Você não vai agradar todo mundo

agradar

Caso você esteja em um lugar que lhe permita, diga em voz alta e veja se você, assim como eu, se sente mais livre diante desta verdade: “Você não vai agradar todo mundo!”. Pode até repetir você quiser, quantas vezes quiser. E digo mais, está tudo bem não agradar todo mundo.

Muitas vezes somos atropelados por estímulos, palavras de ordem, propagandas que querem nos conduzir para dois extremos ao mesmo tempo. Por um lado, você tem que fazer bem tudo a que se propôs ou que lhe confiaram e todos precisam reconhecer isso. Por outro temos o coro revoltado: “Você não deve se importar com a opinião de ninguém!”.

É como se estivéssemos no meio da corda de um cabo de guerra, ou então precisássemos usar máscaras de acordo com a conveniência, nos diferentes grupos que integramos. E desta forma ficamos nós, como equilibristas, tentando dar conta de tudo perfeitamente e, de modo muito discreto, prestando atenção nos olhares e reações das pessoas à nossa volta. Muitas vezes agimos assim sem nem mesmo notar.

Não quero dizer aqui que a opinião dos outros não importa, não é por aí. Não vivemos isolados – como eu mesma já disse em outra oportunidade -, mas o outro gostar ou não daquilo que eu faço, da forma como eu vivo, não é o que tem o poder – ao menos não deveria tê-lo – de determinar as minhas decisões e ações. Esse poder é de Jesus Cristo, o modelo que devemos nos esforçar para seguir! Sobre isso nos escreve São Pedro: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as ações” (1Pe, 1-15). E, vamos combinar que o ditado popular está bem certo “Nem Cristo agradou todo mundo”.

Essa história de “agradar” tem muito mais a ver com uma vantagem que podemos obter, ou então à satisfação que podemos causar a outra pessoa, do que com o fato de alguma coisa estar certa ou errada. Logo, se o seu objetivo, assim como o meu, é fazer a vontade de Deus – ainda que de vez em quando nos desviemos um pouco – precisamos aprender com São Paulo, que escreveu aos Gálatas: “Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo” (Gal 1, 10).

Para viver de forma correta, buscando amar a Deus em todas as coisas, em todos os nossos relacionamentos e atividades, precisamos muito mais da perseverança no pequeno do dia a dia do que de grandes atos heroicos. E se formos nos preocupar em agradar às pessoas, ficaremos suscetíveis ao gosto pessoal de cada uma, o que está distante anos-luz da perseverança que somos chamados a viver nessa caminhada de santidade comum.

Isso posto, lhe convido mais uma vez ao “exercício” do início do texto, digamos juntos, ainda que em pensamento, “Você não irá agradar todo mundo!”; “Eu não vou agradar todo mundo! ” e está tudo bem!

São Francisco de Sales, em seu livro Filoteia, ou Introdução à Vida Devota, dá uma série de orientações e conselhos àqueles que se propõem a seguir a Cristo – o foco são aqueles que estão começando nesta jornada, mas são conselhos válidos a vida inteira – entre estas orientações ele fala justamente sobre isso: “Só nos pervertendo com o mundo poderíamos viver em paz com ele, e impossível é contentar os seus caprichos – Veio João Batista, diz o Divino Salvador, o qual não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: ele está possesso do demônio. Veio o Filho do Homem, come e bebe e dizeres que é um samaritano” e diz ainda, “A caridade nunca pensa mal de ninguém e o mundo o pensa sempre de toda sorte de pessoas; e, não podendo acusar as nossas ações, condena ao menos as nossas intenções. Enfim, tendo os carneiros chifres ou não, sejam pretos ou brancos, o lobo sempre os há de tragar se puder.”

Pois é… pensando bem, aquele “exercício” do início talvez nos inspire nas nossas orações matinais – e em mais algumas vezes ao longo do dia – afinal, diante de tantas e tantas falas contraditórias do mundo, precisamos estar bem firmes em Deus para não sermos levados por essa onda de hipocrisia, nem sempre tão evidente. Então, já que não vamos agradar todo mundo, precisaremos escolher a quem iremos fazê-lo. Optemos por Deus!

E como podemos agradar a Deus?

Ele mesmo nos responde, orienta, sustenta e leva a caminhar!

“Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança. Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração ele atenderá. Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá” (Sl 36, 3-5).

“Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor. Disse-vos essas coisas para que minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja completa” (Jo 15, 9-11).

E assim como nestas passagens da Sagrada Escritura, a vida de Jesus está repleta de orientações e exemplos de como devemos agir, de como é esse amor ao qual nos chama.

Amemos, irmãos! Amemos!

Ainda que não agrade a ninguém! Depois o próprio amor o explicará. Tal qual disse certa vez São João Paulo II:  “O amor me explicou tudo”. Como explicou a ele, certamente explicará àqueles a quem não agradamos com a nossa escolha por seguir a Cristo e as ações decorrentes disso. Tudo bem! Afinal, não vamos agradar pelo mundo mesmo… O importante, o necessário, é amar! E o nosso modelo é Cristo, portanto olhemos para Ele e para as oportunidades cotidianas e diante delas perguntemos “O que Jesus faria aqui?”, ou ainda “O que Jesus gostaria que eu fizesse nessa situação?”. Desta forma, agradaremos Àquele que não muda, Àquele que nos ama, ainda que não o agrademos nunca.

“Abandonemos este mundo cego, Filotéia, grite ele o quanto quiser, como uma coruja para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e sincera” (São Francisco de Sales).

Carolina Vieira da Cunha
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator

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