Se você sofre do mal da procrastinação, você provavelmente conhece a frustrante e desanimadora sensação de deitar-se todas as noites no seu travesseiro e pensar que não conseguiu cumprir tudo o que precisava ter feito no dia. Sem contar o impacto que isso gera no seu dia seguinte, e no outro, e no outro – como uma bola de neve. Procrastinar é uma grande armadilha, ela destrói o hoje, bagunça o amanhã, e o pior de tudo, sua tendência é sempre aumentar. Felizmente, contrariando o sentimento de derrota comumente experimentado em quem sofre desse vício, ela não é um caminho sem volta.
Dependendo do quanto você está mergulhado nesse vício, não será tão simples. E ainda para você que não se considera tão procrastinador assim, é necessário cuidado e atenção. Deixar as obrigações pra depois parece um hábito inofensivo uma vez ou outra, mas quando você menos percebe sua vida profissional, acadêmica, social e emocional já virou um grande caos. A procrastinação mata a ordem, e a falta de ordem traz inquietação a nosso espírito.
Além disso, as obrigações do nosso dia a dia são meios muito importantes de servir a Deus e não estão alheias a uma busca de santidade. São Jose María Escrivá nos ensina a tamanha importância do zelo com nossos deveres e trabalhos. Com isso podemos perceber que o mal da procrastinação vai muito além de viver uma vida bagunçada. Na obra Amigos de Deus, capítulo 61, ele disserta: “Pouco me importa que me digam que fulano é um bom filho meu – um bom cristão -, mas um mau sapateiro! Se não se esforça por aprender bem o seu ofício ou por executá-lo com esmero, não poderá santificá-lo nem o oferecer ao Senhor. E a santificação do trabalho ordinário é como que o eixo da verdadeira espiritualidade para os que – imersos nas realidades temporais – estão decididos a ter uma vida de intimidade com Deus.”
Conversão da vontade
Para sair dessa armadilha contra nossa vida que é a procrastinação, não existe fórmula mágica. No entanto, há um primeiro passo que considero fundamental e, talvez, o mais difícil. Antes de qualquer exercício concreto de disciplina, é preciso uma mudança de mentalidade. Todas as nossas atitudes são fundadas em nossa razão e impulsionadas pela nossa vontade, por isso, se esse impulso for frouxo, não iremos longe. Precisamos converter a nossa vontade.
Se convencer de que você precisa largar esse vício é o grande papel da sua razão. Mas quando chega o momento de sua resposta diante de uma situação que te convida a procrastinar, é ali que atuará a vontade. De nada adianta saber o que é o melhor, se no momento essencial não há verdadeiro desejo de mudar as coisas, não há vontade de gastar energia para lutar contra esse mal, não há determinação. Nossa vontade precisa ser determinada, precisa ter vigor, precisa de decisão firme. Somente assim que a situação na prática mostrará algum resultado.
Exercícios práticos
Alguns pontos podem ser adotados como armas neste combate, sendo o primeiro deles nunca e jamais dar atenção às vozes da sua cabeça que dizem “posso fazer isso depois, ainda tenho tempo”. Não acredite, pois de fato não é verdade. Ainda que faltem horas ou dias para tal prazo ou situação, você não tem tempo. Lembre-se de todas as vezes que caiu nisso e acabou tendo que fazer tudo às pressas, de última hora, e entenda: o único tempo que temos é o agora. Esta lição reflete em tudo nas nossas vidas, inclusive na busca por Deus. Por isso, viver o agora na prática é algo que também pode nos ajudar muito a viver o amor no HOJE, uma vez que carne e espírito caminham sempre juntos.
Montar lista de prioridades do que fazer é um outro ponto de grande relevância nessa missão. Com isso, você finalmente acaba com o drama do “não sei por onde começar” e delimita uma ordem de foco. Não deixe de seguir esta ordem, e não tente fazer múltiplas coisas ao mesmo tempo. Além disso, planeje-se com consciência. Encaixar várias tarefas em um único dia pode ser inviável. Você também precisa equilibrar sua rotina com momentos de descanso para que todo o resto seja sustentado. Muitas vezes, a procrastinação pode ter sido desencadeada da terrível mania de querer atropelar milhares de tarefas sem se dar o direito ao descanso. O corpo combate um excesso com o outro e tudo se inicia. Por isso, a importância do equilíbrio.
Por fim, identifique e tire de perto o que te distrai. Guarde o celular no armário, desligue a música, acenda a luz, sempre respeitando seus limites e não tomando atitudes insustentáveis de imediato. Comece gradualmente e tenha paciência consigo mesmo.
A disciplina é o ponto central para que tudo isso se encaminhe: cumpra o que você se propôs a fazer, seja responsável pela sua santidade. Quando faltar a vontade, recorra à fidelidade – fazer tudo por oferta de amor e doação de vida. Não se esqueça de que fazer as coisas bem é ter cuidado pelo próprio caminho rumo ao Céu, e isso pesa muito mais do que de fato vencer o vício da procrastinação ou não. Às vezes, essa tendência irá te perseguir por muito tempo, como um espinho na carne. Mas apenas a sua fidelidade de tomar atitudes concretas para ir contra sua fraqueza já possui grande valor ao Senhor.
Termino ainda com essa frase de São Jose Maria Escrivá (Amigos de Deus, 68), que reforça o que é recapitular todas as nossas obrigações do dia a dia e usá-las para amar: “Ocupa-te dos teus deveres profissionais por Amor; leva a cabo todas as coisas por Amor, insisto, e verificarás – precisamente porque amas, ainda que saboreies a amargura da incompreensão, da injustiça, do desagradecimento e até do próprio fracasso humano – as maravilhas que o teu trabalho produz.” O Senhor nos dá infinitos meios de amá-Lo através das coisas pequenas deste mundo. Que sejamos inteligentes e responsáveis para usufruir de todas elas, pois não é necessário fazer coisas extraordinárias para chegar ao Céu, e sim fazer bem as coisas mais ordinárias possíveis.
Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
Respostas de 2
Parabéns pelo escrito! ❤️Pena que o áudio não passa nenhuma emoção… Será a siri falando???
A paz!
Ficamos felizes que gostou do artigo.
O audio é um plugin, e realmente não demostra emoção.
Abraços Fraternos!