A necessidade de controle é um dos motores basilares da sociedade que constituímos, tudo gira em torno das expectativas particulares de cada um, da autossuficiência e do impulso pelo medo da frustração. Assim, o pavor de perder o controle e de ser dependente é um dos pilares identitários do homem contemporâneo. E isso se manifesta das mais distintas formas e nos mais diferentes graus, pode ser na perda de alguém querido, ou numa queda no trabalho, na mudança das amizades, ou até, como admito ser a minha realidade, na saída do Ensino Médio.
A resposta mais óbvia e consensual para a pergunta que intitula esse texto é a faculdade. Até porque os últimos meses do Ensino Médio são consumidos de maneira avassaladora pelos vestibulares. Mas vamos trabalhar com a realidade de que não rolou a faculdade logo no ano seguinte, o que é extremamente comum e muito palpável, mesmo com todo esforço do mundo. Logo, concluí o Ensino Médio e estou à deriva.
Uma realidade sem o tão conhecido
Sei que essa realidade, diante daquelas expostas lá em cima, pode parecer a mais pífia e simples. E na teoria pode até ser, mas é uma experiência que carrega uma fusão de confusões com imaturidades, incertezas, medos e, muitas vezes, uma baixa autoestima. Ademais, algo que influencia muito o medo do que virá depois do Ensino Médio é o fato de que, quando ele acaba, somos tirados de maneira muito brusca de um ambiente de extremo conforto. Isso não significa que fosse uma experiência necessariamente gostosa, mas era composta por fatores a que estávamos acostumados.
Desde de crianças somos mergulhados no universo escolar; com o tempo, ele só vai se intensificando com as amizades, em lidar com o desconhecido, a nossa relação com o “eu” e o resto do mundo, o amadurecimento intelectual, em saber lidar com as influências externas e há a aquisição de conhecimento. O Ensino Médio afunila tudo isso, as vivências nele andam de mãos dadas com o resto dos nossos dramas adolescentes, com nossas descobertas, autoconhecimento e crescimento. Por mais que regado de muita intensidade, é um período no qual nossas descobertas ainda são alimentadas por terceiros, claro que somos protagonistas delas, mas talvez não agentes com toda inteireza.
E quando ele acaba, não deixamos de ser adolescentes com nossas inseguranças, desejos, ânsias e infinitas condicionais “se”, mas não há mais aquele ambiente confortável. É claro que as amizades não desaparecem nem o estudo vai evaporar, porém, não tem mais o peso do cotidiano, algo que te ocupava quase todos os dias da semana, você se vê o mesmo, mas tão mudado em poucos meses. Então, o que fazer, para onde seguir, que plano traçar? Como não surtar com a ausência de uma rotina que nos acostumava há mais de 10 anos?
Como lidar com a frustração?
Agora, falando um pouco sobre mim, algo que foi muito determinante foi lidar com o fato de não ter passado na faculdade. E era uma coisa que eu desejei muito, planejei e – principalmente – estudei demais, teve muita dedicação e muito esforço. Mas não era o tempo de Deus, não era a vontade d’Ele para mim neste ano e eu tive que aos poucos entender isso, e me reconciliar com essa queda e entender o tempo do Pai na minha vida. Isso é algo fundamental para tecer uma resposta a esse “e agora?”, para fazer dessa saída do Ensino Médio um ano frutuoso.
Tenha claro que não é o fim do mundo não ir para a faculdade logo depois; está tudo bem, por mais que não pareça no começo. Só não podemos estacionar e adentrar em uma ociosidade e ficar à mercê do movimento do mundo. Então, passei a olhar pela seguinte ótica: se Deus me propôs isso, é porque muitas coisas podem ser feitas e efetivadas no meu interior, na minha intimidade com Cristo e com as pessoas que estão ao meu redor, que não seriam possíveis se eu estivesse centrada nos meus estudos – além do fato de que tenho uma grande tendência de colocar minha vida acadêmica como meu senhorio.
Sem pânico!
Mas, com o tempo, passei a me pilhar procurando coisas para fazer, na busca de um norte, sentido e propósito para esse ano; e mais uma vez não deixava de tentar controlar tudo. Então, passei a buscar freneticamente um emprego, traçar planos de estudo e muitas metas, para me ocupar e, de novo, não escutava nem me fazia dependente da vontade de Deus. E o pânico, o pavor da perda do controle se instala facilmente, e com isso uma série de medos voltam, o medo de não dar certo, de falhar e até de perder o ano.
O medo paralisa e impede de confiar na bondade de Deus e fazer proveito das maravilhas d’Ele; se não nos abandonarmos, fazendo-nos dependentes, não é possível crescer em algo que aparentemente era ruim e improvável de tirar um bem. Sem o olhar amoroso de Deus naquilo que é uma tragédia pela nossa lógica, não haverá resposta senão a tragédia. O fim do Ensino Médio não é uma tragédia se seu olhar estiver fincado na bondade e na vontade do Pai.
As incertezas e angústias não deixarão de vir, mas sempre que isso voltar, recorra Àquele que sabe de todas as coisas. A maior resposta para esse agora é o abandono e a pequenez para aceitar a vontade de Deus, mesmo quando contrariar a nossa lógica.
Ana Clara Gonçalves
Engajada na Comunidade Católica Pantokrator