“Adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer…”
O clima do final de ano é um dos meus preferidos. É a típica época em que nos deparamos com uma sensação de recomeço, de esperança. Ficamos imensamente empolgados com o novo ano que logo bate à porta: quantas possibilidades nos surgem! Tantos planos antigos que eu finalmente poderei tirar do papel, ou coisas novas para aprender.
E quem, nesse clima, nunca fez planos, propósitos ou estabeleceu metas para o ano que se inicia que atire a primeira pedra!
Se eu pedisse para você parar a leitura do texto por alguns segundos e fechasse os olhos, você provavelmente já saberia dizer rapidamente algumas das suas metas para os próximos 12 meses. A maioria das pessoas listaria itens mais ou menos assim:
- Iniciar uma academia;
- Perder peso;
- Guardar R$ 2.000,00 durante esse ano;
- Trocar de carro;
- Comprar uma bicicleta (e começar a andar…);
- Comprar mais livros;
- Fazer uma viagem internacional;
- Trocar de emprego.
Mil outros exemplos poderiam ser dados. No entanto, neste pequeno e despretensioso texto, quero propor um desafio um pouco diferente: antes de falar da lista de coisas que você pretende para o futuro, quero te convidar a relembrar da lista que você provavelmente fez no ano passado.
Se eu pudesse apostar, diria que a sua lista do último ano se perdeu em meio às correrias do dia a dia, e que as metas, sonhos e propósitos foram esquecidos aos poucos. Apostaria, ainda, que parte dos itens da sua nova lista são coisas “recicladas” (e não cumpridas) de anos anteriores. Não ache que eu sou uma crítica impiedosa apontando o dedo para os outros… essas coisas são muito mais verdade para mim!
O porquê é tão difícil fazer da teoria uma realidade?
Porque estamos vivendo o tempo do “drive thru”. Mesmo sem tomarmos plena consciência, estamos sendo contaminados pela cultura desta geração imediatista, superficial e preguiçosa. Planos e metas que demandem um pouco mais do nosso esforço e determinação logo são esquecidos mediante a nossa falta de perseverança e empenho.
Quantos de nós já chegaram a pagar meses a fio de academia, a fim de obter um físico melhor, e na terceira semana já a havia abandonado? Será que a meta era muito alta, ou será que a minha resiliência era totalmente baixa?
Ser ou ter?
Certa vez, presenciei uma cena que me deixou perplexa: um moço, que andava com um carro lindíssimo (devia ser o “carro do ano”), se envolveu em um acidente em que ele próprio estava errado. Ao sair do carro e tomar conhecimento do que tinha ocorrido, ele não se interessou em saber se havia algum ferido ou algo do tipo. Limitou-se a entregar seu cartão de contato e dizer que arcaria com os reparos dos carros, já que “dinheiro não era problema”.
Será que tudo, realmente, se resolve com dinheiro? Note-se que, de um tempo para cá, o “ter” passou a ganhar muito mais importância do que “ser”. No entanto, eu desconheço alguém que tenha conseguido comprar determinação, perseverança, conhecimento, caridade, estima. Desconheço quem tenha encontrado uma série de virtudes em uma promoção de “Black Friday”.
Há certas coisas que precisam ser conquistadas, independentemente do seu limite bancário ou da grossura do seu talão de cheques. Você não conseguirá o trabalho dos seus sonhos se não tiver a motivação de estudar mais e sair da sua zona de conforto; nem perderá os quilos extras maratonando todas as séries e comendo salgadinhos.
“Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior. Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam.” (Mt 9,16-17)
Meu caro leitor, em síntese, não conseguimos muitas vezes colocar na prática o que está em teoria pelo fato de que nos falta, antes de tudo, fazer coisas muito mais importantes do que uma lista superficial.
Aliás, o interessante mesmo é se fizéssemos listas com propósitos de mudança aqui dentro, antes de querer almejar lá fora. Uma lista mais ou menos assim: neste novo ano, quero
- Ser mais paciente;
- Ser mais misericordioso;
- Rezar mais;
- Ler um livro de espiritualidade todo mês;
- Me confessar mais vezes.
O ano pode ser novo, mas é preciso reconhecer uma verdade aparentemente cruel: nós ainda somos os mesmos. Não importa o tanto de coisas que queiramos, se não houver mudança de coração e de virtudes, tudo o que nos restará no final do próximo ano é mais uma lista inacabada – e novas metas “recicladas” para o ano seguinte.
Uma vez eu li que “uma grande jornada começa sempre com um primeiro passo”. Então, para a realização de qualquer que seja sua meta, seu desejo ou seu propósito, tudo só terá início quando você começar a trabalhá-lo dentro de você (antes de qualquer outra coisa).
Não desperdicemos a empolgação e a alegria deste clima de fim de ano. Ao contrário, que aproveitemos tudo isso para iniciarmos uma verdadeira mudança. Uma mudança que, quem sabe, nos torne mais santos e mais felizes.
Que Deus nos abençoe.
Angélica Baruchi Libório
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator