Penso que o tema das cobranças seja tão variado que ficaria difícil aqui uma solução geral, que sirva para tudo.
Por essa razão, vou escrever aqui como eu tenho vivido a questão e espero que esse testemunho possa ajudar você a encontrar a sua resposta. Já peço desculpas no início, pois como são descobertas recentes no trato com as cobranças, ainda estou em processo de aprendizagem.
Loucas cobranças: tudo feito e nada resolvido.
Sempre me senti muito cobrada, seja pelas pessoas, seja pelos afazeres e trabalhos, seja por mim mesma e andava correndo atrás de satisfazer a tudo e a todos, numa necessidade de sempre atender às expectativas. Percebi, porém, que por mais que me esforçasse, nunca conseguia responder à toda demanda e quando conseguia quitar algumas “dívidas”, outras surgiam e eu me via numa “rodinha de hamster”, correndo sem sair do lugar, sem progredir. Por um longo tempo fui deixando as coisas que me faziam bem e me realizavam em último lugar para socorrer as emergências diárias que nunca cessavam e isso serviu para me desgastar e me escravizar. O, ora caía na ansiedade, ora relaxava em concessões para compensar o esforço a que me prestava. Resultado: tudo feito e nada resolvido!
Numa dinâmica de oração, foi pedido para que eu desenhasse como eu me via dentro da minha família e no mundo e no desenho me fiz curvada, com vários pesos nas costas enquanto os outros “lavavam as mãos”. Percebi que eu me sentia como um centro de soluções, onde as pessoas depositavam tudo o que não queriam para ficarem livres e viverem leves! Esse desenho retratava como eu me via sobrecarregada, com a figura que construí em cima das ilusões de quem eu deveria ser e não da verdade de quem eu era!
Cobrança e autoconhecimento
Depois do desenho, refleti muito sobre minha postura, aquela que havia adotado ao longo dos anos e que me deixava curvada em mim mesma, até que numa confissão o padre foi exatamente ano ponto quando disse que eu precisava “me posicionar” diante da minha vida. Fui percebendo os motivos pelos quais fui absorvendo tudo, todas as cobranças e demandas, o que me fez me deixar de lado numa falsa doação, onde ao desejar me doar, me retinha, pela razão de não me assumir, não me acolher para poder me dar ao outro. Percebi que a minha pior cobrança era minha própria e não a dos outros. Eu era meu próprio “algoz”, como diz Augusto Cury. Ao me cobrar atender a tudo e a todos, fui absorvendo coisas que não eram minhas, responsabilidades que não me pertenciam, não soube delegar, não soube cobrar devidamente, pois essa palavra “cobrança” me era pesada demais.
Em todos esses anos fui agindo a partir de uma compreensão distorcida de mim e Deus me revelou coisas que eu jamais descobriria sem Ele. A misericórdia Divina tem me curado para que eu aja de acordo com a minha verdade e não baseada nas minhas autoilusões. Agir aà partir da verdade é libertador!
Se faz necessário, essencialmente necessário, a vida de oração. Sem vida de oração não há real autoconhecimento, pois como diz Sta. Terezinha: “Sou aquilo que Deus pensa de mim”.
O desafio de aprender a viver curada
Creio que sem um autoconhecimento, dificilmente encontraremos a maneira eficaz de lidar com as cobranças. Hoje lido melhor, embora tenha muito a aprender ainda, pois peço sempre o discernimento ao Espírito Santo do que eu preciso fazer, deixar ou delegar; quais são as reais prioridades, as verdadeiras urgências, um discernimento entre o que eu preciso e o que eu quero atender. Ter uma agenda me ajuda. Escrever as tarefas da semana, deixando alguns espaços para laser (leitura, filmes, jogos, etc.), com horários de oração e afazeres de minha real responsabilidade, horário de trabalho e de descanso. Tenho uma agenda semanal que me permite visualizar os afazeres, mas cuido para que ela não me engesse. Entrego a Deus o meu dia e deixo que Ele remaneje o que desejar, porque na verdade, o que descansa é estar na vontade de Deus, pois quando estou em Sua vontade, estou no lugar certo, na hora certa e fazendo o que eu devo fazer, sempre. Confiar e me abandonar na providência do Deus que me ama até o ciúme é o que tem me ajudado a lidar com as cobranças, que permanecem, mas não me regem mais como antes. Estou aprendendo a postura libertadora de ir deixando que Deus, e somente Ele, reine em mim!
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator