Antes de falarmos do medo de errar, precisamos, primeiramente, recordar qual é nossa condição diante de Deus.
Todos nós, como nos ensina o livro do Gênesis 1,26-27, fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, dotados de inteligência e vontade, realidades que nos diferenciam das demais criaturas. Antes do pecado original, da queda de Adão e Eva, o erro era desconhecido ao ser humano, pois ele vivia em plena comunhão com Deus e com tudo o que havia sido criado.
Ao pecar, por mau uso da liberdade recebida de Deus e por acreditar na mentira de Satanás, a plena comunhão é rompida e, ao se separar de Deus, o homem torna-se suscetível ao erro.
Contudo, precisamos nos recordar que Cristo veio ao mundo para resgatar a dignidade do homem, reparar o erro cometido no Paraíso, e nos tornar, em Si mesmo, filhos de Deus pelo dom do Santo Espírito (cf. Efésios 1,5-8; Romanos 8,15-17).
Em Cristo, nossa dignidade está no fato de sermos filhos de Deus. Compreender tamanha graça é o primeiro passo para superarmos o medo de errar, pois reconhecemos que Deus nos ama, porque é amor (cf. I João 4,8), e porque nos tem como Seus filhos.
O amor de Deus por todos nós não está pautado em nossa capacidade de sermos bons, de fazermos tudo da melhor forma ou em nossos erros. Podemos constatar isso na parábola do filho pródigo (Lucas 15,11-32), que expõe dois filhos com atitudes muito diferentes, mas com um mesmo pensamento a respeito do amor do pai. Ambos acreditavam que poderiam ser mais ou menos amados de acordo com o que fizessem.
Nosso medo de errar, muitas vezes, está baseado numa grande mentira enraizada em nós: “se eu errar, não serei aceito, amado”. Queremos a todo custo mostrar que somos bons e isso, na verdade, revela inseguranças que temos.
Ter medo de errar é não aceitar a própria condição de alguém que é limitado em suas habilidades, conhecimentos, frágil, dependente de Deus e dos outros, pois ninguém sabe tudo ou é capaz de realizar todas as coisas sem o auxílio de outra pessoa.
Se damos o melhor de nós em algo que precisamos fazer, por exemplo, se empenhamos tudo o que está ao nosso alcance para que determinada situação seja concluída com sucesso, não devemos nos espantar com o fracasso, pois isso, por mais constrangedor que possa ser, revela nossa fragilidade, nossa condição humana. É claro, precisamos considerar, que sempre queremos ter bom êxito em tudo o que fazemos. Isso é bom e precisamos constantemente agir com essa intenção. Entretanto, tenhamos à vista que o erro é sempre uma possibilidade iminente, pois perfeito é somente Deus.
“… cada cristão sabe bem que deve fazer tudo aquilo que pode, mas que o resultado final depende de Deus: esta consciência ampara-o no cansaço de cada dia, de maneira especial nas situações mais difíceis. A este propósito, Santo Inácio de Loyola escreve: ‘Age como se tudo dependesse de ti, mas consciente de que na realidade tudo depende de Deus’ (cf. Pedro de Ribadeneira, Vita di S. Ignazio di Loyola, Milano, 1998)”, nos ensina o papa emérito Bento XVI no Angelus de 12 de junho de 2012.
Humildade e medo de errar
A busca da humildade é um caminho seguro para a aceitação de si próprio, com todas as virtudes e limitações que se possui, e, consequentemente, para a superação do medo de errar. O humilde sabe-se dependente de Deus e sempre se empenha em dar o melhor de si, consciente de que todo bom resultado é fruto da graça em sua humanidade e de que todo erro é manifestação visível de sua condição fraca.
Para o humilde, o erro é uma grande oportunidade para se voltar para Deus, para se lembrar que não sabe e não pode tudo, que precisa depender, que precisa estudar mais, recomeçar, pedir perdão… e tudo bem!
Como nos ensina Santa Teresa d’Ávila, “humildade é a verdade”. Sendo assim, se queremos ser humildes, comecemos pela aceitação de nossa verdade: somos filhos imperfeitos, pois essa aceitação tira de nós o pesado e mentiroso fardo de termos que acertar sempre.
Mais do que nossa perfeição, no sentido de nunca cometermos erros, Deus espera que amemos o que somos, porque Ele nos ama assim, sem nos acomodarmos, obviamente, em melhorarmos naquilo que está ao nosso alcance.
“O que em minha alma agrada ao bom Deus é ver o amor que tenho à minha pequenez e à minha pobreza, é a minha esperança cega em sua misericórdia” (Santa Teresinha do Menino Jesus).
Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator