O Sínodo dos Bispos é um organismo criado pelo Papa Paulo VI em 1965 como resposta a um anseio manifestado durante o Concílio Vaticano II, de favorecer uma colaboração mais profunda entre o Papa e os Bispos. Em outras palavras, promover de modo especial o espírito de comunhão na Igreja.
O Sínodo é um organismo permanente. Torna-se mais visível e se nota mais sua atuação quando está reunida a Assembléia de Bispos, denominada Assembléia Sinodal. Contudo, ele conta com uma secretaria permanente, que é um Dicastério da Cúria Romana. E essa Secretaria trabalha em estreita colaboração com um Conselho, constituído por 15 membros, que se reúne periodicamente. O Arcebispo de São Paulo, Cardeal D. Odilo Scherer, é membro desse Conselho, escolhido pessoalmente pelo Papa Bento XVI.
De 3 em 3 anos se reúne uma Assembléia Geral Ordinária do Sínodo. Pode haver, ainda, Assembléias Gerais Extraordinárias e Assembléias Especiais. Em uma Assembléia Sinodal se reúnem, como membros, Bispos representantes de todos os países onde a Igreja está presente. Nela há diversas categorias de membros. Alguns são eleitos nas Conferências Episcopais e pelos Sínodos das Igrejas Católicas Orientais, e estes são a maioria; outros são os Patriarcas Católicos e os Presidentes dos Dicastérios da Cúria Romana; outros são eleitos pela União dos Superiores Gerais; outros são nomeados pelo Papa; outros, ainda, são os Auditores e os Peritos; e, por fim, há os membros da Secretaria Geral. Desse modo se garante uma participação representativa e uma grande colaboração.
O tema de um Sínodo é escolhido pelo Papa. Há um costume de os participantes de uma Assembléia serem consultados a respeito de temas para a próxima. Assim, se colabora com o Papa na identificação dos desafios ou temas importantes para a Igreja no cumprimento de sua missão de evangelizar. E, desse modo, esse organismo eclesial cumpre o que é mais importante em sua finalidade: colaborar com o Papa em sua missão de apascentar o povo de Deus presente no mundo inteiro.
Primeiramente, com um ano de antecedência, é enviado um documento para cada Bispo, chamado Lineamenta, no qual se abre a possibilidade para o conhecimento do tema do Sínodo e de suas implicações. Nesta fase, o Bispo pode envolver sua Diocese na discussão do tema e consultar especialistas. Antes do início do Sínodo, é apresentado um Instrumento de Trabalho, que serve de base para a preparação dos que participarão dele. Nesse documento já se levam em consideração as contribuições enviadas a tempo. O Sínodo produz dois textos principais: O Elenco das Proposições e a Mensagem Final. As conclusões do Sínodo são publicadas pelo Papa, em um documento denominado Exortação Apostólica Pós-Sinodal.
A última Assembléia do Sínodo (a 12ª) aconteceu de 05 a 26 de outubro de 2008, e teve como tema “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja”. A Assembléia Sinodal apresentou no documento Mensagem ao Povo de Deus, de uma forma estimulante e provocativa, o que foi aprofundado no Sínodo. Para tanto, utilizou-se de algumas imagens. A primeira é a “Voz”, em alusão a Dt 4, 12: assim é apresentada a Revelação de Deus na natureza e história. A segunda imagem é a do “Rosto”, uma vez que a Palavra se fez carne, segundo Jo 1, 14, em Jesus. A Igreja é apresentada como a “Casa” da Palavra, apoiada em sete colunas, seguindo Pr 9,1. Por fim, a missão da Igreja é apresentada com a imagem do “Caminho” (cf. Is 2, 3; Mt 28, 19-20), pelo qual a Palavra de Deus deve ser levada a todos. Durante os trabalhos muitas questões relacionadas com a Palavra de Deus foram estudadas e debatidas. Entre elas citaremos as mais significativas. Algumas são de natureza teológica: A Revelação de Deus; as Sagradas Escrituras; a importância da Bíblia como fonte de toda a ação da Igreja. Outras foram mais pastorais: como fazer com que a Bíblia seja mais bem conhecida e mais vivenciada; o desafio dos novos movimentos religiosos que pregam a Palavra de Deus de modo fundamentalista ou que a instrumentalizam; o ministério dos catequistas, animadores de grupos e outros que auxiliam o povo de Deus no conhecimento da Sagrada Escritura. Outras, ainda, missionárias: como apresentar aos não-cristãos a Palavra de Deus e a missão além fronteiras, o diálogo com outras religiões e a relação com as diferentes culturas.
Podemos destacar alguns elementos teológicos que estiveram muito presentes no Sínodo:
1. Jesus Cristo como o centro das Escrituras, inclusive do Antigo Testamento, pois é em função do encontro com Ele que a Bíblia nos foi dada por Deus através da Igreja, e é para nos tornarmos discípulos e missionários seus que a Bíblia deve ser conhecida e meditada;
2. A Igreja como o “ambiente” no qual a Bíblia adquire seu significado e deve ser interpretada: para a correta compreensão da Escritura Sagrada e para a sua vivência autêntica, a comunhão eclesial é fundamental;
3. A missão como um caminho que a Igreja deve percorrer sempre, para levar a todos a alegria e a vida que se encontram em Jesus Cristo: só por meio da missão permanente a Igreja se renova e cresce; a missão se destina tanto aos que ainda não conhecem Jesus como também aos que são cristãos, mas não vivem de acordo com sua fé ou que se afastaram da Igreja;
4. A presença profética e transformadora da Palavra de Deus no mundo: prestando um serviço à vida e à dignidade humana; recordando a todos que só há respeito pleno aos direitos humanos quando se mantém viva a ligação com Deus e com Sua Palavra.
A Catequese esteve muito presente no Sínodo e não poderia ser diferente, ao se tratar da Palavra de Deus. Afinal, a catequese é “destinada a aprofundar no cristão o mistério de Cristo à luz da Palavra a fim de que o homem inteiro seja iluminado por ela” (1). Nesse âmbito, foram discutidos os seguintes temas: a educação à leitura do Antigo Testamento; o serviço dos leigos nas pequenas comunidades; a pastoral bíblica; a Iniciação Cristã. Uma das proposições mais importantes enfatiza que as raízes da Catequese devem estar na Revelação cristã e que deve ter como modelo a pedagogia de Jesus (cf. Lc 24, 27). Outra Proposição importante pede um estudo atento do Antigo Testamento, explicado no contexto da História da Salvação e à luz de Cristo.
Ao tratar da família cristã, o Sínodo encoraja cada uma a ter o livro das Escrituras e a ensinar seus membros a lê-la e meditá-la. Aí se trata do inarredável e insubstituível dever catequético da família, no coração do qual se encontra a educação para a utilização da Bíblia na vida.
Esperamos que o estudo dos textos produzidos pelo Sínodo da Palavra e a respectiva Exortação Apostólica Pós-Sinodal, que o Papa já está escrevendo, nos ajudem a aprofundar a consciência do lugar central que a Palavra de Deus ocupa na Igreja e em sua missão.
(1) JOÃO PAULO II, “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Catechesi Traedendae”, 1979, n. 20.
Extraído do artigo “O Sínodo dos Bispos de 2008”, de Antônio Luiz Catelan Ferreira
in Revista de Catequese n. 124 (out/nov 2008) – UNISAL