Horácio, no séc. I a.C., imortalizou em sua obra “Odes” a máxima do “carpe diem, quam minimum credula postero”, que em livre tradução exalta aproveitar o dia e confiar o mínimo possível no amanhã. E tal pensamento permeia – mesmo que sucintamente – muito da nossa lógica humana, apenas carnal, desvinculada da espiritual e alicerçada em Deus. Isso porque há uma grande e nada tênue diferença entre viver e aproveitar o hoje. Nós devemos viver o agora, mas não com a despretensão humana sem um propósito e norte, porque não somos senhores de nós mesmos, mas sim vivemos o hoje para um único Senhor.

Viva o presente

É claro que viver o agora não significa renegar as alegrias e os prazeres que nós, como homens e mulheres reconhecemos, mas o que quero trazer é que o sentido de abraçar o presente e vivê-lo genuinamente é uma das maiores experiências da concretização da nossa intimidade com Jesus. Isso porque viver cada momento que temos com singularidade, com Cristo e para Ele é experimentar que nossa vida aqui é finita, mas que ainda teremos muito na eternidade. Ademais, talvez essa seja uma das grandes divergências com o “carpe diem”: neste, vivemos o minuto como se fosse o último porque estamos agarrados apenas em nossa insignificante existência, em nosso controle, apenas nós nos bastamos. Já o viver o agora com Cristo é saborear o hoje, pois é uma partícula do que teremos com Ele no Céu. Há explicita diferença entre a vida na efemeridade e a crença na eternidade.


Mas pode acontecer um pouco o contrário. Há em nossa humanidade uma série de radicalismos, e assim acontece nessa questão. Há aqueles que vivem com toda a potência e levam o “carpe diem” como sua premissa basilar, e há outros – como admito ser meu caso – que têm como filosofia de vida viver mais o futuro que o presente. E as duas realidades não vivem integralmente a vontade de Deus, que é de que, além de vivermos o agora com intensidade e responsabilidade, que o saboreemos. Porque viver tudo na hora certa, no momento certo, e colher o máximo disso, saborear o que há de bom e de ruim é crescer e, como diz um escritor inglês David Thoreau, é “sugar o tutano da vida” – que aproveito para acrescentar – o tutano que o Pai nos dá.


E o mais curioso é a marca de desconfiança que há em ambos os extremos, pois os dois têm uma pujante necessidade de controle: um, em uma falsa noção de aproveitar o efêmero e a materialidade; o outro não desfruta de nada, pois está tão preso no que há de vir e com tanto medo do que o hoje impactará no amanhã. E tal controle nada mais é que a falta de confiança em Deus, na Sua providência e bondade, estas, não delineadas em irresponsabilidade ou imprudência, mas sim verdadeiramente enraizadas no apelo em amar Jesus e fazer sua vontade.


Para isso, peçamos a ajuda de Santa Teresinha, que soube sempre viver e saborear o hoje, pois sabia que era só o que ela tinha para amar Jesus. A confiança em viver até os pequenos momentos com intensidade era para ela a certeza da alegria na eternidade.

Ana Clara Gonçalves
Engajada da Comunidade Católica Pantokrator

 

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