O mistério da paternidade do Pai, expresso no relacionamento com Jesus nos Evangelhos, nos revela toda a beleza que a paternidade abarca. Nela está a fonte da existência, e Jesus insiste constantemente em apoiar-se nessa relação. Nas Sagradas Escrituras, Jesus diz que seu alimento é fazer a vontade do Pai, e essa frase parece chocante nos tempos atuais, em que o homem se autoproclama independente e considera inaceitável viver em submissão, segundo o pensamento moderno.
Mas aí está o grande engano do homem, pois essa pseudo-independência rompe laços, levando-o a ficar à deriva sem perceber.
O poder da hierarquia
Uma das coisas mais belas na história da humanidade sempre foi a hierarquia, que mantém uma linha contínua e protetora de nossa história. Nessa linha está a marca do nosso DNA, nossa primeira identidade, que nos interliga em um processo contínuo, no qual nossa história é tecida, não apenas a partir de nós mesmos, mas de toda a linhagem. Contrariando o que muitos pensam e pregam, a hierarquia não é opressora; pelo contrário, é protetora, transmitindo de geração em geração a beleza da missão de cada linhagem. Jesus é da linhagem do rei Davi.
Astúcia do demônio
Percebendo que essa hierarquia protegia cada linhagem por séculos, o demônio investe em romper essa linha e, de certa forma, tem conseguido, causando desgraça ao homem, que perde sua bússola e fica à mercê das ideologias do mundo, tornando-se uma presa fácil.
O desafio da educação dos filhos
Diante disso, tem se tornado muito difícil educar os filhos. Muitos “especialistas” oferecem fórmulas mágicas, mas sabemos que, na prática, não é bem assim. A educação de hoje requer dos pais uma atenção que vai além das aparências externas; é preciso mergulhar no interior de cada filho para, a partir de cada realidade, tomar atitudes concretas sempre fundamentadas no amor. Cada filho é diferente do outro, portanto, não existe uma fórmula única. O que não muda é o amor, mas o agir deve ser conforme a particularidade de cada um.
Antigamente, a educação era mais abrangente, mesmo diante de muitos filhos, pois a conexão da linhagem era muito forte. Hoje, precisamos de uma sabedoria maior, pois não há aquele respeito filial tão forte. A cultura do mundo moderno tem tentado de todas as formas roubar nossa autoridade sobre eles, mas não podemos de maneira alguma perder essa autoridade, pois nela está a âncora que sustenta nossos filhos no caminho do bem.
Meu testemunho no relacionamento com Deus Pai e o pai terreno
Em um processo doloroso de mágoa com meu pai terreno, eu perdi na juventude essa conexão com a linhagem e me senti solitário e abandonado. Em uma missa, enquanto se cantava a oração do Pai Nosso, comecei a chorar copiosamente e percebi que meu relacionamento com o Pai Celeste estava bloqueado devido à relação ruim com meu pai terreno. Foi um momento de grande cura, e meu relacionamento com Deus mudou completamente.
No entanto, ainda restava o trauma com meu pai, pois sentia uma grande indignação por ele. Em uma oração, isso foi revelado através de uma palavra de ciência, e comecei um processo de perdão, o que melhorou muito minhas atitudes com ele. Quando a reconciliação acontece, restabelece-se a conexão da linhagem, da primeira identidade, e isso é muito belo, pois não muda os defeitos de meu pai, mas muda meu coração. A partir de mim, posso ser um continuador dessa linhagem com meus filhos e transmitir, através dela, a verdade que é Jesus.
Devemos crer que tudo pode ser recapitulado e reordenado pelo sacrifício de Jesus na cruz. A beleza e a potência da paternidade não podem ser nunca abandonadas por nós; basta nos espelharmos no relacionamento de Jesus com o Pai Celeste. É fundamento de unidade, amor e comunhão. “Será poderosa sua descendência na terra e bendita a raça dos homens retos. Suntuosa riqueza haverá em sua casa e para sempre durará a sua abundância.” Esses versículos 2 e 3 do Salmo 111 confirmam tudo isso.
Elias Antonio Breda Gobbi
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator