Existem situações na vida que “pedem” para que abordemos alguém para lhe expor sua fragilidade. Seja porque essa pessoa tem feito algo que prejudica a si mesma, seja por algo que lhe atrapalha na relação com os demais, seja porque atenta contra sua própria Salvação, seja simplesmente porque algo nos incomoda!
Diante de tal necessidade, cada um se comporta de um jeito: alguns, com medo da reação do outro, preferem não dizer nada e “empurrar com a barriga” esse convívio; outros, sabendo da importância da sinceridade (mas ignorando a maneira de exercê-la), expõem a fragilidade do outro, muitas vezes, de maneira ofensiva, sem respeitar o seu sagrado.
O que nosso Pai Celeste espera que façamos?
FALAR OU CALAR?
Primeiramente, devemos submeter tudo ao Espírito Santo. É Ele Quem nos dá a Sabedoria necessária diante de cada caso.
Inspirados por Ele, haverá situações onde a melhor estratégia será o silêncio e a intercessão. Nem sempre as coisas serão resolvidas através da ação humana, devido à complexidade e delicadeza daquele momento. Quando a saída for o silêncio, não significa que estamos nos omitindo, mas contando com o auxílio direto d´Aquele Único que tem poder para mudar todas as coisas. Tomemos cuidado para que esse silêncio não provoque em nós um comodismo. Façamos questão de nos comprometer com essa intercessão! Não deixemos esmorecer em nós a chama do zelo pelo bem!
Ainda movidos pelo Espírito de Deus, podemos ser impelidos a ter uma conversa com o outro. Quando isso acontece, pode surgir o “medo” de falar. Mas lembremos que o “medo” que devemos ter é justamente o das consequências de não dizermos o que precisa ser dito! A Verdade liberta (cf. Jo 8,32)! Quantas situações podem ser transformadas após uma conversa! Podemos até mesmo salvar a alma deste alguém, se o exortarmos e o ganharmos para Deus!!!
QUAIS AS NOSSAS REAIS INTENÇÕES?
Precisamos também refletir sobre as motivações que surgem em nossos corações quando pensamos na possibilidade de abordar alguém para lhe expor sua fragilidade.
Será que temos como objetivo feri-lo, por algum ressentimento dele guardado? Será que, por disputa, queremos nos exaltar, através da humilhação alheia, na frente de outras pessoas? Quando percebemos esse movimento em nós, quem precisa ser corrigido somos nós mesmos!
Por um outro lado, podemos encontrar em nós motivações positivas: a caridade de edificar o outro, dispondo-nos até mesmo ao desapego de nossa autoimagem, pois o outro poderá não gostar de nossa exortação (por mais cuidadosa que ela seja).
Busquemos então a imparcialidade, um esforço para não agirmos segundo as tendências de nossos afetos: a tendência de “amenizar as verdades” para alguns, ou de “caprichar na correção” para outros… Que nos fundamentemos sempre na verdade.
SOBRE A ABORDAGEM
Geralmente, a melhor abordagem se dá após “ruminarmos” com calma, identificando o que a situação “pede” em termos de conteúdo. Iluminados pela nossa razão e pela sabedoria do alto, conversamos com o outro A SÓS.
Estar a sós com o outro nos protege do “orgulho ferido” e da necessidade de provar aos “observadores” que “estamos com a razão”. Isso evita a maior “exaltação dos ânimos”, de ambas as partes.
Façamos tudo em espírito de caridade: humilhar e provocar o outro não leva a lugar nenhum. Isto é, ao contrário, instrumento do maligno. Se queremos ver alguém realmente transformado, atuemos com amor e discrição. Lembremos que somos (e sempre seremos) também portadores de fragilidades. Lembrar disso nos traz um olhar de misericórdia, e nos conduz a um comportamento que desejaríamos que outros tivessem conosco, se os papéis estivessem invertidos.
É muito enriquecedor se além das críticas inevitáveis, temos também a oportunidade de exaltar os aspectos positivos do outro. Isso lhe revela a sua TOTALIDADE, fazendo com que ele não se sinta REDUZIDO às suas fragilidades. Outro ponto é mostrar que até mesmo em suas fraquezas existe um potencial. Pois, como disse São Paulo: “(…) quando me sinto fraco, então é que sou forte”. (II Cor 12,10b) É em nossa fraqueza, e na maneira com que lidamos com elas, que se revela a Força de Deus (cf. II Cor 12,9)
Antes de ter essa conversa, clamemos o auxílio de Deus, a intercessão de Maria e, uma preciosa dica: pedir para o nosso Anjo da Guarda conversar com o Anjo da pessoa, preparar os corações!
EXORTAÇÕES PÚBLICAS
Podem acontecer situações que requerem nossa exortação naquele exato momento, onde não podemos esperar para agir. E pode ser que estejamos rodeados de outras pessoas. Ou seja: diferente da situação ideal, que citamos acima. Quando isso se fizer necessário, tenhamos Jesus como inspiração. Tantos evangelhos narram sobre suas exortações: quando repreendeu Tomé na fraqueza de sua fé, quando denunciava a hipocrisia dos fariseus, quando “puxou a orelha” de Marta, que precisava rever seus excessos de afazeres para estar em Sua presença…
Aquilo tudo que Ele disse serviu para outras pessoas, inclusive para nós, que nos encontramos há dois milênios de Sua geração!
CONCLUSÃO
Seja em particular ou em meio a outras pessoas, o caminho é sempre o do CONVENCIMENTO. Do latim, a palavra “convincere” significa: “com” (junto), “vincere” (vencer). O objetivo de toda abordagem exortativa deve ser esse “vencer junto”, promovendo realidades melhores!
O que está em jogo são sempre nossas intenções (de falar ou de calar). Escolhamos sempre a vontade de Deus! Se for para falar, que sejamos Seus profetas! E que o reino de Deus vença no meio de nós!
Luiza Torres
Discipula da Comunidade Católica Pantokrator