As palavras ditas por nós são flechas que podem rasgar o coração para Cristo ou que podem ferir profundamente o homem. Ademais, as palavras têm poder, seja de benção ou de maldição, de alegria ou de melancolia, de ordem ou de caos. Abrir os lábios e dizer é muito fácil, mas você consegue dimensionar os efeitos do que sai da sua boca?
Vivemos numa era que detesta o silêncio e supervaloriza as opiniões que se traduzem em verbos, substantivos, na oralidade ou na escrita. Vivemos na era em que ser crítico e intelectual é muito cult, chique e “necessário” e, consequentemente, vivemos na era em que refletir e pensar bem, buscar a sabedoria, é completamente escasso. É a era das palavras ditas, mas que se dizem sem responsabilidade.
Palavras de poder e efeito
O “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” foram palavras ditas por Maria, e lançadas como flechas que alcançaram uma quantidade inimaginável de corações. Já as palavras ditas pelos judeus no dia da Paixão do Senhor “Não! A este não! Mas a Barrabás!” proporcionaram que as lanças chegassem ao lado de Cristo e derramassem o Seu sangue. Não foram simplesmente palavras, foram desejos carregados de poder, já que uma palavra dita muda circunstâncias, vidas, realidades e percepções.
As palavras de amor e sabedoria de Nossa Senhora permitiram a encarnação de Cristo, as palavras irresponsáveis e carregadas de ódio do povo de Jerusalém entusiasmaram a morte do próprio Verbo Encarnado. E eu e você carregamos esse poder, nós podemos sair por aí blasfemando, ferindo o coração de Deus e o coração dos outros, promulgando injúrias, mentiras, futilidades e empobrecendo os nossos lábios. Ou temos o poder de louvar, profetizar bênçãos, conversar alegremente, partilhar das nossas vidas, ter debates que buscam a Verdade e a Sabedoria. Mas para isso é necessário digerir as palavras, pensar nelas antes de dizê-las.
Para onde levam as palavras ditas por nós?
Eu e você, pela palavra dita, temos o poder de conduzir aqueles que convivem conosco ao Céu ou ao Inferno, e não é brincadeira! São João Bosco no livro “O Cristão Bem Formado” escreve uma meditação sobre a condenação e diz: “Vê aquela outra alma no inferno? Foi você com seus pérfidos conselhos que a encaminhou para o demônio. Foi você a causa de sua condenação”. As fofocas, os conselhos vazios de virtude e verdade, a mentira, e todas as palavras malditas são vias de condenação, e se não temos responsabilidade por aquilo que é dito hoje, teremos sobre nós o peso da justiça divina no dia de nosso juízo.
A palavra dita tem o poder de trair o Sangue derramado de Cristo e a palavra dita tem o poder de honrar e glorificar esse mesmo sacrifício, cabe a nós destinar o valor e o sentido a esse poder que carregamos cotidianamente em nosso interior. Busque a Cristo, busque a Verdade, busque a virtude e a sabedoria que vem d’Ele, procure a humildade, a mansidão e se a palavra dita de sua boca não for via de santificação para você e para o outro, silencie o seu coração, pense e dê o real sentido a ela.
Deus deve estar em tudo, principalmente onde achamos que Ele não está
Isso significa que eu só devo falar coisas de Deus? Claro que não, mas quando amamos a Deus sobre todas as coisas, Ele está em tudo, mesmo aquilo que não tem nada a ver com a nossa fé ou com as “coisas de Deus” deve refletir a sua Verdade. Deus está nos debates intelectuais, Deus está na caridade e no amor ao conversar com um amigo, Deus está nas conversas de entretenimento, nas discussões na Universidade, nas reuniões de trabalho, os valores do Pai devem nortear cada palavra dita por nós!
Ana Clara Gonçalves
Engajada na Comunidade Católica Pantokrator