Esta é uma pergunta importante para refletirmos de tempos em tempos: “Sou um cristão perseguido ou um chato excluído”?
Sabemos que estamos em tempos cada vez mais difíceis para os seguidores de Cristo, pois a sociedade tem escolhido rumos opostos a esses preciosos ensinamentos. E isso resulta em algo que Jesus já nos alertou: a rejeição por parte deste mundo. Por outro lado, diante de algumas dificuldades que enfrentamos no relacionamento com aqueles que não compartilham da mesma fé, corremos o risco de “fazer vista grossa” às nossas incoerências de vida, e preferimos nos autodenominar “um cristão perseguido”. Afinal, é muito mais “bonitinho” ter esse título, do que reconhecer que, por trás de muitas destas dificuldades citadas, se encontra a nossa indesejável “chatice”!
Leia se tiver coragem…
Não queremos, com este texto, JUSTIFICAR a atitude de exclusão ou perseguição, mesmo diante de nossas “chatices”. Independente de portar uma fé, o respeito humano deveria ser exercido por qualquer pessoa, e se estender a todos.
O objetivo aqui é que cultivemos esse movimento de reconhecer, diante de situações de hostilidade, se ela se dá pura e simplesmente por um “preconceito anticristão”, ou se há algum comportamento recorrente em nós que atrai (mesmo que erroneamente) essas determinadas atitudes alheias.
Com essa visão, podemos ir além, ser mais fecundos para o Reino. Atrair as pessoas para Cristo, já que sem essa visão, corremos o risco justamente de afastá-las!
O que leva o mundo a perseguir os cristãos?
O fato de este mundo estar sob a influência do inimigo de Deus faz com que os cristãos sejam “inconformados” a muitos valores propagados. Com isto, nos tornamos verdadeiras “pedras no sapato” daqueles que lutam para difundir tais valores.
Disse Jesus: “O meu Reino não é deste mundo (…)” (Jo 18,36a). Ele também nos alertou de que seríamos perseguidos por causa de Seu Nome.
“O martírio é o ar da vida de um cristão, de uma comunidade cristã. Sempre haverá mártires entre nós: este é o sinal de que estamos seguindo o caminho de Jesus.” (Papa Francisco)
Lembrando que esse “martírio” pode ser sangrento ou “invisível” (por meio de gestos discretos, mas que provocam grande “dores” em nossas almas).
O que faz de nós cristãos chatos?
O nosso erro acontece quando nos desviamos do caminho do Amor. Todo o nosso viver e agir devem ser NO Amor, COM Amor e PARA o Amor. Caso contrário, tudo fica deturpado!
Vejam: somos chamados a exortarmos uns aos outros, edificando-nos na Verdade. Mas, se a nossa intenção com a exortação for outra que não seja o amor e a edificação, podemos ser movidos pela ARROGÂNCIA!
Quantas vezes somos HIPÓCRITAS, e julgamos uns aos outros! Ou então somos TÍBIOS! Neste sentido, Jesus disse: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.” (Mt 5,13)
E quando somos movidos pela VAIDADE, todos a enxergam, exceto nós mesmos!
São Francisco de Sales nos diz: “(…) Muito defeituosa é aquela SEVERIDADE de alguns espíritos rudes que nunca querem permitir um pouco de repouso, nem para si nem para os outros. Passear, para espairecer um pouco, divertir-se numa conversação animada e agradável, (…) basta a prudência vulgar que regra todas as coisas segundo a ordem, o lugar e a medida conveniente”.
Ele ainda nos aconselha: “Os jogos e a dança podem ser aconselhados pela prudência e discrição como uma condescendência com a sociedade em que estiveres; porque a CONDESCENDÊNCIA, sendo um ato de CARIDADE, torna as coisas indiferentes boas e até pode permitir outras perigosas. Chega mesmo a tirar a malícia de algumas que, de algum modo, são más, se partilhadas por uma justa complacência com o próximo”.
Quer ser um autêntico seguidor de Cristo?
Entendo perfeitamente que é difícil olhar para nós mesmos e identificarmos questões tão indesejáveis. Mas esse exercício requer um desapego de nosso conforto e nos remete à “peregrinação”, vivida pelos grandes escolhidos de Deus: Abraão, Moisés, a Sagrada Família… Enfim: é marca do Povo de Deus “perder-se no deserto” para encontrar o rumo da Vontade de Deus.
Se toda dificuldade, por menor que seja, pode ser comparada a uma “cruz”, que tal a “abraçarmos”, seguindo as “pegadas” de nosso Divino Mestre? Seja a cruz de um real cristão perseguido, seja a cruz de enxergar em si o que não se quer ver. Essa atitude “autentifica” a nossa identidade cristã. E dá sentido ao nosso viver, pois, por meio da Cruz, contribuímos para a Salvação do mundo!
Luiza Torres
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator