Tolkien e a Cristandade

Talvez poucos saibam que Tolkien, o autor de “O Senhor dos Anéis”, era um fervoroso católico. Frequentemente participava da Santa Missa e lutava pela santidade e pela fé. Suas obras não estão separadas desse contexto; dentro delas existem diversos símbolos da catolicidade que valem a pena serem observados.

A Família Tolkien

John Ronald Reuel Tolkien nasceu em 3 de janeiro de 1892 em Bloemfontein, na África do Sul, mas em 1896 já enfrentou a perda de seu pai. Com apenas 3 anos, mudou-se para a Inglaterra. 

Com a morte de seu pai, sua mãe e os irmãos de John começaram a enfrentar muitas dificuldades financeiras, dependendo assim do auxílio da igreja e da família. No entanto, devido à conversão de Mabel, sua mãe, a família recusavam esse auxílio, e raramente John e seus irmãos recebiam ajuda de seus familiares. 

Ele considerava sua mãe uma mulher de muita fé e uma mártir, pois, mesmo pertencendo a uma família protestante, ela se converteu ao catolicismo e manteve sua fé, mesmo enfrentando resistência da família, que negava ajuda até mesmo para as próprias crianças. Sua mãe também faleceu jovem, deixando os filhos aos cuidados do Padre Francis Morgan, que sempre foi um suporte de fé durante a vida de Tolkien. 

Assim se iniciou uma história de muita devoção e luta pela fé de John, que se tornou um católico fervoroso. Em 1908, Tolkien conheceu Edith Bratt, que se tornaria sua esposa e companheira pelo resto da vida. Mesmo sendo protestante, Edith acabou se convertendo ao catolicismo, influenciada pelo fervor de Tolkien pela fé católica, trazendo assim mais uma alma para a verdadeira igreja de Cristo. 

Com Edith, Tolkien teve 4 filhos, aos quais educou na fé, levando-os frequentemente à Santa Missa. Tolkien realmente criou sua família dentro dos princípios da fé e viveu aquilo que chamamos de “santidade comum”, buscando através das pequenas coisas da vida e do ordinário, ordenar a vida para Cristo, e como casado e pai, ordenar sua família para Cristo.

Suas Obras

Entre as obras de Tolkien, as mais famosas são “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”, nas quais ele dedicou muito esforço e dedicação. Na criação de seu mundo fantástico, Tolkien incorporou muito do que conhecia sobre linguística, mitologia, símbolos e fé. Seria um equívoco dizer que essas obras são unicamente uma metáfora para questões de fé. Tolkien não acreditava em alegorias, mas sim em símbolos, representações que poderiam ser sinais de diversos aspectos da vida. 

Por exemplo, muitos teólogos definem Cristo em três aspectos: rei, sacerdote e profeta. Esses três aspectos são vistos nos três personagens principais de “O Senhor dos Anéis”: Aragorn, Frodo e Gandalf. Aragorn é o rei, Frodo é o sacerdote, aquele que dá a vida pelos outros, e Gandalf é o profeta, aquele que traz a mensagem. 

Existem muitos outros símbolos católicos dentro de suas histórias, como o Um Anel de Sauron, que simboliza o pecado e a tentação, Sauron, que é símbolo do anjo caído, e Frodo, o sacerdote, que precisa subir um monte para destruir o mal, jogando o anel no fogo, assim como Jesus teve que subir o monte do Calvário para nossa salvação. 

Em resumo, há muitos símbolos da fé católica nas histórias de Tolkien, mas para mim, o principal aspecto de suas obras ligado à fé são a pequenez e a misericórdia divina. Em diversos momentos das histórias, no meio de grandes personagens e atos, Tolkien faz questão de demonstrar que no final, é o pequeno e simples que afasta o mal de nossas vidas, um pensamento muito semelhante ao de Santa Teresinha, e também faz questão de demonstrar que apenas com nossas forças não somos capazes de lutar contra o mal, assim como Frodo não foi capaz de jogar o anel no fogo e precisou da misericórdia divina, vinda das mãos do “acaso”, incontrolável, para concluir sua missão.

Criação e Sub-Criação

Além de todos esses símbolos presentes nas histórias, podemos verificar a fé de Tolkien em sua própria percepção da criação de histórias. Para Tolkien, nós humanos não somos capazes de criar nada do zero; tudo já foi criado pelo Criador, e nós, criaturas, só podemos sub-criar. Ou seja, só podemos reorganizar as coisas já criadas para trazer um olhar específico para algo. 

Sendo assim, Tolkien acredita que apenas seguimos os desígnios do Senhor e estamos sempre sob a jurisdição de Deus. 

Em suma, são muitos os símbolos contidos nas histórias deste grande autor. Seria impossível listar todos e descrevê-los, mas é um fato que por trás das fantásticas histórias deste homem, ele as encheu de sua fé. Espero que da próxima vez que você entrar em contato com o mundo de Tolkien, você o veja com um olhar atento. Não só vendo as aventuras e a diversão, mas também a fé e a Verdade por trás delas.

 

José Henrique Botelho 

Postulante Comunidade Católica Pantokrator 

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