São Tiago, no capítulo 2 de sua epístola, inicia explicando a afirmação acima sobre a fé. (Tg2,26)
Com certeza já ouvimos essa afirmação várias vezes, porém, geralmente a relacionamos às obras de caridade, e de fato é, mas não somente.
Quero propor uma reflexão um pouco mais aprofundada com relação ao nosso “próximo mais próximo”: os necessitados dentro da nossa família e nossa própria vida interior.
Nossa família é também um lugar de missão, pois muitas vezes é mais fácil amar um estranho na rua do que quem conhecemos intimamente, levando em conta suas limitações, defeitos e história de vida.
São Tiago chama a atenção para a coerência da fé: se eu tenho fé e ela não produz obras, não é manifestada em atitudes concretas, ela é estéril, não serve para o Reino, é morta. É como a moeda que o servo enterrou e a devolveu, intacta, ao patrão.
Servo mal e preguiçoso
Certamente não gostaríamos de ouvir essa palavra de Deus em nossa vida! Porém, às vezes não prestamos atenção e acabamos por não produzir as obras de fé que Ele espera que produzamos, em especial dentro de nossa casa.
Podemos servir a Deus em diversos lugares: nas paróquias, comunidades, institutos religiosos, obras ou institutos de caridade … e muitas vezes acreditamos que assim estamos agradando a Deus e O honrando devidamente, porém só isso não basta!
Duas coisas a de considerar: o que nos move e nos motiva nesse serviço é nossa coerência de vida.
Primeiro ponto
Consultemos nosso coração se estamos servindo por amor ou por autopromoção; se é por Deus ou por minha autoimagem; se busco fazer a vontade de Deus ou só faço se for do meu jeito; se sou dócil e obediente ou se ajo como criança mimada quando meu ponto de vista não é aceito; se ando reclamando ou se louvo e agradeço.
Precisamos sim, servir; porém, devemos nos deixar purificar em nosso servir, ir-nos convertendo para que nosso serviço seja verdadeiramente fruto de nossa fé sincera. Um fruto agradável ao paladar de Deus.
Segundo ponto
Coerência de vida. Considero que sirvo muito e bem a Deus, entretanto, dentro de casa não tenho paciência, ajo mais por irritação que por amor, quero impor minha vontade e minha visão das coisas, e quando não concordam, me vitimizo e/ou extrapolo. Não considero a individualidade de cada um e cobro meu cônjuge e filhos, (para os casados) ou pais, avós, tios (para quem é solteiro e mora com eles), de acordo com as minhas expectativas.
Acredito que as pessoas devem agir como eu acho que é certo. Brigo ou me isolo quando minha vontade não é aceita ou ouvida. Considero que todos devem pensar e agir como eu. Exijo autonomia de meus filhos, por exemplo, mas quero controlar todas as decisões deles, quando já são maiores idade.
Prefiro sair para servir fora que suportar o servir dentro de casa, que normalmente é bem mais desafiante. Ando sempre insatisfeito dentro de casa, critico muito e elogio pouco, quando elogio e se elogio. Não demonstro amor pelos meus, nem em pequenos gestos, vivo correndo e não dou atenção devida àqueles que moram comigo.
Proponho essas reflexões não para apontar erros, mas para trazer à consciência como tenho vivido a minha fé: se Deus é o primeiro a ser servido* ou se quero ser eu o primeiro a ser servido.
Quais são e onde estão as obras de nossa fé?
Quais os frutos da minha fé fora de casa?
Minhas obras são agradáveis a Deus, aos homens ou somente a mim? Busco um correto discernimento no servir ou julgo somente baseado em meu ponto de vista e história de vida? Tenho uma sincera vida de oração?
Quais serão os sentimentos daqueles que convivem comigo a meu respeito?
Medo? Respeito? Admiração? Indiferença? Por quê?
Quais são os frutos da minha fé em casa?
Ajo com verdadeira caridade buscando o bem do outro? Meu comportamento é rígido, passivo, omisso, crítico demais? Vejo-me triste e irritado ou feliz e paciente? Seria um bom exercício pedir para aqueles que moram comigo escreverem como eles me veem (de forma “anônima” para favorecer a sinceridade), pois muitas vezes não enxergamos pontos importantes de nosso comportamento que ferem a caridade.
Quais são os frutos da minha fé em minha própria vida?
O que a fé provoca em mim? Esperança, paz, harmonia, diligência? O que tenho buscado em minha vida de oração? Tenho desanimado facilmente, fugido dos desafios, acreditado mais em meus medos do que no poder de Deus?
A minha fé tem dado frutos nas três dimensões de minha missão como cristã?
Fora de casa, dentro de casa e dentro de mim?
Após essa reflexão, confiemos todas as nossas respostas à misericórdia Divina que está sempre pronta a nos socorrer, nos transformar e nos elevar.
Comecei essa reflexão com São Tiago e a término com São Mateus:
“Pelos frutos os conhecereis. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no céu. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!” Mt7,20-23
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* lema da família Martin, família de Sta Teresinha do Menino Jesus.
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator