Você é do tipo de pessoa que prefere ser feliz ou ter razão? Ou é daquelas que gostam/preferem ter os dois, ser feliz e ter razão?
Pensando bem, seria legal poder ficar com as duas coisas, mas nem sempre é possível. Além disso, nossa obstinação em mostrar que estamos com a razão em determinada situação pode nos levar a conflitos que só trarão tristezas, mágoas, e não trarão frutos bons.
Há momentos em que nos sentimos tão injustiçados que nos é impossível calar diante de tal situação. Outras vezes, achamos impossível deixar pra lá e seguir em frente. Queremos mostrar que estamos com a razão e o outro está errado. Certamente, todos nós em algum momento de nossa vida passamos por alguma situação assim (ou estamos vivendo algo assim nesse momento). Por isso, gostaria de transcrever abaixo um diálogo de Santa Teresinha com sua irmã Celina (irmã Genoveva dentro do Carmelo), que faz parte originalmente do livro “Conselhos e Lembranças”:
“Muito desanimada, o coração ainda pesado por causa de um combate que me parecia insuperável, fui dizer-lhe: ‘Desta vez é impossível, não posso passar por cima!’
‘Isso não me admira’, respondeu-me. ‘Nós somos muito pequenas para nos pormos acima das dificuldades, é preciso que passemos por baixo’. Lembrou-me então esta passagem de nossa infância: achávamo-nos em casa de nossos vizinhos, em Alençon; um cavalo impedia a entrada do jardim. Enquanto os adultos procuravam um meio de passar, nossa amiguinha não achou nada mais fácil do que passar por baixo do animal. Ela foi a primeira a deslizar; estendeu-me a mão, segui-a puxando Teresa e sem curvar muito nossa pequena estatura, chegamos ao fim. ‘Eis o que se ganha em ser pequena’, concluiu ela. ‘Não há obstáculos para os pequenos, eles se metem por toda parte. As grandes almas podem passar sobre os negócios, rodear as dificuldades, chegar, pelo raciocínio ou pela virtude, a porem-se acima de tudo, mas nós que somos pequeninas, devemos precaver-nos contra essa tentativa. Passemos por baixo! Passar sob os negócios é não os encarar nem analisar de muito perto’.”
Vemos aí que calar nem sempre é perder a razão, apenas fazer uma escolha por aquilo que trará comunhão e paz. Para nós e nossos irmãos. Calar é se fazer pequeno, entregar, submeter as situações para que o Senhor faça a justiça d’Ele, não a nossa.
Atualmente, vivemos num contexto social que nos insere numa busca de constante afirmação, por isso queremos ter opinião sobre tudo e estar certo sobre tudo Quase não há espaço para o confronto amigável, ou o debate, ou até mesmo para o silêncio, sendo esse último o mais importante de tudo. E silenciar, calar o nosso ego, parece não fazer mais parte do nosso vocabulário.
“Quer dizer, então, que se eu quiser ter razão em algum momento, não serei feliz?” Não é isso que quero dizer. Gostaria apenas de fazer uma reflexão sobre essa necessidade obstinada que às vezes toma conta do nosso coração, de querer ser grande, poderoso, cheio de razão, ter sempre ótimas opiniões sobre variados assuntos do cotidiano. Todas essas agitações roubaram o lugar do silêncio em nossa vida, e fica parecendo errado ficar quieto durante uma discussão que não agrega nada, ou aceitar a opinião divergente de outros.
Bom, entre ser feliz e ter razão, escolha ser feliz sempre, ainda que isso signifique calar, ser pequeno, aceitar com resiliência alguma injustiça sofrida, enfim, dar espaço para a justiça de Deus, a razão de Deus, e não a nossa.
Sigamos o conselho de nossa irmã Teresinha, “passemos por baixo”. Silencie, avalie, peça o discernimento do Espírito Santo diante das situações, e confie na direção que Ele guiar.
Não tenha medo de ser pequeno, pois como o Senhor nos diz: “Todo aquele que se tornar humilde como uma criança, será o maior reino do céus”. (Mt 18,4)
Que o Bom Deus nos abençoe e a Virgem Santíssima nos guie nesse caminho calar a nossa “razão” na busca da felicidade dos santos.
Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator