A desconfiança opera milagres? 

A desconfiança opera milagres? Crer ou não crer? Eis a questão.
O mundo e nós, seres humanos, somos inspirados a tudo ao nosso redor, tocar, sentir, ver, palpar. Só acreditamos que algo vai realmente acontecer quando está já escancarada a situação na nossa frente e não tem como mais dar errado. 

Porque somos assim? Já pararam para pensar nisso? 

Amigo leitor, essa raiz da desconfiança começa lá atrás no início de tudo. Quando Adão e Eva são criados e colocados à prova, ali nasce a desconfiança sobre Deus. Eva, ao comer o fruto proibido e induzir Adão a acreditar nela e a acreditar na serpente, faz com que a marca da liberdade se contradiga com acreditar em Deus. A prisão da desconfiança nasce. 

Somos seres que trazemos, claro, além do pecado da desconfiança, porque é um pecado contra Deus, trazemos marcas de rejeição, traição, falta de amor de pessoas e situações que nos marcaram e fizeram com que o nosso coração perdesse a beleza de acreditar seja nas pessoas ou no próprio Deus. 

Deus é tão perfeito que criou o Novo Adão e a Nova Eva – Jesus e Maria – para nos ensinar que, apesar das dificuldades, há sempre uma esperança e que a graça acontece na Confiança. 

Tomé! O Verdadeiro. 

“Tomé, um dos doze, não estava com eles quando veio Jesus. Os outros discípulos disseram: Vimos o Senhor. Mas ele replicou-lhes: Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei. Outro dia, veio Jesus e disse: Introduz aqui o teu dedo, e vê minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejais incrédulos, mas homem de fé”.  (João 20, 24-27)

Amigo leitor, essa passagem é estupenda! Olhando de primeira mão, logo pensamos que Jesus o humilha e chama sua atenção na frente de todos. Sim, Jesus o exorta. Mas, mais que isso, Jesus traz a verdade de Tomé para fora, para frente de todos. 

Você deve estar se perguntando, mas como assim? 

Quando os discípulos contam que viram Jesus e Tomé não acredita, desconfia, ele é verdadeiro, incrédulo, mas transparente. Ele não mente, não finge ser quem ele não é. Ele entende e compreende a sua limitação (em) depois de tudo o que aconteceu, em não acreditar no que eles estão dizendo, a não ser que ele o toque.

E, assumindo a sua fragilidade na fé, e colocando a sua verdade nua, Jesus vai até o seu encontro. Jesus volta outro dia na hora em que Tomé se encontra no meio deles, somente para Tomé o tocar e colocar a mãos nas suas feridas. Jesus precisava ter feito tudo isso? Não! Mas o amor de Deus é tão grande que acolhe a fragilidade de Tomé e o torna o homem de fé. Deus o cura e o exorta. 

Precisamos ter a coragem de Tomé em assumir as nossas verdades diante de Deus, em escancarar as nossas dificuldades. Ter a coragem de dizer para ele: Senhor, se o Senhor não intervier aqui, nada vai acontecer. Se não me ajudar, não vou conseguir. 

Esses e outros casos, podemos apresentar diante de Deus, na confiança de que o Amor Poderoso , tudo pode fazer e realizar. Ele nos ama e não quer que a raiz do pecado fique em nós, mas precisamos ter coragem de O atraí-lo, assumindo as nossas fragilidades e pequenez diante Dele. 

Rompendo com a desconfiança 

A confiança faz milagres”, será só uma frase muito usada? Ou é fonte de verdade? 

Tomé sai de uma posição de Desconfiança para a Confiança. Ele vê e toca, mas, antes de tocar,  ao escutar as palavras de Jesus pedindo para o tocar, o coração dele já se coloca na posição de romper com o pecado. Ao tocá-lo, a liberdade vem, a confiança vem. Acreditou porque tocou, mas acreditou! 

O problema seria se mesmo tocando Jesus, Tomé não mudasse a sua visão e o seu coração. Como ocorre com muitos de nós, a graça acontece, confiamos, aparece um novo problema, uma nova situação, e desconfiamos. Somos assim. Se formos verdadeiros, estaremos na graça. Precisamos sempre voltar o nosso coração e falar para Jesus: não estou conseguindo confiar, me ajuda. E ele vem (,) e nos levanta, nos dá forças e começamos de novo. 

Não podemos é, nos momentos de tribulações, ir atrás de outros deuses, colocar coisas, pessoas e nós mesmos no lugar de Deus, duvidando da sua misericórdia e amor por nós. 

É necessário romper com nossos achismos, controles, mentiras, pecados e nos abrir para a graça de Deus que quer ser abundante em nós. 

Que Deus nos ensine a sermos sempre verdadeiros e buscarmos a graça da Confiança no seu amor que é infinito e que não falha nunca. 

“Felizes aqueles que creem sem ter visto!”. (Jo 20,29) 

Carla Gaspar
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator

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