Sou capaz de acolher o meu próximo?

Para a maioria de nós, ouvir a expressão “acolher o próximo” pode remeter a um ato de caridade, generosidade e educação. Uma ação externa que nos encaixa no “politicamente correto”, permitindo que possamos nos sentir parte de um todo, sem distinções. Mas, será que é só isso?

Quando Nosso Senhor nos exalta em Mateus dizendo: “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.“(25, 40), Ele nos ensina que acolher o próximo é acolher o próprio Cristo.

A quem devo acolher?

Quando pensamos em acolher o próximo os primeiros que vislumbramos são aqueles realmente próximos. Meus pais, irmãos, meu esposo, esposa, filhos e amigos. Mas certamente, o Senhor não se referia a estes. Caso contrário, o que estaríamos fazendo de diferente daqueles que não creem em Cristo.

Para nós, chamados a ser imagem de Cristo, somos desafiados a acolher aqueles que jamais pensaríamos em ter como próximo. Não somente como um ato de integrar as “minorias”, mas sim estar atento aquele que o Senhor vai nos confiar. Sem prejulgamentos ou estereótipos. Pode ser que o próximo seja o colega de trabalho que se senta na mesa ao lado e que aparentemente está super bem. Pode ser aquele parente, aquele vizinho ou só alguém que precisava de ajuda para atravessar a rua.

Já faço a minha parte! Será?

Pode ser que já saibamos de tudo isso que foi dito. Pode ser até que já façamos alguma obra ou serviço para os mais necessitados. Mas será que encontramos o verdadeiro sentido? Será que vivemos como oferta de nós mesmos ou só um ato legalista para cumprir o protocolo? Tenho dado aquilo que o outro precisa ou só o que me sobra?

A correria do dia a dia e a vida agitada que temos levado, pode nos lançar na direção do egoísmo, onde posso justificar a minha conduta nos mil afazeres e obrigações que preciso fazer. Não digo que é errado ou ilícito ter compromissos, faz parte da nossa realidade. No entanto, é preciso estarmos atentos se não estamos gastando a nossa vida somente nas coisas passageiras. 

O trabalho é bom e necessário, mas será que a oportunidade de ouvir, por alguns instantes, uma daquelas histórias de um idoso simpático não valerá muito mais? será que se deixarmos de assistir aquela série por uma noite, para fazer um trabalho de caridade, não nos fará muito mais felizes e realizados?

O Senhor não nos coloca pesados fardos.

Ele nos oferece oportunidades de sairmos de nós para irmos ao encontro do outro. E nesta dinâmica encontramos algo que é muito maior, mais gratificante e encorajador. 

O ato de acolher alguém pode parecer que se trata de algo que vou dar, algo que vou oferecer ao outro. Mas se prestarmos bem a atenção, ao “acolher”, estamos recebendo muito mais do que dando. Ao acolher um abraço, estamos recebendo afeto, um necessitado, estamos recebendo gratidão. Ao acolher o indefeso, estamos recebendo amor. 

Que possamos estar atentos e dispostos a acolher aqueles que o Senhor nos apresentar como próximos. Certamente colheremos frutos de amor e gratidão.

Vanessa Cícera
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator