Hoje precisamos tocar em um assunto muito sério que tem assolado nosso tempo: a falta da verdadeira alegria. Ninguém pode viver bem sem alegria, ela é o combustível para uma vida feliz e saudável. Sem ela nós somos como plantas sem água, sem adubo, que ficam raquíticas e não dão frutos.
A Palavra de Deus vai nos dizer em Provérbios 17,22, o seguinte: “Coração alegre, bom remédio, um espírito abatido seca os ossos”. Que grande verdade para nós! Não tem coisa pior que uma vida sem alegria. E não estamos aqui falando de uma alegria superficial, exterior, artificial que se “compra” em filmes, shows de humor, consumismo e muitas outras coisas supérfluas, e sim, da alegria verdadeira, que não se compra, que é gratuita, mas que precisa de uma “fórmula”.
Qual é a fórmula da alegria?
São Paulo vai nos dizer na carta aos Filipenses 4,4: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos”. Aqui está o essencial, a fórmula da autêntica alegria: Deus. Ela tem uma fonte que jorra perenemente, ela vem de Deus, porque só Deus é plenamente feliz, portanto, a lídima alegria só pode vir Dele.
Para usufruirmos dessa alegria precisamos de uma sincera conversão: deixar de buscar nas coisas passageiras e artificiais e mergulhar na fonte genuína. Mudar a rota de nossas buscas. Isso é muito sério! Não podemos viver dissolutamente como se Deus não existisse, igual fez o filho pródigo (cf Luc 15,11ss) que buscou nos bens a sua alegria e ela se foi e aí veio a solidão, a tristeza, o sentimento de abandono e tudo o mais.
Somente quando volta para casa ele vai descobrir a autêntica alegria: “Façamos festa pois este meu filho estava morto e reviveu”. Viver sem alegria é o mesmo que estar morto, porque perdemos o essencial e traz consequências muito grandes em nossa vida que é a tristeza. Ela é a raiz de muitas enfermidades espirituais, psíquicas e até físicas.
Todavia, quando encontramos a verdadeira alegria, assemelhamo-nos ao filho que volta para casa e participa do banquete onde ele é verdadeiramente restaurado em sua dignidade, em sua filiação.
Combater na alegria
Tudo se torna mais suave quando temos um coração alegre. Teremos as mesmas dificuldades, entretanto, o impacto delas em nossa vida será bem diferente uma vez que temos o antídoto contra a tristeza, raiz de muitos males.
Para mim uma experiência marcante foi quando conheci pessoalmente o Pe Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova. Foi em um congresso das Comunidades Novas promovido pela Comunidade Pantokrator em Campinas.
Estava escalado para servir na missa como Librífero e o Padre fez questão de cumprimentar a cada um que estavam na procissão de entrada. Quando chegou perto de mim, deu um sorriso que jamais esquecerei. Vi naquele dia uma alegria que brotava da alma, de uma alma que tinha com toda a certeza provações muito grandes, porém, sabia seguir o conselho de São Paulo: “Alegrai-vos no Senhor”, por isso sua expressão não era afetada e nem dominada pela tristeza.
Desde então, comecei a olhar com mais cuidado para as pessoas e percebi que o verdadeiro sorriso, sinal de alegria, não está nos lábios, e sim nos olhos, porque eles refletem a alma. E isso fica muito claro quando olhamos pessoas que têm um sorriso largo nos lábios e uma tristeza profunda no olhar. Pessoas que vivem em um mundo artificial, achando que na fama, na vanglória desse mundo vão encontrar a autêntica alegria.
A alegria é um tesouro do qual não podemos abrir mão. Com esse tesouro “compramos” o necessário para sermos felizes. Em um mundo onde se vende de tudo para satisfazer as pessoas, ele não tem a fórmula da autêntica alegria. E hoje quem trabalha com pessoas que estão assoladas por muitos problemas, logo percebe nelas uma falta de alegria muito grande.
Intimidade com Deus é a fonte.
A vida dos santos, quando olhamos superficialmente, pensamos que eles só vivem de infelicidades, dores e provações. É um completo engano! Na realidade, eles encontraram a alegria verdadeira e isso tomou de tal modo suas almas que não importa as provações que passam, elas estão fincadas na alegria e até desejam provações, não porque são masoquistas, e sim porque conheceram, experimentaram e viveram da autêntica alegria. E as provações nada mais são que purificação das falsas alegrias.
Vede as palavras de Santa Elisabete da Trindade: “Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim, para me estabelecer em Vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso mistério! Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que nunca aí eu Vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa ação criadora»”.
Combater na alegria é deixar Deus habitar em nossa alma, não tem outra fórmula mágica.
Elias Antonio Breda Gobbi
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator