Por que Deus permite o pecado? Não seria mais fácil se simplesmente o pecado não existisse? A resposta é não, pois o Senhor tem um projeto de salvação para nós. As provações, as lutas e a nossa decisão passam pelo cadinho da misericórdia de Deus.
Na bíblia vemos vários relatos de pecadores sendo elevados e tendo suas vidas transformadas após viver a experiência do perdão e da misericórdia de Deus. Assim foi com Zaqueu (Lc 19,1-10), o cobrador de impostos que era infiel no cargo em que ocupava. Zaqueu ao deixar que o Senhor entrasse em sua casa, teve sua vida modificada ao reconhecer-se pecador: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo.” Perdoado, converteu-se! Por isso, Deus pode dizer: “Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. Eis como a salvação se deu na vida de Zaqueu.
O pecado no plano da salvação
Pelo pecado de Adão fomos marcados e privados da glória de Deus. Contudo, o amor e a misericórdia do Senhor são tão imensos, que Ele não Se conteve e nos enviou Jesus. Podemos ler de forma belíssima no relato da pecadora caída (João 8, 1-11) como Jesus age com sabedoria, mansidão e justiça. Ele conhecia os pecados da mulher, mas também conhecia a intenção daqueles que a julgavam. Ao dizer “atire a primeira pedra quem nunca pecou”, Jesus não quis somente poupar a vida física daquela mulher. Ele proporcionou que todos pudessem entrar em um movimento de reconhecer os seus próprios pecados, arrependerem-se e mudar de vida.
Jesus de forma alguma foi bonzinho com a mulher e muito menos é bonzinho ao nos perdoar dos nossos pecados. A atitude de Jesus é resultado de Sua plena justiça e misericórdia. Ele conhece nossas fraquezas e se permite certas ocasiões é para que nos aproximemos Dele. Dizer não ao pecado é nossa via de salvação! Entretanto, caso nossa fraqueza nos leve a cair em pecado, é esta Sua misericórdia que nos levanta e nos coloca em movimento: “Vai e não voltes a pecar”.
A misericórdia passa pela nossa decisão
O Senhor nos deu a graça do sacramento da confissão para que diante da nossa miséria e incapacidade, arrependidos, possamos novamente estar em Sua presença. É importante ter a consciência de que a cada situação de pecado temos sempre uma escolha. E é essa decisão diante do pecado que nos fará adentrar a misericórdia de Deus ou a nossa própria condenação.
Em São Lucas 7-36, ele nos relata que Jesus entrou na casa do fariseu, do mesmo modo como fez com Zaqueu. No entanto, o fariseu decidiu-se pelo pecado ao trazer em seu coração acusações, falta de caridade e prepotência contra a pecadora que se lançou aos pés de Jesus. Com essa atitude, o fariseu, não foi capaz de entrar no movimento de misericórdia e provar do amor de Deus.
Falar sobre pecado e refletir a cerca da misericórdia de Deus, não deve ser para nós motivo de autopiedade, medo ou tristeza, ao contrário, devemos agir como uma alavanca de esperança. Os santos, Santa Teresinha do Menino Jesus e Santo Agostinho, descobriram essa alavanca da esperança, pois viram nos obstáculos uma oportunidade de amar mais a Deus, como nos ensina o próprio Cristo: “qual deles o amará mais? Simão respondeu: “A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou.” (Lc 7, 42-43)
Vanessa Cícera
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator