A vida do Cristão é como um jogo de Xadrez

O xadrez é um dos jogos mais antigos e populares de todo o mundo. Dizem os pesquisadores que sua origem remonta há mais de 1500 anos, apesar de ter sofrido diversas alterações ao longo da história. Mesmo que você não seja um grande fã, é provável que conheça algumas características bastante específicas: peças brancas e negras; 16 para cada lado; o jogo termina quando um dos reis é capturado.

Para muito além do entretenimento, o jogo de xadrez oferece diversas vantagens, por exemplo, permitir um aprimoramento do raciocínio lógico, um incentivo à criatividade ou mesmo um treinamento para que as pessoas consigam encontrar soluções em meio aos desafios. As crianças costumam se desenvolver muito quando entram em contato com o xadrez.

Mas, para além das vantagens mais conhecidas, eu tenho uma firme convicção de que o xadrez também é uma fonte de aprendizado para os cristãos – assim como tudo na vida. As pessoas pensam que os místicos são aqueles que fazem grandes milagres. Mais que isso, os místicos são aqueles que aprenderam a enxergar Deus em todas as realidades. E nós fomos chamados a ser místicos.

A vida espiritual demanda estratégia

O que diferencia um grande jogador de xadrez de um amador é o fato de que o primeiro embasa todo o seu jogo em uma estratégia bem definida: se vai atacar pelo lado ou pelo centro; se vai deslocar as peças do adversário para um canto; se vai concentrar os esforços nas casas claras ou escuras. O amador, por sua vez, somente vai jogando a cada lance, sem traçar planos futuros.

De igual maneira, quantos de nós não insistimos em sermos “amadores” na vida espiritual?… Deveríamos fazer como os grandes enxadristas: meditar sobre os vícios que precisamos vencer, ou as virtudes que precisamos adquirir; selecionar as penitências que nos auxiliarão ou as situações de pecado que devemos evitar.

Os pequenos detalhes podem nos conduzir à vitória

A peça mais frágil e menos valiosa do xadrez é o peão. Ele só anda uma casa por vez, não consegue retornar e ainda podem provocar fraquezas em nossa posição. Mas é um grande erro considerá-los insignificantes. Na verdade, os jogadores mais experientes conquistam suas vantagens justamente através dos pequenos peões. Um único peão perdido de maneira negligente pode custar uma partida!

É justamente o que Jesus nos ensina no Evangelho ao falar sobre a importância dos pequenos gestos, mesmo que pareçam insignificantes. A viúva deu apenas duas moedinhas, mas Cristo considerou ser a maior de todas as ofertas (Lc 21, 1-3). A pequena semente de mostarda é aquela que se transforma na maior de todas as árvores (Mt 13, 31). Além do mais, o Mestre afirmou quem for fiel no pouco, receberá muito mais (Mt 25, 21).

Os sacrifícios aparentemente “loucos”

No xadrez, cada peça tem um valor, e isso dependerá do tipo de movimento que a peça pode fazer. Por exemplo: os bispos andam em diagonais e são mais importantes que os peões, mas tem o defeito de não conseguirem andar em casas de outras cores. As torres andam entre linhas e colunas, de modo que podem ocupar qualquer casa e valem mais do que os bispos. A dama, por sua vez, é a mais poderosa de todas, já que caminha para todas as direções.

 Costumamos chamar de sacrifício o ato de entregar uma peça valiosa em troca de uma peça menor do adversário, o que não costuma ser muito vantajoso aparentemente. Se a dama vale mais que a torre, não faria sentido sacrificar a minha se eu não recebesse uma peça de igual valor. No entanto, aqui está o grande segredo: em determinadas situações, vale muito a pena entregar uma ou mais peças importantes para conquistar a vitória.

Do mesmo modo, pode parecer “loucura” para o mundo que sacrifiquemos uma vida de prazeres fáceis em troca de uma vivência de castidade; ou que “percamos tempo” indo à Igreja enquanto poderíamos estar em outras diversões por aí. É que a vitória vale mais do que a peça e o Reino dos Céus vale mais do que qualquer sofrimento desta vida (conforme Rm 8, 18).

As adaptações necessárias 

É impossível prever todas as jogadas futuras em um jogo de xadrez. Estudos matemáticos mostraram que apenas nos quatro primeiros lances é possível fazer 315 bilhões de jogadas diferentes. Se considerarmos os dez primeiros lances, os números chegam a incríveis 170 setilhões de maneiras. Agora pense que um jogo de xadrez pode durar 40, 60 ou até 80 lances!

Significa que, por melhor que seja a tua preparação, mais cedo ou mais tarde o teu adversário jogará um lance diferente da tua previsão, ou seja, talvez você precise mudar de estratégia ou desviar de perigos que antes não contava. A surpresa é um dos principais elementos de xadrez, o que demanda criatividade de todos os enxadristas.

E a vida do cristão é diferente? Por mais que façamos planos e nos organizemos para ter uma vida com Deus, as surpresas às vezes esbarram em nós. Um imprevisto que atrapalhe sua oração, uma doença que impeça sua ida a um retiro, uma dificuldade financeira que tire a paz… Mas é Deus que permite isso e precisamos aprender a fazer as “adaptações” convenientes, sempre com o objetivo de agradar ao Senhor.

Por fim, a meta

O objetivo do xadrez não é fazer as jogadas mais brilhantes ou tomar o máximo de peças do adversário. Isso é apenas um meio. O objetivo é alcançar o “xeque-mate”, ainda que o jogo pareça adverso ou que os sacrifícios sejam necessários no caminho. Todas as jogadas e planos devem ter em mente o futuro “xeque-mate”, senão o jogo perde o sentido.

Do mesmo modo, independentemente das dificuldades da vida, não podemos perder de vista o nosso objetivo final: o Céu! Agradar a Deus deve ser a razão de todas as nossas “jogadas”. E que Ele nos permita crescer a cada dia nesse xadrez da vida real!

 

Rafael Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator

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