“VOU RECORDAR AS OBRAS DO SENHOR, VOU DESCREVER AQUILO QUE VI.” *
(Eclo 42,15)
Nesta semana, entre as Solenidades de Pentecostes e da Santíssima Trindade, fomos surpreendidos pelo céu. Convinha ao céu e a nós ter uma mãe que, junto de Deus, rezasse pelos inúmeros filhos neste mundo: Dona Helena Maria. Penso que a palavra que mais definiu essa bela flor entre nós foi: MÃE, com letras maiúsculas, garrafais e em negrito. Deus fez de Sua filha mãe de muita gente. Confesso que em alguns momentos até me enciumei disso, mas eu louvo imensamente por essa maternidade alargada sobre tanta gente, especialmente os filhos da Vocação El Shaddai-Pantokrator. Mas quero esnobar aqui, junto do meu querido irmão Fernando, que somente eu e ele temos a honra de ter saído desse ventre.
Fazendo memória desta vida maravilhosa que, imitadora de Jesus, “passou entre nós fazendo o bem” (Atos 10,38), temos muitas virtudes a lembrar. São tantas, que não vou querer esgotá-las nessas breves palavras. Mas algumas coisas precisam ser ditas. Dona Helena pode ser definida como uma mulher de Deus, como uma coluna de fé que sustentava – e sustenta – a família Botelho de Andrade. Foi aprendendo dessa fé traduzida na vida por ela, que eu, André, tive fé para que a Misericórdia me chamasse a fundar a Comunidade “El Shaddai-Pantokrator” (ela sempre chamou assim a Comunidade).
Nosso Carisma herda muita coisa de sua fé. Uma fé que a fazia habitar no céu, quase que literalmente, pois, se você chegasse à casa da mamãe, veria que, ou se estaria rezando um Terço, ou ouvindo uma live das coisas de Deus, ou rezando a Palavra de Deus, e, se não fosse nada disso, a TV estava ligada em algum programa de fé, mesmo se ninguém estivesse assistindo. Dessa fé vimos surgir uma mulher sábia, conselheira de muitos, forte e guerreira, uma alma de profeta entre nós, mulher do Espírito, que sabia ler nas pequenas coisas, os sinais de Deus. Através dela, recebemos tantas mensagens do céu! Dentre elas, duas se confirmam pela sua páscoa vivida entre esses mistérios: A Imaculada Conceição, cuja humanidade gerando o próprio Filho de Deus, tornou-se de fato Mãe de todos os batizados que nascem para essa nova humanidade; “Maria, a Mãe da igreja”, mistério extraordinariamente celebrado no dia de sua páscoa. Outra mensagem é simplesmente celebrada hoje, a festa do Menino Jesus de Praga, o pequeno Pantokrator. Se temos essa imagem vinda de Praga em nosso altar, foi porque antes ela desceu no altar do coração de dona Helena e por ela nos foi dada.
São Sinais extraordinários vindos pela vida de uma mulher piedosa, sim, mas amante da vida, do belo e das coisas simples vividas com alegria. Dona Helena viveu cada detalhe da vida louvando a Deus. O louvor nunca saiu de sua boca, de seus gestos, do seu coração. Com ele, dona Helena configurou-se a tantas virtudes… uma delas é a generosidade. Mamãe gostava de comprar coisas e, às vezes, comprava demais; mas penso que isso nunca feriu sua pobreza, porque ela gostava mesmo era de dar às pessoas, não somente coisas, mas sua atenção, seu amor; e ela o fazia de forma extraordinariamente gratuita. Vale para a mamãe o final do poema atribuído a São Francisco: “Mestre, fazei que eu procure mais amar que ser amado”. E eu peço perdão, mãe, porque tantas vezes deves fiz esse poema acontecer… eu te amei muito menos do que fui amado. Perdão, mamãe.
Todavia, a quem ela mais se deu foi ao seu amado, meu pai. Nossa! Como ela amava – e ama – o papai! Jovens, se vocês querem ter um modelo de esposa para pedir a Deus, tenham a garota “da casa da esquina” (meus avós moravam na esquina da rua da república do estudante José Fernandes, meu pai). Meu pai sabe que foi imensamente amado por Deus, pela esposa que Ele lhe deu. Além de tudo, garota linda do começo até o fim. Mas, como o matrimônio precisa ter espinho para valer a pena, é preciso dizer que os atrasos da dona Helena, a começar pelas 2 horas no dia do casamento, também santificou muito o papai… e a todos. Só espero que ela não tenha deixado São Pedro esperando muito na porta do céu. Louvado seja Deus.
Por fim, termino dizendo que dona Helena, filha da Virgem Santíssima (e não diga, de “Maria”, porque ela fica brava), apóstola do Rosário, foi colhida pela Mãe do céu, para que, unida a ela, fosse uma mãe intercessora no céu. E ela foi colhida para a alegria do céu, neste ano em que Deus nos chama na Comunidade a viver a alegria de glória nessa Terra. A páscoa de dona Helena foi serena, reforçando nossa impressão de que ela só mudou do céu deste mundo para o céu da eternidade. Sua ausência é uma dor imensa. Mas é também um vínculo de alegria eterna e invencível nos corações daqueles que te amam, mamãe, e sofrerão a saudade até que “todas as lágrimas sejam enxugadas” (Ap 21,4) diante da glória de Deus. Enquanto isso, dona Helena, aqueça-se à sombra de El Shaddai e, quem sabe, deixe penas da Águia El-Shaddai em nossos caminhos. De nossa parte, faremos memória de suas palavras e de sua vida, buscando colher esses frutos de santidade para nossas vidas e a vida de nossa Comunidade.
Com carinho imenso de todos os familiares e amigos, de seus filhinhos, eu e Fernando (com a honra de sermos os únicos biológicos), noras e netos, e tantos filhos espirituais espalhados pelo mundo, e seu amado esposo, seu José, encerro essa carta em celebração e honra da vida de Helena Maria Botelho de Andrade com a Primeira Leitura da Liturgia da última sexta-feira, extraída do Livro do Eclesiástico 1,9-14:
“Celebremos ou louvores dos homens [mulheres] ilustres, dos nossos antepassados através das gerações.
Alguns houve que não deixaram lembrança, desapareceram como se não tivessem existido, passaram como se não tivessem nascido, tanto eles como os seus filhos.
Os homens virtuosos e as suas obras não foram esquecidos.
Na sua descendência permanece a excelente herança que deles nasceu.
Os seus filhos são fieis à aliança e, graças a eles, também os filhos dos seus filhos.
A sua descendência permanece para sempre e jamais se apagará a sua memória.
Seus corpos serão sepultados em paz e seu nome vive por gerações”.
Obrigado pela presença de todos: amigos, familiares e os inúmeros filhos espirituais, especialmente aqueles gerados do Carisma El Shaddai-Pantokrator.
* Carta lida por André Luís Botelho de Andrade, nosso fundador, ao final da Santa Missa de 7º dia de falecimento de sua mãe e nossa co-fundadora, a consagrada Helena Maria Botelho de Andrade, 4 de junho de 2023.