Como agir diante da minha fragilidade?

fragilidade

Como poderei progredir em minha relação com Deus e santidade se em mim há apenas fragilidade?

Essa pergunta nos ronda a cada instante de nossas vidas quando percebemos que, apesar do nosso esforço na busca por Deus, parece que não saímos do lugar. Nos deparamos com nossa fragilidade e incapacidades que evidenciam o abismo entre nós e o Senhor.

De fato, esse abismo existe não porque o criamos, mas porque somos fracos e pecadores enquanto Deus é Absoluto, Perfeito, Onipotente entre tantos outros atributos. Aqui está algo que não podemos nos esquecer, ou melhor, inverter: Ele é e eu não sou. Deus é Tudo e eu, nada. Somos criados a partir da existência de Deus e, portanto, nossa vida só existe n’Ele. Não temos poder algum sobre nossa existência, só Deus tem. Dependemos d’Ele para existir e se por algum instante Deus se esquecesse de nós, seríamos aniquilados. Essa verdade é uma premissa da vida humana.

Somos criaturas elevadas à condição de filhos pelo Sangue Redentor de Cristo, livres do pecado original pelo Batismo, porém ainda carregamos as marcas do pecado. É por esse motivo que nossa fragilidade é tão latente em tudo o que fazemos e tocamos.

No mundo em que vivemos a fragilidade tem uma conotação negativa. Desde que nascemos ouvimos que temos que ser fortes, resilientes e não podemos mostrar nossas fraquezas para não sermos prejudicados por causa delas. Ouvimos que a fragilidade é sinônimo de fraqueza e que não há lugar para os fracos. Essa narrativa acaba distorcendo em nós o conceito de fragilidade e com o impulso do pecado, acabamos por viver numa luta contra nós mesmos e nunca saímos do lugar. Construímos uma casca, ou seja, alguém por fora que esconde o verdadeiro “eu” como uma fantasia que entrega aos que estão ao seu redor uma personagem.

Assim dito, voltemos à pergunta inicial. Se somos frágeis, fracos e pecadores, como chegar à Deus? É preciso acolher o fato de que a fragilidade não é um problema e sim, como dito, algo que nos constitui, a nossa realidade humana. A novidade que podemos acrescentar, e que é a grande resposta, é que a fragilidade é a solução para chegarmos mais próximos de Deus e assim crescer nas virtudes e na santidade.

Deus se atrai dos corações fracos, frágeis e dependentes d’Ele. Deus é Amor e o único movimento do amor é dar-se o tempo todo, por isso, Deus deseja dar-Se a nós a todo instante. Só receberemos Seu amor se formos humildes e fracos e nos colocarmos frágeis diante d’Ele, para que Ele se atraia e nos preencha com seu amor sendo o nosso Tudo.

“Quando ouviram o ruído do Senhor Deus, que passeava pelo jardim, o homem e a mulher esconderam-se do Senhor Deus no meio das árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: ‘Onde estás?’ Ele respondeu: ‘Ouvi teu ruído no jardim e fiquei com medo, porque estava nu e escondi-me’. Deus perguntou: ‘Quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, cujo fruto de proibi?’”. (Gênesis 3, 8-11)

Adão se escondeu de Deus após se dar conta de sua nudez e depois teceu tangas com folhas para se cobrir. Podemos dizer que a nudez de Adão é a fragilidade do pecado que antes ele não conhecia. Assim como Adão, nós também nos escondemos do Senhor, tecemos tangas e manipulamos nossa fragilidade porque assumi-la é como tocar a nudez de nossa existência que remonta às nossas origens em Adão, o pai dos viventes.

Para ser frágil,  é necessário se fazer frágil e reconhecer-se frágil e, portanto, dependente de Deus, que é a nossa Força. Do contrário não haverá espaço para Deus, pois Ele se afasta dos orgulhosos, soberbos e prepotentes. 

Vamos exemplificar: pode um copo com água receber mais água? Creio que não haverá espaço e o líquido transbordará. Se uma chave quebra dentro da fechadura é possível tentar colocar outra chave lá dentro? Creio que não, pois o espaço já está preenchido.

Dessa forma, é possível que o amor de Deus entre em um coração cheio de si mesmo? Creio que não haverá espaço! E o coração que está cheio de si mesmo é aquele que se “maquia” ou manipula sua fragilidade diante de Deus, que não se dobra humilde diante da grandeza suprema do Senhor, aquele que não se acolhe como é.

Em outras palavras, meu querido (a), irmão (ã), deixemos Deus ser Deus. É preciso ser curado de toda a desconfiança e lançar-se no amor de Misericórdia que deseja nos elevar ao Coração do Senhor. Nossa fragilidade não pode ser o foco, mas sim Deus, que é quem precisa estar sob os holofotes no nosso coração. 

Deixe com que Ele se atraia de tuas misérias e entrega-te confiante a Ele em atitude de dependência e abandono! Contemple o Senhor que habita em teu coração e provará da sede que Ele tem de ti. Não se esforce, mas deixe que Ele faça tudo por ti. Lembra-te, seja um copo vazio e a fechadura à espera da chave acolhendo com serenidade a tua verdadeira identidade sem se esconder.

“Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”. (2 Cor 12, 10)

Luciana Santos Ronqui
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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