Olá, queridos leitores. Há certo tempo eu li e aprendi em um livro chamado “O monge e o executivo” que todos passam por um processo de aprendizado para a construção de um hábito. E o que nos impede de entender a fé como um hábito?
Nada impede, aliás, a Sagrada Escritura ressalta, por meio de São Tiago e São Paulo, que se trata de uma prática: “De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo?” (Tiago 2, 14); “Eu era ainda pessoalmente desconhecido das comunidades cristãs da Judeia; tinham elas apenas ouvido dizer: “Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora combatia. E glorificavam a Deus por minha causa.” (Gal 1, 23)
Dentro dessa perspectiva da fé como algo muito além de meros sentimentos e palavras, imaginemo-nos em meio a um bosque no meio da noite e esse lugar é longínquo de qualquer civilização. A primeira regra é encontrar um lugar de abrigo e fazer uma fogueira. Para esse desafio, são nos dado apenas 5 fósforos.
Certamente, diante das trevas, o que precisamos é da luz, mas fazer uma fogueira pode não ser tão simples, requer escolher gravetos secos, um pouco de mato seco e um bom tronco para sustentar o fogo. Estamos em um mundo que está longe de retratar a nossa origem, a nossa filiação a Deus. Então o que a nossa alma mais precisa é a luz da fé, a qual requer vontade e certo cuidado. Isto porque existem muitos galhos úmidos de mentiras no dia de hoje, onde apenas 5 fósforos não darão conta.
Ao primeiro iluminar da fogueira
Essa necessidade humana pela fé como fonte de luz pode ser identificada no mundo pagão, pelo culto do deus Sol, Sol invictus, invocado na sua aurora. Todavia esse sol é incapaz de iluminar de maneira plena toda a parte do ser. Afinal há uma limitação física e prática, pois este astro sequer ilumina a terra inteira, quiçá a alma do ser. A única e verdadeira luz capaz de chegar em todo o ser do universo, inclusive até às sombras da morte, é Jesus Cristo.
Desta maneira, para que esses raios deem vida, o primeiro passo é submeter a vontade e a razão, assim como Marta, em prantos pela morte do irmão Lázaro, fez: Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisso? Respondeu ela: “Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo” ( João 11, 25-27) (a nosso grifo)
Esse esforço, como todo hábito que se inicia é constante. Ao abrir os olhos pela manhã é o momento em que se inicia: Jesus, eu confio em vós! O efeito é maior quando usamos a nossa voz, ou seja, nosso corpo para expressar essa fé. São João Paulo II nos ensina em sua obra “A Teologia do Corpo”:
“O corpo, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino. Ele foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério escondido desde a eternidade em Deus [o amor de Deus pelo homem] e, assim, ser seu sinal”.
O orgulho da razão. Uma luz ilusória?
Na Encíclica Lumen Fidei, o Papa Francisco nos provoca ao colocar que o homem “adulto” tem o desejo de que tudo deve ter uma forma nova de ser explorada. Assim também entende que a fé do passado “deve” sofrer suposta metamorfose para os tempos atuais.
Diante das mudanças e evolução dos meios sociais, essa questão pode levar alguns irmãos a flertar com a mentira. Pois para tal questionamento, o Papa Leão XIII nos acolhe em sua Encíclica “Exeunte Iam Anno”, promulgada em 25 de Dezembro de 1888. Pois a fé tem direção ao Cristo, o qual é Deus, sendo Este IMUTÁVEL, bem como a doutrina católica, pois é fruto Daquele que nos amou até a Cruz.
“PERMANECE IMUTÁVEL ATÉ NA MUDANÇA DOS TEMPOS. Se já Divinamente regenerou o mundo envelhecido nos vícios e perdido nas superstições, porque não há-de poder reevocá-lo, transviado, ao recto caminho?”
Esse ponto de chegada, na minha visão, é o que faz muitos serem impulsionados na direção da fé em Cristo ou derrubados por seu orgulho e vaidade. Aqui é a arena de combate contra os frutos do mundanismo que assolam nossas vidas deixando tudo negociável, o sim de hoje é o não de amanhã.
Assim se constrói uma infidelidade no coração dos homens recordando o velho Adão e a velha Eva, com desejo de ser como Deus e mudar o imutável. Sem dúvida a luta é no ordinário de nosso ser, na origem, e por isso se faz necessário o encontro físico com o sagrado, ou seja, os sacramentos.
Crer em Cristo é crer em sua história
Por mistério divino, Jesus foi gerado, não criado. Sendo gerado no ventre da Virgem Santíssima, portanto, a saída de nós mesmos para as obras de fé tem como baluarte da Mãe de Deus. Ela é todo sim, humilde e escondida. Reconhecer a verdadeira humanidade de Cristo é reconhecer a virginal concepção de Maria. Pois desde o início a Santíssima é a mais perfeita criatura humana que ensina o que é a verdadeira fé na prática. Sendo assim, deixo aqui a oração que o Papa Francisco nos presenteou a partir do parágrafo 60 da Encíclica Lumen Fidei. Deus nos guarde neste desterro e que no final nos reconheça pelas obras de fé em nossas vidas, sendo apenas servos dos servos.
“À Maria, Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé, nos dirigimos, rezando-Lhe:
Ajudai, ó Mãe, a nossa fé.
Abri o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada.
Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos, saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa.
Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor, para podermos tocá-Lo com a fé.
Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e cruz, quando a nossa fé é chamada a amadurecer.
Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho.
Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz no nosso caminho.
E que esta luz da fé cresça sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor. ”
Thiago Casarini
Discípulo na Comunidade Católica Pantokrator
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