Está aí algo que sempre me intrigou. Quando reflito a respeito do amor, idealizo grandes feitos. O amor das declarações, das grandes renúncias, dos mártires, o amor da Cruz. Um amor que salva precisaria custar o tanto que se vale, certo? Errado! É o que nos ensina, a pequena gigante Doutora do amor, Santa Teresinha do Menino Jesus.
A jovem Carmelita que viveu enclausurada tinha no coração um anseio ardente pela salvação das almas. Desejava os grandes feitos e os sacrifícios, mas ao se deparar com a sua verdade, soube mergulhar na misericórdia de Cristo e reconhecer que para uma alma pequena, a única via de acesso ao Pai seria o amor: “compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno”.
O amor pequeno
Santa Teresinha descobre que toda e qualquer situação do nosso dia a dia é uma oportunidade única para amar. Até mesmo quando nos abaixamos para apanhar um alfinete, com amor, podemos salvar uma alma. Isso me parecia tão simples e tão complicado ao mesmo tempo.
Até que em meados de 2018, durante uma fase de muitos questionamentos na minha vida, me sentia de certa forma “perdida”. Eu havia optado por deixar a minha vida profissional para me dedicar à minha família. O que tinha me movido era o amor, mas ainda não conseguia encontrar um sentido naquela decisão. Eu ficava em casa, mas não estava lá. Quando um dia, enquanto limpava o chão, clamava a Deus que encontrasse o meu lugar ali. Foi então que tive uma experiência através de Santa Teresinha, percebi que, no coração da minha casa, eu era o amor.
Percebi que ao deixar o chão limpo, a comida feita, a roupa cheirosa, eu estava sendo amor. Ao cuidar dos meus filhos e do meu esposo, ao abrir mão das minhas vontades, do meu descanso, eu estava sendo amor. E se, nesse movimento de amor, mesmo diante das minhas misérias, eu me deixasse ser alcançada pela misericórdia de Deus, isso salvaria almas. Essa dinâmica extraordinariamente simples deu sentido à minha decisão.
A grandeza do amar
Não nos enganemos com a simplicidade e a pequenez com que Santa Teresinha nos ensina o caminho da pequena via. Certamente é simples, mas é aí que pode estar nossa grande dificuldade.
Nem sempre seremos chamados a amar aqueles que também nos amam. Podemos ser impelidos a ser amor na humilhação, na injustiça, no desânimo, na angústia. Muitas vezes, precisaremos ser amor no escondimento, na solidão, na aridez do nosso coração. Não se trata de sentimento, o amor precisa ser decisão. E é aí que a graça acontece. Quando nada é favorável e ninguém está vendo, mas mesmo assim eu me decido pelo amor, Deus realiza sua Obra.
Que nosso coração possa ser incendiado por esse desejo de salvar almas, e que possamos encontrar no amor o combustível necessário para que essa grande graça aconteça.
Vanessa Cícera dos Santos Ramos
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator