráveis! A humildade nos faz enxergar e aceitar tanto nossa vulnerabilidade quanto a potência de Deus em nossas vidas.
Se pararmos a busca quando nos deparamos com um abismo, nossa vida fica estagnada e nosso consolo são nossas próprias lamentações. Isso é triste, pois acabamos por escolher uma vida mal vivida, sem brilho, pesada e atrair os pêsames dos outros.
Aceitar-se é o segundo passo que nos levará à superação!
Aceitar-se não no sentido egoísta de Gabriela: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim”, mas no sentido de liberdade, de reconhecer que precisa de Deus para ser quem deve ser, para chegar à sua verdade e à sua felicidade.
Creio que aceitar-se é um movimento de amor a si mesmo.
Só quem se aceita, aceita também as mudanças que precisam acontecer em sua vida, está disposto a mudar, a melhorar o que já está bom e a transformar o que não está. E essa é a obra do Espírito Santo na qual nós podemos colaborar!
Só quem se responsabiliza por sua própria vida consegue passar por essa ponte, quem responsabiliza o outro não sai do lugar.
“Supera-te”
Chegamos ao terceiro e último passo, o objetivo do conhecer-se, a consequência do aceitar-se e a disposição de transpor as dificuldades: o supera-te!
Um último esforço nos dará a vitória. Geralmente é quando a luta está mais árdua que o inimigo nos quer fazer desistir, porque ele sabe que é a única forma de sermos derrotados.
Quando lutamos o bom combate a vitória é certa e a derrota é escolha, pois “Tudo posso naquele que me conforta” (Filp 4,13).
Na superação, mora uma felicidade profunda, liberdade e força!
Se a cada desafio de nossa vida, passarmos por esses passos, Deus nos levará à superação! E essa superação motiva outros, é missionária!
Creio que o superar-se é um movimento de amor ao outro, pois ele nos faz testemunhas.
O Amor que tudo supera é que nos fará superar. Ele é que dá o sentido à nossa vida.
Comecei com Sto. Agostinho e termino com São Paulo:
“Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não só a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (II Tim 4, 7-8).
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator